Chegamos perto das seis horas ao grande teatro. Um dos lugares mais lindos em que já estive na vida. Muito luxuoso, com paredes revestidas de madeira cor de mel e detalhes dourados, o teto segurava um lustre de cristal gigantesco com centenas de velas, a balaustrada delicada coberta por mais ouro e os assentos revestidos por um tecido vermelho escuro talvez veludo deixava o balcão onde estávamos com aspecto elegante e charmoso. Sentei-me ao lado de Teodora, na fila de três cadeiras da frente, com Alfonso bem atrás e Maite ao seu lado.
A viagem foi longa, demorou muito para chegar até a cidade. Não que fosse tão longe assim, mas a carruagem ficou mais pesada com quatro adultos no seu interior e se arrastava a meros quilômetros por hora. Falei pouco, quase nada, durante a viagem. Ainda estava muito assustada com o meu comportamento ou com a falta dele. E se alguém nos visse agarrados daquela maneira? E se Maite tivesse visto? Tentei muito não olhar para Alfonso. Não queria ver a pergunta ainda em seu rosto. Por que não vive o presente? Eu não sabia o que responder, nem para mim mesma.
Entretanto algumas vezes meus olhos vagavam por vontade própria em sua direção e, em todas as vezes, encontrei seus olhos me observando atentamente . Eu mal sabia dizer como havíamos chegado até a cidade, não consegui prestar atenção em nada além de Alfonso. Até mesmo Maite notou, percebi isso depois que saímos da carruagem, quando se afastou um pouco do nosso pequeno grupo e me puxou junto com ela.
—Você e meu irmão brigaram?
—Claro que não —Assegurei a ela.
Ela sorriu um pouco.
—Oh! —E seu rosto se iluminou.
—O quer dizer com "Oh"? — não gostei do brilho em seu rosto.
—Não é nada. Apenas nunca vi Alfonso ficar tão perturbado na presença de uma dama como ele fica quando você está presente. —Outro sorriso, dessa vez um enorme.
—Maite, eu não... —mas eu não sabia o que dizer a ela, e nem tinha certeza se não queria realmente perturbá-lo.
—Não seja tola, Anahí. Você não tem culpa se ele se apaixonou por você, tem?
Meu queixo caiu. Tentei pensar em algo que contradissesse sua suposição, mas não fui capaz. Alfonso não estava apaixonado por mim. O que sentia era atração física muitoforte e incontrolável, ao que parecia, mas apenas isso. Ao menos, era o que eu pensava. E depois não pude mais explicar que ela estava enganada, já que Alfonso e Teodora sejuntaram ao nosso pequeno grupo.
Esforcei-me muito para não me virar e observá-lo de vez em quando. E dessa vez, consegui por um tempo. Em parte porque a orquestra começou a tocar e prendeu minha atenção, mas, assim que a cortina se abriu e os atores começaram a atuar, percebi que não entendia absolutamente nada. Maite discretamente me entregou um pedaço de papel, um tipo de programa como aqueles de desfile de carnaval que explicam as mias e alegorias que gente normal como eu nunca conseguia encontrar sentido. Analisei o papel sob vários ângulos.
—Também está em italiano! —Murmurei.
—Mas é claro que está, minha cara. Toda ópera é em italiano!—Teodora sussurrou, um pouco irritada pela interrupção.
—Você não consegue acompanhar? —Maite perguntou. Suas sobrancelhas quase unidas indicavam que eu deveria saber italiano.
—Não! —Rebati. —É sobre o que?
Maite se inclinou um pouco, recuando logo em seguida, assim que viu Alfonso fazendo o mesmo. Ele estava bem atrás do meu assento, ficava mais fácil se comunicar sem atrapalhar as outras pessoas. Sua mão quente nas costas da cadeira roçou em minha pele, sua boca se aproximou de minha orelha e o calor de sua respiração queimou minha concentração.