"Isso não está acontecendo! Isso não está acontecendo!"
Repeti a frase para mim mesma na última meia hora, tentando desesperadamente me convencer de que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Tinha que ser um pesadelo! Que outra opção eu tinha?
Demência?
Era uma opção a ser considerada. Mas eu a deixei de lado rapidamente, já que todas as outras áreas de meu cérebro pareciam funcionar normalmente. Não me sentia embriagada. Não mesmo! O nó em meu estômago era prova de que eu já estive embriagada e agora estava na fase dois: a ressaca. Talvez a pancada na cabeça fosse a explicação. Talvez tivesse batido a cabeça com muita força e algum fio importante tivesse se soltado lá dentro e agora eu estava criando essas alucinações. Mas parecia tudo tão real! Como a cama imensa na qual me obrigaram a deitar ou o médico magricela que saiu do quarto enorme (de paredes verdes e altas) por uma porta dupla imensa há alguns minutos.
Ou a mulher baixinha —Os cabelos presos num coque bem feito, usando um vestido longo e bufante —que abriu a porta e ficou horrorizada quando me viu ao lado do rapaz. Ou os móveis antigos da sala gigantesca pela qual entrei, ou aquela casa imensa com aparência de museu, só que tudo era novo, sem desgaste do tempo. Ou as duas garotas de cabelos arrumados e roupas de princesa que me observaram assustadas.
Claro que tinha uma explicação razoável para tudo isso escondida em algum lugar. Tinha que ter. Virei-me de um lado para o outro no colchão gigante e espantosamente duro tentando encontrar uma explicação lógica e sensata, mas não conseguia pensar em nenhuma. Parecia que meu cérebro não era mais capaz de fazer ligações coerentes.Humm. . .Talvez devesse reconsiderar a demência. Uma batida sutil na porta me tirou do turbilhão de pensamentos.
—Hum... Entre? —O que mais eu poderia dizer?
O rapaz que me trouxe até ali entrou no quarto, o rosto sério.
Alfonso Herrera. Agora sabia o nome da minha primeira alucinação.
—Como está se sentindo, senhorita, Anahí? —Ele parecia desconfortável, ali em pé ao lado da cama.
—Estou bem. O médico só encontrou um galo na minha cabeça, o corte foi superficial. Nada de mais. —Nada além de terem me dito que estávamos há dois séculos daquele em que eu vivia. Nada de mais. Tudo normal!
—Fico feliz em ouvir isso. —Ele pareceu sincero.
Fiquei surpresa que um estranho se preocupasse comigo daquela forma. Fiquei olhando pra ele como uma idiota. Ele me lembrava os mocinhos dos meus romances. Seria isso? Eu bati forte com a cabeça e estava fantasiando? Mas, se fosse isso,por que eu também não me parecia com uma das heroínas desses livros?
Alfonso ficou um pouco constrangido. Também pudera eu o encarava como se ele fosse um fantasma ou uma assombração! Depois de limpar a garganta e parecer não saber onde colocar os braços —acabou cruzando atrás das costas —ele me perguntou com a voz instável:
—Gostaria de comer algo? Posso pedir para a senhora Madalena para trazer-lhe alguma coisa.
—Não, não. —Apenas a menção da palavra comida fez meu estômago se revirar. —Eu tô legal.
—Legal? —Me olhou intrigado. —A senhorita tem uma maneira muito peculiar de se expressar.
Eu não tinha, não
—Acho que posso dizer o mesmo. Você fala tipo meu avô! —Disse, um pouco ofendida.
—Tipo? Hum... É algo bom?
Ah, meu Deus!
—É como dizer que você fala como meu avô. —Expliquei. Se eu realmente estava criando as alucinações, poderia ao menos criá-las de forma que compreendessem o que eu dizia.