Johan nunca foi um rapaz que gostasse muito de aventuras e coisas perigosas, mas os últimos acontecimentos estavam o obrigando a mudar seus pensamentos. Talvez por amor ou uma súbita coragem idiota o rapaz decidiu que era hora de agir e deixar de reclamar. Antes que sua amiga dartaniana pudesse sair do quarto, ele se juntou a ela e aceitou o seu papel de wendhro. Julwry olhou para o tenente sem entender nada e aceitou a presença dele ali, não como um troféu, mas como um amigo que desse suporte em uma situação complicada. Essa relação de amizade e companheirismo parecia ser algo corriqueiro na vida do pequeno humano, mas para a líder de Uoy era um pensamento novo e inexplorado.
Em sua terra natal nunca precisou de amigos para viver, e até o momento em que chegou a Terra, eles não haviam feito falta. Agora, sob grande pressão, enquanto caminhava pelos corredores mal iluminados, ela percebia que a presença daquele rapaz ali significava muito mais do que um companheiro. Significava que toda uma espécie, por mais defeituosa que fosse, precisava de ajuda. No fundo, Julwry Ap Paehk não se importava tanto com os humanos a ponto de dar sua vida por eles, o que ela desejava realmente era reaver o controle de seu distrito e de suas tropas.
Quando eles chegaram a uma sala Vteay Ap Dmjyte estava ali, sentada na cadeira destinada ao líder do distrito. Seu corpo era pequeno e sua idade era pouca, mas o rosto já trazia um sorriso sarcástico e o ar de soberba tornava o ambiente um tanto quanto desconfortável. Vestida com o que poderia ser considerado uma roupa cerimonial ela saudou Julwry com falsa alegria e adiantou-se para abraça-la, mas a garota não estava com paciência para joguinhos aristocráticos.
- Você tem exatos trinta e dois segundos para sair daqui, antes que eu acabe com sua raça. – Disse a líder legitima sem rodeios.
- Mas Julwry... – Disse Vteay, fingido surpresa. – Você me ofende com suas palavras. Eu estava tão preocupada com você.
- Seu tempo está correndo. – Respondeu. – Vinte segundos. Homens! – E com a ordem os soldados prepararam suas armas.
- Julwry, Julwry, Julwry. – A jovem deu as costas e passou o dedo pelo peito de um dos soldados, que se manteve firme frente a provocação. – Não precisa disso tudo. Podem relaxar rapazes. – Então, a ordem novamente foi acatada. – Você esteve fora tempo de mais, querida. O conselho me deu o controle de Uoy.
- E eu estou tomando de volta. Esse distrito é meu por direito e você não pode ficar com ele. Volte para Urey enquanto pode.
- Você acha que me assusta? – Ela riu com escarnio. – Você não tem mais direito aqui nenhum aqui. E se quer um conselho: Vá para o seu quarto, divirta-se com seu troféu. Ou seria seu amante?
- Seu tempo acabou. Abram fogo!
Entretanto, mesmo recebendo uma ordem direta, os soldados continuaram imóveis, como se não fossem com eles. Vteay apreciou o momento e gargalhou gostosamente frente aquela humilhação. Julwry Ap Paehk temia por isso, mas não demonstrou nenhum medo ou fraqueza. Apenas murmurou algo e partiu para cima da rival, a fim de acabar com ela com as próprias mãos. Contudo, foi impedida de avançar por uma barreira de soldados. Novamente Vteay gargalhou.
- Como eu disse, queridinha. Você não tem mais poder aqui. Levem-na para a sela.
- Eu, Johan Burrowes desavio você, Vteay Ap Dmjyte, em um combate singular pelo controle de Uoy. Pela honra dos de todos os deuses. – Todos foram pegos de surpresa pelo pronunciamento do segundo tenente, que agora se disponha ajoelhado olhando fixamente para a garota dartaniana que acabara de desafiar.
- O que você está fazendo? – Questionou Julwry, mas o rapaz humano ignorou por completo a pergunta, enquanto a desafiada gargalhava novamente.
- E por que eu aceitaria um desafio tão ridículo quanto ele?
- Você me nega o direito de combate singular? O direito concebido por Uhmom, o Deus da guerra?
- Nunca fui muito ligada aos deuses. – O seu rosto ainda existia o sorriso sarcástico, mas era obvio que a postura dela havia mudado. O rapaz sabia bastante sobre a cultura dela, e isso o tornava um inimigo em potencial.
- Você está se acovardando de um combate singular por que sabe que não poderia me vencer. Uma garota fraca e covarde como você não merece o controle de Uoy.
- Como ousa? – Finalmente o objetivo do tenente foi alcançado e ele conseguiu desestabilizar a rival de outro planeta. – Muito bem seu verme insolente. Eu aceito o seu desafio. Escolha o seu campeão.
- Por favor Johan. – Suplicou Julwry. – Permita ser sua campeã. Você vai morrer lá.
O soldado apenas sorriu e passou a mão no rosto de sua amiga, e mesmo não sabendo distinguir muito bem as suas emoções, percebeu que ela estava preocupada com ele.
- Não se preocupe, Sunshine. – Ele piscou para ela. – Eu mesmo lutarei!
- Que assim seja. – Vteay disse e então virou para o Catian, que ali estava observando calado o tempo todo. – arkbah, você será meu campeão. Faça-o sofrer.
O capitão apenas sorriu com prazer e concordou com a ideia. Os dois guerreiros seguiram para uma área aberta, onde em poucos minutos um círculo grande formado pelos soldados, e assim estava pronta a arena de batalha.
- Segundo as regras: Dois entram, um sai. Nada mais. – Disse a desafiada. – Qual será sua arma, humano?
Johan pensou por um milésimo de segundo se o que estava fazendo era correto, mas não havia mais volta. Agora era tudo o nada. Sua companheira lhe estendeu uma arma, mas ele recusou.
- Não preciso de sua arma para vencer esse alien miserável! – Exclamou alto o suficiente para todos ouvirem, e um uníssono de surpresa foi emitido pelos soldados. Claro que era um blefe, mas tudo dependia da atuação e se o seu adversário compraria a ideia. Agora era o momento em que tudo poderia ir por água abaixo.
- O que? Você vai lutar sem armas? – Exclamou Julwry.
- Já que o humano vai desarmado. – Disse Arkbah. – Ótimo. Assim poderei me divertir mais enquanto esmago sua cabeça com minas próprias mãos.
E assim foi decidido, e o silencio tomou o local. O último som que o tenente ouviu foi de sua amiga pedindo para reconsiderar. Com um disparo para o alto, a batalha se iniciou.

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Acima do Céu
Science FictionO mundo está em perigeu. O ar e água estão poluídos, necessita-se mais de energia do que o próprio sol produz. O planeta nunca teve tanta gente viva ao mesmo tempo. Os governantes estão reunidos mas não sabem o que fazer. Um grupo de estudantes da u...