Capítulo 36

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Me deitei na maca sem entender novamente o que estava acontecendo, odiava mentiras, acho que odiava meus pais. Deuses, porque ser tão mistérios?

- Catherine? Pelos deuses!

- O que foi Gard?

- O que foi? Seu pai mandou eu vim até aqui, mas não achei que você estaria nessa situação tão...

Estava sem entender, que situação?

- Ainda bem que você não consegue se ver, você está mais que péssima.

Depois de meia hora já estava com um curativo na perna e banho tomado com muito esforço. Estávamos em uma das grandes salas confortáveis para visitas do palácio.

- Acho que vai demorar alguns dias para as marcas de roxo no braço e corpo desaparecerem totalmente.

- Talvez não, com algumas ervas consigo fazer uma poção para acelerar a cura.

- Não é te desvalorizando, mas suas poções não são tão boas. Da última vez lembro de limpar o chão por mais de duas horas.

- Sempre tem a opção de comprar.

- Desculpa a pergunta, mas como parte deusa não tem como se curar mais rápido?

Olhei para Gard como se realmente me sentisse ofendida.

- Não como o Nicolas, até amanhã de tarde já vou estar cem por cento.

- Então é melhor ir descansar. A luta que teve com seu pai hoje não foi fácil.

- Não só a luta, agora parece que todos os dias descubro mais mentiras contada por eles. - e talvez não só por eles.

Gard se calou, será que ele também sabia de alguma coisa?

- Se com os dois você quer dizer sua mãe, ela é uma deusa, entende o quão grande isso significa? Você é parte deusa e feiticeira além de ser filha dela, confie em sua deusa, em sua mãe, ela tem planos bons para você, não tenho dúvidas.

- Boa noite Gard.

Levantei-me do sofá, nunca tinha parado parado para pensar sobre o que a deusa havia planejado para mim. Assim que cheguei no meu quarto tranquei a porta e me direcionei para o espelho. Retirei minha blusa para observar melhor meus machucados, meus cabelos caíram sobre meus ombros e tive que joga-lo para o outro lado. Porque tenho esse cabelo tão grande? Porque nunca o cortei? Se não fosse pela cor dos olhos meu rosto seria a cópia quase perfeita do da minha mãe. Me parecer com ela agora gerava em mim um certo nojo e raiva. Quem eu era exatamente? Uma feiticeira? Uma deusa? Ou um experimento fracassado dessa combinação?

Andava para tentar acalmar a frustração quando meus olhos avistaram a gaveta da penteadeira, corri em sua direção a procura de um objeto até então esquecido. Meus dedos tocaram na grande tesoura e soube o que fazer.

- Eu não vou ser como minha mãe, a morte e caus. Meus pais podem ter mentido para mim, mas quero saber a verdade. Cansei de ser manipulada.

Acho que o bom de ter uma alma completa era que eu tenho profundos sentimentos e emoções, não só pensamentos e sonhos. Mas a muito tempo atrás eu já fui quem eu quero ser hoje, pelo menos por um dia pude realizar meu sonho.

Separei meu cabelo e comecei a corta-lo acima do ombro. Nunca tinha cortado um cabelo antes, não era fácil e estava saindo tudo torto, mas não me importei, pois sabia que existia coisas mais importantes que um punhado de cabelo, ele era apenas um peso desnecessário. Assim que terminei estava cercada de tanto cabelo que poderia fazer uma almofada. Limpei tudo e olhei o relógio, faltava um tempo até o amanhecer. Tentei concertar o corte do meu cabelo, isso fez com que ele ficasse mais curto, mas finalmente havia conseguido.

- Hoje é um dia especial, vou ir até minha irmã. Já conversei com ela antes, ela deve saber de algo pois na festa ela viu meu rosto...

Será que ela sabia que nós éramos irmãs? Eu já achei meio impossível, mas agora não dúvido de mais nada dos meus pais. Queria ser normal, respirei fundo, só de imaginar vivendo em uma simples vila, viajando por alguns planetas, isso era tudo que eu queria.

Por causa dos hematomas não pude usar roupas tradicionais de feiticeiros, que normalmente era tachado como exótico e mais extravagante. Blusa com mangas até o pulso e calça normal. Acho que gosto mas roupas de feiticeiros, pelo menos isso. Estava ansiosa, não sabia o que mais fazer dentro daquele palácio, faltava pelo menos uma hora até Gard acordar. Andava silenciosamente pelo corredor cinza, estava ansiosa por respostas a respeito da minha irmã e do possível irmão do meu pai. O último lugar no qual eu achei respostas era o Reino das Almas, porém ir para lá agora era gastar energias e forças, além de que ainda não sabia fazer portais muito bem. Precisava de um lugar onde saberiam sobre as Deusas.

- Já sei pra onde eu vou.

Apertei um botão no bracelete.

- Mandar esse mensagem daqui a uma hora e dez minutos para Kovkeban: Gard, não se preocupa comigo, tive que ir atrás de respostas. Vou pegar um carro emprestado mesmo que nunca tenha dirigindo.

Soltei o botão que fez com que a mensagem fosse gravada e só esperasse a hora programada para poder ser enviada. Sei que Gard poderia me rastrear e saber aonde estava, mas até ele chegar iria demorar e diferente de mim que vive quebrando algumas regras, Gard sempre foi fiel as regras e ordens, com isso ele nunca faria um portal para ir atrás de mim. Corri para fora do palácio até a garagem, meus olhos pararam no carro mais moderno e esportivo que tínhamos. A três anos meu pai trouxe o primeiro carro e no começo desse ano ele estacionou essa belezinha aqui. Ele era de um tom escuro e profundo de azul, ele já estava com minhas digitais cadastradas, então assim que toquei na porta ela se abriu sozinha arrancando um sorriso de mim. O carro só tinha lugar pra duas pessoas e um pequeno espaço atrás para colocar algumas coisas. Me sentei no confortável banco de motorista.

- Traçar rota.

No painel apareceu o mapa da cidade de Adacse.

- Traçar rota até o Templo das Deusas mais próximo.

Coloquei os cintos de segurança. Pelo que tinha observado Gard dirigindo isso não me parecia tão difícil, segurei o volante com força e apertei o botão para ligar o carro.

No começo foi um pouco assustador, mas depois de menos de meia hora atrás do volante eu já estava me acostumado, pelo menos na avenida deserta até a cidade. Fico feliz que aqui seja um continente mágico e não tecnológico, isso faz com que muitos não utilizem carros, mesmo eles sendo movidos a cristais de energia e não mais por gasolina. Assim que cheguei no centro da cidade poucos carros cruzavam avenidas e andavam em altas velocidades, além de que ainda eram as cinco da manhã e muitos provavelmente estariam sonhando em suas confortáveis camas. Estacionei o carro na frente do enorme templo, tão alto e belo como os prédios por perto, ele se destacava por sua estrutura mais antiga. O Templo me lembrava um pouco a arquitetura da biblioteca na qual tinha ido. Subi os poucos degraus e bati na porta, esperei um pouco e ninguém atendeu. Respirei fundo e passei pela porta, usar meu poder me deixou tonta, o que me fez escorar na porta enquanto eu observava o interior do templo.

 Respirei fundo e passei pela porta, usar meu poder me deixou tonta, o que me fez escorar na porta enquanto eu observava o interior do templo

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