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No entanto, não ficamos totalmente "sozinhos". A cada minuto, um empregado aparecia com um suco, ou um chá, ou apenas para saber se eu estava bem. Madalena devia ter percebido nosso envolvimento. Imaginei que Alfonso não tivesse se preocupado em esconder nosso relacionamento enquanto eu ardia em febre.

— Então... — Alfonso começou quando ficamos sozinhos outra vez. — Como é o futuro?

Não pude deixar de sorrir da curiosidade latente em seus olhos.

— É muito diferente disso aqui. Mais simples em alguns aspectos, mais complicado em outros. Tem suas vantagens, mas também desvantagens.

— Como o que? — perguntou divertido.

— Como se locomover, por exemplo. Imagine uma carruagem sem cavalo, movido por um tipo de máquina a óleo e que anda muito rápido. Com um desses, chegaríamos à cidade em uns trinta minutos.

— É mesmo? — sua testa vincada.

— Dependendo do motor, pode ser até mais rápido!

Expliquei mais detalhadamente sobre os carros, sobre o metrô, as motos, os aviões. Ele sempre tinha uma pergunta sobre tudo, principalmente sobre o avião. Ficou fascinado que realmente pudesse voar e acabou um pouco decepcionado quando eu não soube responder como tanta ferragem podia realmente flutuar no céu.

Revelei a ele como era a vida das pessoas, sempre corrida com tantas obrigações que mal sobrava tempo para diversão. E quando ele me perguntou como eram as pessoas no futuro e eu disse: "São assim como eu.", ele gargalhou alto e respondeu."Então deve ser muito conturbado por lá ". E eu corei porque, na verdade, ele não errou muito.

Narrei a ele como eram as mulheres em meu tempo. Ele ficou horrorizado ao saber que mulheres também usavam calças, que dividiam a conta no restaurante, que muitas delas eram as provedoras financeiras de suas casas. Falei também sobre os homens e suas roupas, o futebol da quarta-feira, a cerveja do fim de semana, como flertavam com as mulheres. Dessa vez, foi ele quem corou.

Contei sobre os filmes, as peças de teatro, as música que eu gostava. Alfonso pareceu gostar e tentei muito explicar a ele como eram os shows de rock, mas envolvia muita coisa que ele não conhecia. Fiz o melhor que pude, contudo, acho que ele não entendeu direito.

Falei sobre a comida e o quanto eu sentia falta do gelado: bebida, sorvete, sobremesa e contei sobre o disk-pizza, sobre lojas de departamento, computador, meu emprego. Expliquei quase tudo que achei relevante, desde utensílios domésticos, como a cafeteira elétrica, até sobre coisas mais banais, como acender uma lâmpada. Alfonso parecia fascinado com tudo. E eu fiquei feliz por ele não me olhar mais como se eu fosse uma maluca.

Precisei interromper minha aula sobre o futuro, já que Madalena e alguns empregados apareceram com vários baldes de água para o meu banho. Alfonso não queria sair do quarto, estava preocupado que eu pudesse precisar de ajuda.

— Mas eu ficarei aqui com ela, patrão. Vá jantar com sua irmã. Já é tarde! — Madalena o persuadiu.

— Pode ir, Alfonso. Eu to bem, — assegurei a ele, vendo a dúvida em seus olhos.

Ele me deu um beijo na testa, sem se importar com a presença de Madalena e saiu, claramente insatisfeito. Não deixei de notar o olhar de desconfiança que ela lançou para ele.

Madalena ficou ali para me ajudar, mesmo quando insisti que não era necessário. Ela evitou me olhar enquanto eu tirava a roupa e depois me ajudou a sair da banheira.

Vesti a camisa manchada de Alfonso. Já começava a escurecer e eu logo acabaria dormindo de toda forma. Ela não gostou muito, nada para dizer a verdade, minhas pernas ficavam muito expostas — mas, como eu não tinha muitas outras opções, acabei convencendo-a que ficaria debaixo dos lençóis, que ninguém veria nada e ela acabou cedendo.

Perdida AyA - (Adaptada) - FinalizadaWhere stories live. Discover now