Acordei cedo outra vez e percebi por quê isso estava se repetindo todas as manhãs desde que cheguei ali. Havia muito barulho. Os malditos pássaros não calavam a boca!
Eu já estava habituada aos barulhos de pneu freando bruscamente, buzina, o zum-zum-zum das pessoas e todo tipo de som que entrava pela janela do meu apartamento, mas ali, aquele delicado cantarolar dos pássaros acabava me acordando simplesmente por não estar habituada a ele.
Como havia prometido, Alfonso já estava pronto para me levar até a vila quando o encontrei na mesa do café. Fui informada que Maite e Teodora já haviam se levantado e saído. Teodora tinha ido até sua casa avisar a família sobre o assalto. Fiquei com pena dela por um momento. Ela estava realmente assustada e eu sabia bem que não havia motivo algum para isso.
—Como lhe prometi ontem, já estou pronto, mas minha irmã e Teodora usaram a carruagem, então, se não quiser ir até a vila a cavalo, teremos que esperar que elas retornem.
—Não! Santiago disse que vai viajar esta tarde, eu tenho que encontrá-lo antes disso! Se você não me deixar cair, não vejo problema.
Ele sorriu
—Eu jamais a deixaria cair. Estará segura em meus braços. — Alfonso se curvou e saiu, provavelmente para preparar o cavalo.
Só então percebi que a viagem seria mais íntima que na carruagem. Lembrei-me com clareza de quando nos conhecemos e ele me levou até sua casa em seu cavalo. Aproximidade de seu corpo me perturbou muito, e agora eu viveria a mesma experiência, numa viagem mais longa, e entendia um pouco melhor as sensações perturbadoras queAlfonso me causava.
Pensei que não seria capaz de voltar a respirar outra vez.
Encontrei Alfonso na porta da casa com o cavalo marrom claro selado e pronto. Ele me ajudou a subir, mas, ainda assim, fiquei com medo de cair. Alfonso habilmente montou no cavalo e passou um dos braços seguramente em minha cintura.
Concentrei-me apenas em respirar e olhar para frente. Já estávamos na estrada quando ele resolveu falar.
—Creio que não esteja habituada a passeios como este. —Acertou em cheio. —Sabe, senhorita, estou cada vez mais curioso a seu respeito.
Eu não disse nada, apenas olhava para frente temendo cair de cara no chão.
—Estou fascinado com sua determinação. —Ele continuou.
—Determinação. —Zombei. —Acho que a palavra certa pra isso é teimosia!
Ele riu, muito próximo do meu pescoço. Estremeci.
—É uma boa palavra, lhe asseguro. — Disse ele.
Tentei me distrair dos tremores e arrepios observando a paisagem. De alguma forma, as pequenas montanhas me eram familiares. Eu tinha a impressão de que não havia sido transportada para um lugar diferente, apenas para um tempo diferente, mas não dava para ter certeza, não sem as favelas e os bairros, as ruas ou os prédios sobre aquelas terras.
Alfonso pareceu muito satisfeito quando me desceu do cavalo ao chegarmos à vila. Quase presunçoso até. Um sorriso teimava em não deixar seus lábios. Não perguntei o motivo, não tinha certeza se gostaria saber o que o deixara tão feliz.
—Aonde pretende ir agora? — Ele perguntou.
—Sei lá. Que tal irmos até a pensão? Deve ser o lugar mais provável para encontrá-lo.
Alfonso assentiu e me ofereceu seu braço. Eu o peguei sem reclamar, sabia que ele insistiria até que eu aceitasse. Partimos em direção a pensão, mas não foi necessário irmos até ela.