45 - Resgate

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Desde que a invasão começara, Sebastian não tinha visto o sol brilhar tão forte como naquele dia. As nuvens de chuva ainda estavam presentes, mas o dia estava calmo, mais quente e mais claro do que todos os outros. Ele e John, um sobrevivente da cidade, saíram cedo em busca de remédios para Clara. O rapaz percebeu que sua amiga estava bastante envolvida com a nova colega de trabalho e questionou ela antes de sair:
- A gente ficou uma vez. – Disse ela, evitando o olhar incisivo do jovem Meulmeester.

Ele sabia que não era apenas um lance rápido, até porque a própria auxiliar de enfermagem já tinha passado do seu tempo de ter esse tipo de coisa. A garota queria estabilidade, e aparentemente havia encontrado. A busca por suprimentos foi rápida e tranquila, assim como todas as outras. Mesmo com essa calmaria, o grupo de inteiro resolveu que ninguém deveria sair sozinho para fazer esse tipo de varredura.
- Que dia é hoje, Sebastian? – Questionou John.
- Nem sei cara. Faz tempo que eu esqueci a contagem.

Entretanto a pergunta, aparentemente inocente escondia um real significado que o rapaz só iria descobrir quando voltasse para o centro médico. Foi recebido lá com parabéns singelos de poucos amigos e um bolo não maior do que uma caneca. Meulmeester nunca foi do tipo emotivo, mas ver aquela cena, naquela situação apertou o seu coração mole. Teve que ser bastante forte para não deixar nenhuma lagrima escorrer.
- Parabéns, meu querido! – Disse Katharine, a primeira a vir abraça-lo. Em seguida veio Susana, portando o mini bolo.
- Eu queria fazer um maior, mas não tinha muitos ingredientes. – Confessou ela.
- Não tem problema Suzzy. Ele parece delicioso de todo jeito. – O rapaz pegou o bolo e colocou-o na boca de uma vez. Todos ficaram em silencio.
- Sebastian! – Reprimiu Katty.
- O que? – Disse ele, com a boca cheia. – Isso aqui está delicioso cara.

Poucos dias depois da festinha surpresa, outra novidade chegara pelo rádio, e dizia que o Major Black estava se encontrando nesse momento com todos os líderes importantes em Utah. Poucos civis sabiam da verdade, mas a maioria ficou preocupada com a notícia.
- Todos líderes em um só lugar? – Comentou um deles. – Isso pode ser perigoso. – Em seguida alguns concordaram e uma longa conversa sobre estratégias militares que deveriam ser adotadas recaiu naquele grupo. Susana, Sebastian, Katharine, Clara e Emily se distanciaram, preferindo ir para um lugar mais reservado para conversar outras coisas de menor importância. A psicóloga percebeu que sua amiga e cunhada estava levemente enciumada com a proximidade entre Kaldwin e Pratt, A garota tinha esse costume de ser possessiva com seus amigos, e aparentemente nutria um leve desejo sexual por Clara, algo que Susana já esperava.
- Preocupe com Sebastian. – Aconselhou ela.
- Por que? Essazinha aí está dando em cima dele também?
- Não. Não foi isso que eu quis dizer. É só que o rapaz gosta de você, de verdade.
- Eu também Suzzy, mas você me conhece. Não foi muito com a cara dessa Emily.
- Você que é muito ciumenta garota.

Vários dias se passaram sem nenhuma notícia nova ou real no rádio, apenas informes sobre sobreviventes, novas estações de rádio surgindo e nada de importância. A noite recaia fria e silenciosa quando Katharine ouviu um barulho estranho. Talvez ela fosse a única acordada naquele momento, pois um pesadelo à acordou e por conta disso não conseguiu dormir mais. Ela estava deitada junto com Sebastian, e o jovem dormia como uma criança. Tirando lentamente o braço dele de cima do seu quadril, Katty se levantou tentando fazer o mínimo de barulho possível para não o acordar, mas não foi eficiente.
- Onde vai? – Questionou ele.
- Eu vou...- Ela hesitou por um segundo. – Ouvi algo.
- Ouvimos coisas todo dia. Isso não deveria incomodar você mais.
- Eu sei é que... parece estar aumentando.
- Tudo bem. Eu vou com você.

Ele se levantou, pegou o rifle e o casal seguiu em direção ao som, que agora estava bastante audível para preocupa-los. O barulho crescente também acordou outros no acampamento, e logo todos tomaram medidas defensivas, que consistia em se espalhar para as casas e prédios que estavam ao redor da praça. Os dois jovens, por terem se levantando primeiro foram cada vez mais próximo e avistaram de longe o farol de um carro vindo ao longe. Eles não sabiam se ficavam mais relaxados ou mais preocupados com a situação e decidiram observar escondidos na penumbra dos escombros de um antigo prédio e só relaxaram quando finalmente avistaram o humano que dirigia o automóvel. Poucos segundos atrás dele estava dois caminhões grandes, usado para transporte de tropas. Eles estavam solitários nas ruas, sem tanques, aviões ou helicópteros junto com eles.

O minúsculo comboio parou no centro da praça e o motorista do carro buzinou, descendo do carro e levantando as mãos. Os outros fizeram o mesmo e como formigas num formigueiro os civis foram saindo de suas tocas, celebrando a presença dos soldados ali.
- Vamos levar todos vocês para uma base, a poucos quilômetros daqui. É um lugar seguro onde estamos realocando os civis que encontramos no caminho. Lá encontraram comida, remédios e segurança. Peço por gentileza que entrem ordenadamente no caminhão. – Disso um deles apontado para o grande veículo imediatamente atrás dele, e assim foi feito.

Poucos minutos depois a maioria dos civis estavam alocadas alegremente no caminhão. O outro veículo ficou à disposição de levar os equipamentos médicos e suprimentos que eles tinham ali, mas infelizmente não foi capaz de enche-lo, já que a situação era precária. Quando estava tudo pronto para partir, o rapaz que havia dado as orientações apareceu na parte de trás do carro e botou sua cabeça para dentro e fez uma rápida contagem de quantos tinham ali.
- Estou procurando por Susana Martin e Katharine Martin. Elas estão aqui? – E quando as duas responderam ele agradeceu e avisou que a partida começava imediatamente. Apesar de não ser o lugar mais confortável do mundo, todos aqueles homens, mulheres crianças e bebes estavam tão felizes que passaram a longa viagem inteira cantando, brincado e se divertindo, como se fosse uma excursão de escola onde as crianças passavam o tempo se distraindo. 

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