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Não voltei a casa dele outra vez. Não podia suportar ouvir seus descendentes contarem histórias sobre seu desespero e, pior ainda, falarem dele como se estivesse morto. Ele não estava morto!

Parte de mim tentava ser racional e entender que ele nascera há mais de duzentos anos e que, a essa altura... Mas ele não estava morto! Eu sabia disso. Tinha certeza! Ele ainda vivia em algum universo paralelo estranho e incompreensível, mas vivia!

Meus dias se tornaram nulos, nada importante acontecia. Ou eu é que não percebia mais os problemas à minha frente. Todos os dias passava horas sentada no banco perto do cedro imenso, lembrando dos momentos mais felizes que tive na vida. Gostava daquele lugar. Era minha ligação com Alfonso. Nosso lugar especial. Ficava ali por horas ouvindo nossa música.

Peguei carona no carro com a noiva para ir até a igreja no grande dia. Dulce estava deslumbrante! Seu vestido simples e elegante ressaltava ainda mais sua pele cor de chocolate. Ela estava radiante e mais linda do que nunca.

Fiquei feliz demais ao ver os pais dela ao seu lado no altar. Ambos pareciam acanhados e ainda se via uma pontada de ressentimento em seus olhos, mas eles estavam ali, era o que importava. Talvez quando vissem o quanto Christopher amava Dulce, o quanto ele se preocupava com ela, talvez acabassem gostando dele. Pelo menos um pouquinho.

A cerimônia foi perfeita e eu acabei chorando, o que não era comum para mim. Até bem pouco tempo, casamentos não me emocionavam, me deixavam apavorada. Percebi depois que não fui a única a chorar. Christopher tentou bravamente esconder as lágrimas, mas, depois de um tempo, ficou muito evidente em seus olhos inchados. Tive a impressão de que ele amava Dulce muito mais do que deixava transparecer.

Tirei centenas de fotos com meu novo e simples celular na deliciosa recepção. Mas quando os noivos assumiram o centro da pista de dança para a valsa, tive que sair dali. Não dava para não pensar em Alfonso vendo os dois rodopiando apaixonadamente pelo salão.

Dulce praticamente me acertou com o buquê — de rosas azuis — deixando várias garotas com cara de desapontadas.

—Te trará sorte. — ela disse sorrindo.

— Tomara. Eu tô mesmo precisando de um pouco pra variar. — sorri um pouco. Mas não precisava ter escolhido as flores azuis por minha causa.

— Mas eu quis flores azuis! Não tem nada a ver com o que a Mãe Cleusa te disse. Eu quis!

— Sei. — retruquei desconfiada.

Dulce tentava me animar de toda forma nos últimos dois meses. Eu tentava demonstrar um pouco de entusiasmo quando estava perto dela, mas parecia que eu não tinha mais esta capacidade.

— Anahí será que não seria melhor se... — ela começou insegura. — Sei lá... você tentasse... esquecer?

— Não! Eu não quero esquecer. Não consigo esquecer o que vivi com Alfonso seria como... Como tentar alimentar um tubarão só com legumes. Não dá! Eu não... Eu só...

— Desculpe, eu não queria te deixar nervosa. Só queria que pudesse ser feliz de algum jeito.

— Valeu, Dulce, mas não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem.

Ela não disse nada, apenas me encarou. Não acreditou na minha mentira deslavada. Era inútil tentar esconder qualquer coisa dela

— Eu vou ficar bem. Você vai ver! — emendei, tentando parecer mais segura.

Peguei minha bolsinha sobre a mesa e meu buquê.

— Tem certeza que não quer ficar um pouco mais? Ainda vai demorar um pouco para sairmos para a nossa lua de mel. — Dulce revirou os olhos.

Perdida AyA - (Adaptada) - FinalizadaWhere stories live. Discover now