Capítulo 21

85 25 87
                                    

Escutava alguém me chamar pelo meu nome no fundo de minha mente, me remexia na cama, não queria acordar, mas a voz era insistente. Abri os olhos lentamente, Gard olhava para mim sorrindo de um jeito fofo, empurrei seu rosto com uma das mãos, sua doce risada chegou aos meus ouvidos.

- Estava ficando preocupado. - a risada parou de maneira brusca, seus olhos voltaram a me encarar. - Vou buscar algo para você comer.

Assim que ele passou pela porta forcei meu corpo a se levantar. Arrastei meus pés até o banheiro, precisava de um banho. Fui até o tablet do banheiro e ajustei o meu banho, retirei toda minha roupa, entrei na água morna do chuveiro que me aquecia por inteira, o tablet apitou, e em menos de cinco segundos a água se misturou ao sabão, gostava daquela fragrância adocicada, mesmo já estando com energia o suficiente para não dormir por uns dois dias, minha mente parecia não esquecer o que tinha acontecido, deixei minha mente vagando durante o banho, não queria pensar nisso agora.

Já tinha terminado meu banho e trocado de roupa, Gard ainda não tinha voltado da cozinha, andei até a pequena sacada do meu quarto, me sentei na mureta, olhando para baixo tudo parecia tão pequeno, subi meus olhos para o teto brilhante da caverna, me sentia presa, não só me sentia, eu estava, não entendia minhas restrições, não poder sair quando quiser, sempre tinha que ficar sendo vigiada, por isso tentei fugir uma vez, mesmo sendo em vão foi uma das melhores coisas que já tinha feito.

- Catherina cuidado!

Olhei para trás, Gard estava com uma bandeja nas mãos. Ajeitei a coluna e estiquei minhas mãos para o alto, lentamente me inclinei para trás, minhas mãos foram as primeiras a chegar ao chão, elas me impulsionaram ao ar, com um pequeno giro meus pés chegaram ao chão, eu estava pé ainda de costas para Gard.

- Não sabia que ainda praticava ginástica.

- Estava pensando em voltar a praticar, talvez isso me ajude nas lutas.

Me virei para Gard, ele estava arrumado como sempre, palitó, calça social e o cabelo alinhado.

- Achei que não chegaria mais.

- Desculpa a demora, mas se você não reparou a hora, todos já estão dormindo.

Olhei para o meu bracelete, já passavam das vinte e oito horas.

- Por que ainda está acordado? Parece que não gosta de dormir.

- Estou fazendo meu trabalho, com todos dormindo alguém tinha que cozinhar. E aliás, fiz torta.

Eu amava torta, sorri ao ver que na bandeja realmente havia torta, me aproximei da bandeja. Coloquei um pedaço generoso em um pratinho, com a ajuda de um garfo levei um pedaço da torta até minha boca, com certeza era uma das melhores tortas que já tinha comido.

- Não sabia que você cozinhava tão bem. - falei entre um pedaço e outro.

- Quando você nasceu minha mãe me fez aprender de tudo. Quem você acha que fez aquele vestido para você? Ou você acha que eu simplesmente o comprei? - olhei para ele. O vestido do baile de inverno veio na minha cabeça, pensei no tempo gasto para a fabricação do vestido, me senti mal, mas ao mesmo tempo feliz por ele ter feito aquilo por mim. - Não sei o que você está pensando, mas todas as suas roupas foram compradas, exceto dois vestidos.

Terminei de comer sentada a cama, Gard pegou a bandeja e me deixou sozinha no quarto. Me levantei e fui ao banheiro lavar minha boca, me aproximei da pia, abri o armário direto sem me olhar no espelho coloquei a pastilha dental de menta em minha boca, assim que a mordi a pastilha se tornou cremosa, bochechei o creme e o cuspi na pia, passei minha mão sobre a torneira que se abriu automaticamente e enxeu minha mão de água, minha mão foi de encontro a minha boca, cuspi a água na pia e fechei o armário. Sorri em frente aquele espelho, um sorriso falso estava estampado em meu rosto, olhei fixamente para espelho. Não pode ser! A imagem do espelho começou a mudar, não refletia a mim, era do Reino das Almas, eu reconheci o lugar na hora, coloquei minhas mãos no espelho, ainda era só um espelho, mas eu quero estar lá, com todas as minhas força eu queria estar lá. Eu quero estar lá, eu quero estar, eu quero estar lá, eu preciso estar. Queria voltar a me sentir daquele jeito, poderosa, completa... Olhava fixamente no espelho, não percebia que minhas mãos estavam trêmulas, a imagem deixou de ser um reflexo, eu estava lá, eu sentia. Fechei meus olhos enquanto dava um passo para trás, respirava de vagar, minhas mãos começaram a tremer, não tinha coragem de abrir os olhos.

- Catherine? - a voz de Gard vinha do corredor.

Abri os olhos, fiquei espantada com o que vi. Minhas mãos pouco brilhavam em lilás, elas estavam no ar na minha direção, no meio das minhas mãos estava um pequeno pedaço de um portal, eu conseguia ver o Reino das almas do outro lado, mas o pedaço do portal era muito pequeno, no máximo só passaria minha cabeça, estava tão perto! Passei minha mão esquerda pelo pedaço do portal, o frio percorria meus dedos assim como uma sensação estranha.

- Catherina está tudo bem?

Escutei um pequeno rangido da porta do quarto sendo aberta. Desci minhas mãos a altura do corpo, o pequeno rasgo no tempo e espaço que conhecíamos como portais começou a se fechar.

- Você está bem?

Gard estava parado em frente a porta do banheiro.

- Sim. Vamos.

Meus dedos ainda formigavam quando sai do quarto, me fazendo querer ainda mais voltar para aquele lugar.

As estrelas de MirOnde histórias criam vida. Descubra agora