Do corredor, ouvi uma melodia muito agradável e, hipnotizada, segui o som até chegar à sala de música. Maite tocava harpa. Assim que me viu, parou de tocar e começou a se levantar.
—Por favor, não pare! Toque mais um pouco, Maite. Sinto tanta falta da música!
Ela sorriu.
—Bom dia, Anahí. Alguma música em especial? —Maite perguntou me mostrando suas covinhas.
—Não. —Sacudi a cabeça. —Toque as que você mais gostar. —eu não conhecia muita música clássica de toda forma. Ela começou uma melodia animada. As notas doces da harpa faziam a música parecer algo celestial, delicado e puro.
Sentei-me na cadeira perto de Teodora. Pensei que seria rude de minha parte me sentar do outro lado da sala.
—Bom dia, senhorita Anahí. —Ela disse.
—Bom dia, Teodora. Como está?
—Estou muito bem, senhorita. Ainda mais agora que o baile se aproxima! Estou tão ansiosa para conhecer o filho de Lady Catarina! —Seu sorriso enorme.
—Legal! —Concordei.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas ouvindo a melodia que enchia toda a sala.
—Posso lhe fazer uma pergunta, senhorita? —Ela parecia insegura.
—Claro, Teodora.
Ela titubeou um pouco, e depois começou.
—Gosta dele, não é? —Eu sabia a quem ela se referia.
—É claro que eu gosto. Gosto de todos aqui.
Ela sacudiu a cabeça.
—Não, senhorita Anahí. Refiro-me a outro tipo de afeto, de gostar romanticamente. Você gosta dele dessa forma, não é?
—Eu... Por que quer saber?
—Por que estimo muito a família Herrera. Não quero vê-los magoados. —Seus olhos pareceram sinceros.
—Nem eu, Teodora. —Suspirei. —Nem eu.
—Mas eu notei como ele olha para você. E depois do que vi ontem na carruagem... Ele a estima de uma forma única. O conheço há muito tempo para saber que está encantado com sua pessoa. Apaixonado, talvez.
Não respondi. Remexi nervosamente na saia do vestido.
—Sei que pretende ir embora logo e ele sofrerá muito com isso. —Teodora concluiu.
Eu sabia disso. Sabia muito bem! Apenas assenti sem ter nenhuma outra resposta para ela.
—Então, eu queria lhe pedir que não o engane. —Sua voz estava muito séria, sem aquele tom cínico que ela usava frequentemente quando falava comigo.
—Não vou! Jamais poderia enganá-lo. —Apressei-me. —Eu queria muito que as coisas fossem diferentes —como no sonho daquela noite, talvez. —Mas não posso controlarnada. Acredite! E ele sabe que partirei logo, de toda forma. Não estou enganando ninguém.
Ela assentiu também, os olhos em Maite.
—Se não precisasse partir, você ficaria aqui? —Ela indagou,
—Eu.. Eu...
Ficaria? Abriria mão de tudo para ficar presa ali? Não podia responder a isso. Eu tinha minha vida, meus amigos, meu emprego. Não podia largar tudo e simplesmente viver no passado, ainda que isso fosse possível. Mas pensar em ir embora e nunca mais ver Alfonso era doloroso demais, impossível. Perder Alfonso seria insuportavelmente excruciante