Capítulo 24

65 17 81
                                    

Evitei o Erick por toda manhã, como ele não almoçava no refeitório pude finalmente focar meus olhos em um livro de magia avançada que tentava ler o dia todo.

- Drielly? - olhei para cima, Lest estava com os cachos amarelos presos, seu olhar era firme, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios  - Posso me sentar?

- É claro que sim.

Ela colocou a bandeja sobre a mesa de pedra transparente. Lest era de certa forma estranha, seu olhar rapidamente foi de seu prato a mim, me senti envergonhada de encara-la daquela forma.

- Não vai comer?

Olhei para a garrafa de vidro com suco pela metade.

- Não estou com fome.

Enquanto ela comia observei melhor sua aparência. Sua pele era um pouco avermelhada e algumas linhas azuis traçavam seu rosto e mãos. Nós duas conversávamos pouco, ela concerteza não era desse planeta, assim como muitos daqui. Nunca perguntei de onde ela veio, mesmo ao longo de dois anos de amizade, ela era simplesmente linda e misteriosa.

- Deveria comer, faz bem para o corpo.

Todas as vezes que eu encontrava com a Lest ela sempre estava comendo algo, ela provavelmente se mantinha magra pela aula de dança, pois nunca vi alguém comer tanto!

- Sei que você gosta de comer, mas comerei mais tarde.

Seus lábios se esticaram em um sorriso brilhante. Ela comeu em silêncio enquanto eu lia meu livro, depois que o sinal bateu segui em direção para próximo horário, a última aula seria com Catherina, sinceramente estava ansiosa para vê-la.

Depois da aula chata da professora Lis sobre as antigas deusas me dirigi a única aula em que eu fazia com a Catherina, fui a primeira a chegar como de costume.

- Acho que já sabe da novidade.

Olhei para o professor que foi até a mesa e pegou um grande arco, com mira de zoom avançado.

- O novo arco da Tailos. Estava ansiosa para por as mãos nessa gracinha.

Aproximei-me do professor, ele era mais alto que eu, com a pele parda da dar inveja assim como o corpo magro com músculos definidos. Como um elfo puro e tradicional ele não usava camisa em suas aulas, apenas uma calça cinza com detalhes em verde e alguns enfeites na cabeça. Ele esticou o arco para mim, o segurei firme sentindo seu peso.

- Acho que nunca vi um arco tão perfeito. - analisava o arco - Isso é linha de maridje! Aço da lua de Addomora e esse imã embaixo serve para a ajudar na estabilidade da flecha antes do disparo. - analisava o arco fazendo algumas menções em voz alta.

- Reparou em mais alguma coisa?

Do lado de fora do aro, meu nome estava marcado em uma letra formosa.

- Pra mim? - estava espantada, mas a felicidade era notável em meu rosto e voz.

- Os Jogos Continental Escolar e daqui a um mês, como você sabe cada aluno pode entrar em um módulo. Ano passado Bernard representava o tiro ao alvo com arco e esse ano será você.

Sorri com a notícia, se eu ganhasse iria para o continente de Kala, o lugar mais avançado em tecnologia e inovação. A porta dupla se abriu com força, olhei para trás, os alunos conversavam enquanto caminhavam até nós. Catherina foi a última a chegar, ela tinha um olhar desafiador, o rosto era fechado e sem nenhum pingo de emoção. Seus estranhos olhos roxos deslizavam pela seleção de armas como se fosse a primeira vez que as vissem, cada movimento parecia ser calculado e pensado. Ela se virou para mim e olhou em meus olhos, um arrepio tomou meu corpo, algo estava errado.

- Professor preciso ir ao banheiro.

Não esperei pela resposta, já caminha em direção da porta para o corredor.

- Tudo bem mas não demore! - o professor gritou. - Alunos comecem a se aquecer, hoje teremos um treino pesado.

Corri em direção ao banheiro mais próximo que não era muito longe. Assim que entrei tranquei a porta e verifiquei se havia mais alguém ali. Respirei fundo caminhando em direção ao espelho.

Já não sabia diferenciar quem sou eu. Pelo meu reflexo cabelos coloridos contrastavam com a pele parda bronzeada, tudo normal para os padrões dos feiticeiros. Porém tudo é falso, não passava de um feitiço criada por mim, uma ilusão única sustentada pela minha magia, então uma vez por mês eu tinha que descer a ilusão deixando a mostra minha verdadeira aparência, porém nunca me vi em um espelho, sempre que descansava eu ficava no escuro, eu não tinha coragem de ver meu rosto em um espelho. Mas algo estava estranho, depois do baile tudo que eu queria fazer era verdadeiramente me ver em frente em um espelho, porém o medo me detinha, não queria lembrar do meu passado e principalmente do meu pai.

Sabia que a hora era agora, ainda com relutância respirei fundo, a magia sobre mim era difícil de manter, mas o mais difícil era retirá-lo. Era como se meu rosto estivesse derrendo e no final se transformasse em pó, era isso que acontecia, minha pele começou a formigar demostrado que o feitiço estava sendo retirado. Fechei meus olhos deixando a magia sair mais rapidamente sobre mim. O medo me tomou conta, sentia meus olhos enxerem de água, assim que olhei meu reflexo não me reconheci, mesmo enxergando tudo embaçado sabia que muita coisa havia mudado. Enxuguei meus olhos até que pudesse me ver pelo espelho.

- Quanto tempo.

As palavras saíram como sussurro. Usava essa magia desde os meus dez anos. Já faz mais de nove anos! Eu mesma estava surpresa pelo tempo. A magia que eu usava mudava totalmente meu corpo e rosto. Meus dedos tocavam a maçã do rosto bem marcada, contornei os lábios finos, sorria, aquela era eu.

- O que está...

Olhei- me mais de perto, cicatrizes e marcas de corte começaram a aparecer por todo meu rosto, passei minha mão pela nuca sentindo a ardência de uma cicatriz que se formava ali, ela começava um pouco acima da nuca e terminava abaixo da orelha. Meu olhar se voltou para o espelho, duas íris da cor sangue se destacava de todo resto, a pele e branca e os cabelos de fios grossos e negros deixavam um belo contraste em mim.

Passei a mão pelo meu rosto, dessa vez lembrava do rosto da Catherina, éramos bem parecidas, isso não dava para negar. Dei alguns passos para três me analisando por inteira no espelho, diferente da Catherina, eu quase não tinha músculos, era magra, mas ao mesmo tempo tinha um belo copo.

Pulei com a ardência do meu tornozelo esquerdo, as correntes vieram na minha cabeça assim como as lembranças do meu passado. Coloquei minha perna sobre a pia e levantei a barra da minha calça. Lágrimas caiam do meu rosto enquanto passava meus dedos sobre as marcas de queimaduras em formato de correntes, o meio da minha panturrilha até o tornozelo era onde as marcas eram piores.

- Tem alguém aí? - uma garota perguntou tentando abrir a porta. Mantinha-me calada, ela tentou abrir a porta novamente - Oi? Olha sou uma garota também! - ela tentou abrir a porta com mais força. - Esquece.

As estrelas de MirOnde histórias criam vida. Descubra agora