7 - Encontros e desencontros

4 1 0
                                    

Depois do primeiro ano com os terrestres, os três visitantes fizeram tantos testes e exames que eles não eram mais capazes de contar. Mais da metade do planeta já falava como segunda língua o idioma árabe, e os Dartarianos conseguiram adaptar muito bem seu dialeto a esse. Raeb estava de saco cheio de toda a fama que aqueles seres pequenos e subdesenvolvidos davam para eles. Os três não podiam sair de suas instalações que havia milhares deles para tirar foto, pedir algo autógrafos, que ele não sabia bem para que significava e por isso evitada dar, entre outras coisas. Por conta disso, ele ficava muito tempo nas instalações militares do exército, aprendendo as táticas de combate e guerrilha deles. Por mais que não fossem inteligentes, os humanos não o deixavam olhar muito, o que o líder do condado de Sojna achou bastante inteligente.

Enquanto isso, Susana estava se preparam para sua formatura. Ela estava muito nervosa, mas ao mesmo tempo feliz de tamanha forma que ela nem conseguia mensurar. Carl não estava ali, mas deu sua palavra que estaria na formatura. Eles estavam noivos a quase dois anos, esperando apenas a conclusão do curso de psicologia dela acabar, para finalmente se casarem. Eles se conheciam a mais tempo do que conseguiam se lembrar e ela o ajudara mais vezes do que podia contar. O agora Capitão-tenente sempre fora um rapaz sensível e até meio tolo, quando era referente a sentimentos. Por muitas vezes a jovem dera em cima dele, mas ele nunca percebeu, preferindo envolver-se com outras garotas.

- Você parece pensativa. – Disse Ana, entrando no quarto tirando a irmã mais nova de seus pensamentos. A garota era mais alta e mais corpulenta que ela, mantendo o corte de cabelo curto. Usava alargadores nas orelhas e tinha uma tatuagem de borboleta na panturrilha. Havia tirado os seus pircings, deixando o rosto livre de metais. Estava pensando na ideia de tirar os alargadores também, Mas Susana deu a ideia de colocar apenas menores, em vez de se livrar deles. A mais velha de três irmãs estava de mudança, e por isso o clima na casa era tenso entre ela e a mãe das garotas. O pai delas, não via problemas e até de certa forma a apoiava, mas isso não significava muito.
- Só estou um pouco nervosa. Pareceu que nunca eu ia terminar a faculdade, e agora que acabou, me sinto mais perdida do que quando comecei.
- Não se preocupe com isso, Sus. – Ela a beijou na testa e olhou fundo em seus olhos castanhos. – Você vai ser a melhor psicóloga de todas.

O céu jazia sem nuvens, mas o clima estava fresco para uma tarde de primavera, e por isso a garota resolveu sair um pouco, para arejar a cabeça. Por onde andava, havia produtos a respeito dos visitantes extraplanetários. Seja revista com entrevistas exclusivas, ou bonecos de ação. Havia um outdoor que vendia olho para motor, com a foto de um deles, que a garota suspeitava se tratar de Hambrt, com os dizeres: O melhor óleo de motor do seu planeta e do meu. A garota achava um absurdo isso essa valorização dos aliens. Era obvio para ela que a vinda deles era importante, mas tudo o que os humanos fizeram foi enche-los de perguntas e de fama desnecessária. Susana achava que isso era uma péssima imagem, já que dava a sensação de que os terrestres eram crianças empolgadas com um novo brinquedo. O Bryant Park estava pouco movimentado naquele horário, o que alegrou bastante a garota de cabelos pretos já que ali, por conta da proximidade com a sede da ONU, onde os visitantes estavam instalados, sempre ficava movimentado.

Ela parou em frente à estátua de José Bonifácio de Andrada e Silva, um famoso poeta brasileiro que Susana adorava ler. Dona Maria, sua sogra, era brasileira, e por isso ela sabia bastante sobre aquele país sul-americano. Ela dizia que a beleza natural do Brasil era incomparável a qualquer outra e que os brasileiros eram um povo bem amigável com visitantes, mas gostavam de tirar vantagem dos gringos quando se dizia respeito a vendas de produtos ou serviços. Seu noivo disse que passariam a lua de mel lá, e ela mal podia esperar. Ficou sentada num banco, embaixo de uma arvore, observando toda a imensidão do parque, ouvido folk rock no seu celular. Fechou os olhos por alguns instantes, sentindo o vento fresco e suave tocar sua pele e fazer sua blusa azul claro tremer em seu corpo. Era relaxante e incrivelmente agradável ficar ali, na calmaria do lugar, enquanto a cidade corria de um lado para o outro, indo de lugar nenhum para o nada.

Quando abriu seus olhos novamente, percebeu uma figura alta e grande sentada no banco ao seu lado, observando atentamente os pássaros que ciscavam a procura de comida no chão. Era a primeira vez que ela ficava tão perto dos alienígenas, e sentiu seu corpo travar de medo. Aquela estranha figura ao seu lado usava uma espécie de cobertura, como se fosse uma roupa que escondia sua pele escura em com rajadas coloridas. Todo seu corpo era interligado por fios e barras metálicas, que pareciam sustentar o corpo. Eram extremamente assustadores, com suas antenas e olhos coloridos em cores vivas que para a garota, pareciam que iria soltar raios a qualquer momento. As mãos com seis dedos cada, eram fortes e grandes, e não ajudavam em nada a diminuir a imagem de vilões de filme de terror que eles tinham. Percebendo a curiosidade da garota, o ser virou-se para ela.
- Ola. – O árabe dele agora se aproximava mais ao árabe da terra. Depois da chegada deles, era difícil encontrar alguém que não havia se matriculado numa escola de idiomas, só para poder conversar com eles. Susana não queria, mas suas irmãs quase a obrigaram a ir.
- Oi. – Respondeu ela. Sua voz estava esganiçada e visivelmente aterrorizada.
- Parece com medo. – A voz daquela criatura era estranha para a garota, como se não viesse dele, ou como se não fosse produzida por ele. Ela respirou fundo e tentou manter-se calma diante da situação. "Ele não vai me fazer mal" pensou ela, como um mantra para tentar se livrar do medo que a dominava.
- Não é todo dia que eu encontro um visitante extraplanetário com dois metros e meio de altura no parque. – Confessou ela e recebeu como resposta um som estranho, que julgou ser uma gargalhada.

- Não pretendo machuca-la. Meu nome é Hambrt Ap Jkui.
- Acho que preciso treinar um pouco para conseguir dizer seu nome. Mas é um prazer conhece-lo. Me chamo Susana Kappel.
- É um prazer conhece-la. – Repetiu ele. E voltou sua atenção para os animais que ainda estavam ali, sem medo algum. – É um belo lugar.
- Sim. Venho aqui quando quero relaxar.
- Eu queria poder conhecer mais desse planeta, mas é muito difícil ir de um lugar para o outro. Vocês têm muitas burocracias.
- Concordo. A Terra é um lugar muito bonito, com vários pontos lindos.
- Eu conheci um lugar chamado Merixo.
- México – Corrigiu ela. – Eles são nossos vizinhos.
- Comida deles é apimentada. – Disse ele, e ambos riram do comentário.

Os dois ficaram ali, alguns minutos conversando, até que as pessoas perceberam a presença dele e o cercaram para tirar fotos e pedir autógrafos. Mesmo estando a um ano aqui, eles ainda eram famosos e as pessoas ficavam loucas ao ve-los, como se fossem um astro do cinema, ou um cantor famoso. Susana, assim como Hambrt resolveram que seria melhor ir para suas respectivas casas. A garota voltou, enquanto a multidão de fãs corria atrás do alien, sem muito sucesso, já que ele era muitas vezes mais rápido do que eles. Era seu primeiro contato com os visitantes, e a garota de olhos castanhos percebeu que na verdade, eles eram bem parecidos. Gostou de passar alguns minutos com o ser cujo o nome ela ainda não conseguia dizer e essa com certeza seria uma experiência que nunca iria esquecer.                        

Acima do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora