Encontrei-me com Alfonso no estábulo, Storm já estava selado e pronto para o passeio. De repente, minha coragem vacilou. Storm era grande e assustador demais.
Vi um sorriso desafiador se espalhar nos lábios de Alfonso. E então, me apoiei em seu ombro e subi colocando um pé no estribo, toda desajeitada. Alfonso montou com a elegância de quem montava desde os dois anos de idade.
Storm se comportou como um verdadeiro cavalheiro, trotando suavemente, me deixando mais à vontade depois de alguns minutos, e os braços de Alfonso firmes em minha cintura me mantiveram no lugar.
— Para onde estamos indo? — perguntei, quando não podia mais ver a casa, apenas mata e árvores.
— Não sei bem. Por ora, Storm apenas me permite montá-lo, mas ainda é ele quem decide para onde ir.
Eu ri.
— Muito útil ter um cavalo que não obedece aos comandos.
— Foi muito útil na noite de sábado. — ele não sorriu. Não achava engraçado.
Alisei a crina de Storm.
— Valeu pela ajuda, amigão. — sussurrei para o cavalo. — E obrigada por não ter derrubado Alfonso
Dessa vez, Alfonso riu.
Depois de um tempo, comecei a reconhecer o caminho, e soube para onde Storm estava me levando. Exatamente para o mesmo lugar onde me encontrou no sábado. Para minha pedra. Paramos um pouco mais adiante, debaixo da árvore.
— Acho que aqui é de alguma forma, o nosso lugar. — disse, depois que Alfonso soltou a rédea e Storm saiu trotando feliz.
— De alguma forma. — concordou.
Ele apoiou as costas na árvore e eu me sentei ao seu lado.
— Sabia que gosto muito deste vestido? — ele disse, me encarando com um sorriso no rosto. Eu vestia o vestido, vinho que tinha a cicatriz das linhas de Madalena na bainha fechando o buraco que abri quando tentei sair do estábulo há alguns dias atrás.
— Obrigada. — eu disse, numa mistura de embaraço e prazer.
Ele tocou minha testa, depois suspirou aliviado.
— Eu estou bem. Pode parar de se preocupar, por favor? — resmunguei.
— Desculpe-me, mas não posso! — e me lançou um olhar que implorava compreensão.
Eu ri.
Peguei minha bolsa e mostrei a ele as coisas que tinha comigo, algumas delas Alfonso já tinha visto naquele dia em que lhe dei a caneta, mas dessa vez expliquei para o que serviam: maquiagem, as chaves de casa, e o maldito sachê de ketchup! Rasguei a embalagem, coloquei um pouco no dedo e ofereci.
— Prove. — estiquei o dedo.
Ele não hesitou. Rapidamente, pegou minha mão e levou meu dedo a boca.
Claro que todo meu corpo acordou imediatamente com o contato.
— Hum! É meio doce e... azedo!
— É. Fica gostoso em sanduíches e eu amo com batata frita.
— Ficou gostoso com dedo também. — disse ele, brincalhão.
Eu ainda ria quando peguei o celular. Era isso que eu queria mostrar a ele mais que qualquer outra coisa.
— Meu celular. — estiquei a mão.
Ele pegou o pequeno retângulo reluzente. Seu rosto ficou muito sério. Alfonso virou o aparelho muitas vezes nas mãos, analisando cada linha, cada detalhe.