Acima do Céu

6 - Esperança

O sol estava se pondo quando Bjyr Ap Uther brincava Ajhyk, quando chegou a primeira mensagem em seu dispositivo de comunicação e foi ignorada, pois queria passar mais tempo com seu filho. Ele estava trabalhando muito desde a descoberta do novo planeta e aproveitou esses últimos anos para aproximar-se mais do filho que estava com quase oito anos agora. Quando a noite chegou, havia mais mensagens não lidas e só então ele resolveu dar atenção. A maioria era repetições da mesma e seu conteúdo significava algo muito importante. Por um segundo o líder de Mutpyrc pensou que deveria ter lido isso antes, mas não se arrependeu de passar a tarde com seu futuro herdeiro. Sem perder mais tempo, ele dirigiu-se para o salão de reuniões central onde outros líderes já estavam reunidos esperando sua presença. As luas brilhavam lindas e soberanas no céu noturno quando ele chegou, e imediatamente percebeu a impaciência nos rostos dos ali presentes. Desculpou-se friamente e sentou-se na sua cadeira. Jheat começou a falar, sem rodeios, que os três Airs haviam chegado ao pequeno planeta orbitando Kup, que havia sido nomeado Kubter. O cientista dizia que os dados provenientes do planeta eram bem satisfatórios.
- Eles estão a pouco tempo lá, mas os relatórios dizem que as leituras feitas aqui não estavam erradas, o planeta tem tudo o que a gente precisa.
- Quando tempo mais eles precisaram ficar lá? – Perguntou Dwart Ap Dwart.
- Talvez mais alguns anos senhor, a viagem gastou mais combustível do que nos imaginamos.
- Então você está dizendo que nossos amigos vão ficar num planeta desconhecido, com o mínimo de segurança? – A irritação na voz do Air era quase palpável.
- Não se preocupe com a segurança deles Air Dwart. – Disse Pgabe, que estava calado o tempo todo. – Segundo Air Raeb os Kubterianos são pacíficos e fracamente armados. São um povo amigável e pouco desenvolvido.
- Isso é um bom sinal. – Pronunciou-se Bjyr. – E as notícias ruins começam quando?
- Infelizmente Air Bjyr, não sabemos como trazer os recursos de Kubter.
- Mas os donos do planeta disseram que nos ajudariam. – Completou Jheat.

A conversa durou mais algumas horas, entretanto o líder de Mutpyrc estava satisfeito com sua decisão de mandar apenas uma expedição. Ele foi duramente criticado, mas agora percebeu que havia feito a coisa certa.
-O que sabemos sobre o planeta?
- Bastante coisas Air Bjyr: Eles têm orbita inferior à nossa, com metade do tempo para dar uma volta completa. A gravidade e clima são bem semelhantes, mas deve ter causado alguns problemas de adaptação para eles, já que Kubet é menor do que Dartarien.
- Sem querer alerta-los, mas devemos lembrar que Air Raeb já não é tão jovem assim. Passar quinze anos viajando e mais, sabe-se lá, quanto tempo até poder voltar.
- Não se preocupe muito com isso Air Mgwya, já que na velocidade em que eles estão viajando, o tempo passa diferente para eles. Provavelmente ele só envelheceu dez anos, no máximo.

O líder do maior conglomerado do planeta estava prestando bastante atenção a tudo que era dito na reunião. Quando mais novo, Bjyr era conhecido por seu audaciosos e algumas vezes até impulsivo, bem diferente de seu pai, Uther, que sempre foi cauteloso e receoso. Ele pensava que o pai era um tolo que tinha medo de arriscar, mas somente quando seu primogênito nasceu, ele finalmente entendeu. Quando sua esposa, Agbir, ficou grávida, eles discutiram bastante e o rapaz cogitou até a ideia de abortar pois acreditava que não teriam tempo para cuidar de um bebê, o que resultou na maior briga daquele casamento e por um fio não resultou em divórcio. Bjyr passou noite em claro, trabalhando demais ou pensando no seu futuro, mas quando a criança nasceu, todo o seu temor acabou-se como num passe de mágica. Um novo sentimento surgiu em seu coração e ele percebeu o quão idiota era sua vida antes da chegada daquele pequeno ser chorão e perdido. Desde então tem se esforçado muito para dar atenção a todos na sua família, mas nos últimos anos não tem conseguido. Quando a reunião acabou, ele partiu para casa e foi recebido com um abraço apertado de seu pequeno herdeiro e um beijo carinhoso de sua esposa. Contou-lhe as novidades e ambos ficaram bastante empolgados. Ajhyk, apesar da pouca idade era bastante inteligente e confiava cegamente em todas as decisões do pai.

Quando o jantar acabou ele dirigiu-se até um lado mais afastado da casa e subiu para o telhado, a fim de olhar os velhos e conhecidos pontos luminosos no céu, mas sob uma nova perspectiva. Cada pontinho daquele agora, para ele, significava uma nova esperança, um novo planeta para poder explorar e conseguir salvar sua casa. Com os olhos fechados ele pensou em sua vida até ali e pensou no que seu pai faria se estivesse ali. " Talvez ele tivesse concordado com as minhas decisões" pensou o líder. "Com Kubter ao nosso lado, pai, nós vamos conseguir salvar o planeta. " Entretanto, seu comunicador tocou e o tirou de seu devaneio. Era uma vídeo-chamada de Jheat, o estudioso que liderava o projeto.
- Diga Jheat Ap Kjre.

- Desculpe incomoda-lo, Air Bjyr, mas o que eu tenho a relatar é de extrema importância, e temo que essa informação não deva ser espalhada ainda.
- O que há de tão importante assim? Diga logo!
- Acredito que não existe meio de salvar Dartarien, Air. Mesmo se trouxermos recursos de Kubter, teríamos que secar suas reservas naturais.
- O que você disse? - Aquela mensagem trouxe um frio para o corpo do líder, que por mais que tivesse ouvido as palavras, não conseguiam entende-la. Era como se seu sonho de um instante para o outro tornar-se o pior pesadelo de sua vida. – Você está certo disso?
- Meus cálculos dizem que sim. Temo que não teremos outra escolha se quisermos sobreviver.
- Sempre existe outra escolha, Jhaet. – Disse ele, recitando uma frase que seu pai sempre repetia. – Os Kubterianos estão do nosso lado. Os estudiosos deles vão pensar em alguma coisa e você com o auxílio deles, vão conseguir salvar a nossa casa.

Apesar disso, o próprio Bjyr não acreditava nas suas palavras, mas tinha que fazer parecer que sim, pois se não as outras opções não o agradavam nem um pouco. Por fim, sua esposa o chamou para deitar-se.
- O que houve? Parece distante.
- Nosso planeta precisa de muitos recursos, e parece que Kubter não tem tantos assim para oferecer.
- Como assim? – O temor na sua voz era quase que palpável. Ela olhava diretamente para ele, com seus olhos brilhando num misto de tristeza e esperança, na expectativa que seu marido resolvesse o problema, como ele sempre fazia.
- Se Dartarien for salva, Kubter morrerá.
- Então você vai ter uma escolha muito difícil nas suas mãos. – Ele concordou com a cabeça e ficou olhando para a parede, com a mente perdida. – Não importa o que você faça, sei que escolherá o que é melhor para nós e vara a escolha certa.

A chuva começou a cair quando finalmente o líder conseguiu dormir.