Encontrei Madalena em meu quarto deixando um vestido rosa sobre a cama.
—Oh! Senhorita Anahí. Acabei de ajustar o vestido. Ficará muito bonita com ele. —Ela exclamou, colocando as mãos sobre o peito.
—Obrigada, Madalena. Eu disse a Maite que não era necessário, mas ela não me deu ouvidos.
—Que bom! Uma jovem como a senhorita precisa se vestir à altura de sua beleza. E este aqui é um dos mais bonitos! Sei que Maite usou este vestido apenas uma vez. Ninguém notará.
—Não ligo para isso. —Eu dei de ombros.
Quando se vivia com um salário apertado como o meu, se aprendia a aproveitar todas as roupas de formas muito criativas. E, apesar de estar em outro século, eu aindacontinuava pegando roupas emprestadas das amigas.
Um ciclo que nunca teria um fim, ao que parecia.
—Quer que eu lhe ajude, senhorita? —Ofereceu.
—Não, Madalena. Eu me viro bem sozinha
—Como quiser. —Ela hesitou. Parecia que queria me dizer mais alguma coisa e depois mudara de ideia.
—Tá tudo bem, Madalena?
—Eu... Queria saber se... A senhorita poderia me ensinar a fazer o condicionador. —Ela corou.
Eu ri.
—Ah! Você usou, então? —mulheres sempre seriam a mesmas com relação aos cabelos, não importava a década ou o século em que viviam.
—Nunca experimentei nada parecido! —Disse maravilhada. —Pode me ensinar?
—Claro, Madalena. Amanhã eu faço mais e você presta atenção, pode ser?
—Certamente. —Exclamou satisfeita. Ajeitou as saias, olhou para ver se estava tudo em ordem e saiu do quarto. —Se precisar, estou às ordens, senhorita.
Observei o vestido bordado, toquei as pequenas contas transparentes com as pontas dos dedos. Um vestido tipo princesa de conto de fadas, bufante com alças largas que caiam nos ombros. Essa seria uma das coisas que eu não sentiria saudades quando voltasse para casa, os vestidos longos. E a casinha, acrescentei rapidamente a lista.
Comecei a me produzir, primeiro colocando o vestido e me sentindo um gigantesco suspiro cor-de-rosa de padaria, em seguida, fiz uma maquiagem mais elaborada. Um pouco de sombra, um pouco de blush, batom e máscara para cílios. Queria ter algum delineador para fazer o contorno dos olhos, mas tive que me contentar em fazer um risco de forma imprecisa com o pincel para sombra daqueles curtos com duas esponjinhas nas pontas. Esfumacei tudo e ficou bastante razoável.
Depois, cheguei ao mais complicado: o meu cabelo. O que fazer com ele? Maite disse que as mulheres não iam, jamais, com os cabelos soltos. Na verdade, as mulheres jamais deixavam seus cabelos soltos na presença de outras pessoas homens, principalmente. Fiquei me olhando no espelho, tentando lembrar de algum penteado fácil de fazer.
Ah! Se a Dulce estivesse aqui! Mas eu estava sozinha e tinha que me virar do jeito que dava. E como não tinha muitas opções eu não sabia fazer muita coisa além de rabo de cavalo e coque, só que para isso, precisaria de alguns grampos e eu não tinha nem um resolvi fizer uma trança lateral meio frouxa. Alguns fios ficaram soltos, mas achei que ficou bem bacana. O elástico preto destoava um pouco, mas dava para disfarçar colocando uma flor sobre ele, e foi exatamente o que fiz. Peguei uma flor branca do vaso do corredor e a prendi no elástico. Eu estava usando uma flor no cabelo! Agora tinha chegado ao fundo do poço.