33 - Vendetta

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Mais uma gota de suor brotou da testa escura de Johan e percorreu seu rosto, até chegar ao seu queixo para então cair no chão. E assim se sucedeu várias vezes enquanto ele se reunia com o agora Catian Gjur e Julwry. A garota parecia aborrecida com toda a irrita com toda a situação, e mantinha curtíssimos diálogos com o sargento, falando apenas o necessário. O recém capitão por outro lado era bem mais comunicativo e se deixasse ficaria horas falando sobre todos os assuntos.
- Temos tropas aqui, aqui e aqui. – Disse ele apontando para os pontos riscados em vermelho num mapa cheio de poeira, aberto na mesa de aço enferrujado na cabine do Air. – Há tropas humanas aqui e aqui.
- Quantas cidades já foram abandonadas? – Perguntou ele.
- Pelas minhas contas, aproximadamente cinco, Air.
- Enquanto tempo esses soldados conseguiram chegar aqui?
- Difícil dizer senhor. Voar por essa área não é muito seguro.
- Entendo. Retire essas, essas e essas tropas. – Ele apontou para três pedras distintas no mapa que simulavam um batalhão inteiro. – E mova essas tropas para aqui, assim a tropa humana vinda do Oeste poderá se encontrar com esse batalhão, bem aqui.
- Se você fizer isso, nossas tropas não saíram daí com vida. – Interveio Julwry, Seriamente.


- Ela tem razão senhor.
O sargento sabia o que deveria fazer, e sabia as opções que tinha. Ele virou-se para a janela atrás dele e acendeu um cigarro, deu uma tragada mínima, apenas para manter o mesmo aceso e o deixou queimando entre os dedos negros e longos.
- Retire as tropas de Ouy desse lugar o mais rápido possível. Quero ao menos dois batalhões aqui antes do fim do dia.
- Sim senhor. -E então o alienígena prestou continência e saiu rapidamente do aposento, deixando a líder legitima de Uoy sozinha com o humano. Ela estava encostada numa parede, com os braços cruzados, habito que adquirira observando os terráqueos fazendo isso várias vezes para demonstrar insatisfação com alguma coisa.

- Detesto esse trabalho.
- Ninguém disse que seria fácil. – O rapaz passou a mão na testa, que estava encharcada com por conta do suor que brotava. O calor no local era tamanho que as vezes soldados reportavam miragens e vários deles sofreram com problemas causados pelo excesso tempo no sol, como alucinações e delírios. A poucas horas antes da reunião, já chegava a vinte e três o número de mortos por insolação.
- Lugar quente do caralho. Em quanto tempo estaremos prontos para partir desse buraco?
- Dois dias, no máximo. – A garota descruzou os braços e se aproximou de Johan, que ainda estava com o cigarro acesso nos dedos. Por fim o rapaz se irritou com a fumaça e pisou nele força para descontar sua raiva e frustação. – Eu acho que nunca te agradeci, realmente.

- Agradecer? Pelo que? Você não achou que eu realmente iria te deixar na prisão.
- Não é disso que eu estou falando. – Ela agora estava sentada na mesa encima do mapa, olhando fixamente para o terráqueo. – Você poderia ter colocado o meu exército para lugar ao lado do seu, mas não o fez.
- Todo dia eu quero fazer isso. Poderia salvar várias vidas humanas.
- Mas várias já estão sendo salvas.
- Pode ser. De qualquer forma, não foi ideia minha. Agradeça ao Gjur.

Enquanto isso, em outro lugar no mundo, Anna abria seus olhos e sentia a cabeça doer como se um grupo de dançarinos tivesse feito uma apresentação em cima dela. Seus olhos demoraram para conseguir focar em alguma coisa, mas seu cérebro precisou de muito mais tempo até finalmente lembrar e assimilar os últimos acontecimentos. Quando finalmente se recordou, correu para onde jazia imóvel e sem vida o corpo de Xavier residia. Anna sentiu as lagrimas encherem seus olhos e transbordarem pelo rosto. Ela não conseguiu segurar e apenas abaixou a cabeça no peito frio de seu irmão e chorou. Desde pequenos, Anna e Xavier eram bastante ligados, já que a mãe deles trabalhava e ela, como a mais velha, tinha que cuidar de seu irmão. Quando foi crescendo, a garota se envolveu com pessoas que a induziram para um caminho em que não teve volta, e graças a isso não pode ir ao funeral de sua mãe. Quando finalmente saiu da cadeia, se reencontrou com Xavier e pensou que poderia começar uma vida dentro da sociedade, uma vida que a mãe deles se orgulharia.

A garota chorou durante algum tempo, até finalmente perceber que estava sozinha, sem ter lugar para ir, sem ter comida, bebida ou qualquer pessoa para quem recorrer. Olhou em volta, com os olhos vermelhos e inchados de chorar e sua atenção foi chamada para um objeto metálico refletindo a mínima luz que a farmácia tinha. Percebeu então que se tratava do revolver que havia roubado de um policial morto que encontrara no caminho. Percebeu também que a munição havia sido retirada e apenas uma bala foi deixada para traz. Anna transformou toda a dor e tristeza que ela tinha em ódio e prometeu para si mesma, que iria matar o homem que tirou a vida de seu amado irmão.

Ela pegou a faca que ele portava, rezou uma última vez pela alma do jovem e deixou o corpo ali, mas antes de sair escreveu numa caixa de remédio o nome do irmão, para que se um dia alguém o achasse, saber quem era. A garota se levantou e dirigiu-se para a rua a fim de começar a sua caçada.

Anna não sabia de onde havia surgido a dupla de assassinos, e, portanto, começou da premissa de que eles faziam parte de um grupo maior, portanto precisaria dos remédios para outra pessoa. Ela analisou as opções e eliminou três construções, restando apenas as casas um prédio alto parcialmente destruído em que um milionário qualquer morava antes do inferno. Chegar. Algo em seu interior dizia que deveria começar por lá, e, dessa forma, como aprenderá na cadeia, resolver seguir seu instinto.

Subindo lentamente a interminável escadaria, ela olhou e vasculhou cada andar que passava, até que, já extremamente cansada, chegou ao último e percebeu uma luz fraca saindo de um dos apartamentos, assim como o cheiro de carvão queimando. Sentiu o sangue subir e ficar preso na garganta. Seu coração batia forte a as mãos tremiam. Era noite e por isso imaginou que eles já estivessem dormindo. Lentamente girou a maçaneta e abriu a porta, dando de cara com uma fogueira já quase extinta exalando mais fumaça do que calor. A sua direita estava a cozinha e a sua frente uma sala parcialmente destruída. Pensou que ali não seria um bom lugar para se abrir, mas não estava ali para julgar. A direita tinha dois quartos, e sem enrolar mais, andou sorrateiramente em direção ao primeiro. A porta estava aberta e quando entrou encontrou uma garota, de cabelos negros e longos bastante bonitos. Ao dela, Ana reconheceu a garota que dormia calmamente como a namorada do rapaz que tirava a vida de seu irmão. Ela sentiu a mão tremer e sentiu-se bastante tentada a cortar a garganta dela ali mesmo, mas se controlou, pois primeiro iria tirar a vida do rapaz, com a bala que ele teve a audácia de deixar para atrás.

Anna o encontrou deitado no chão, enrolado em cobertas. Ela sacou a arma e aponto para ele.
- Você deveria ter me matado. – Sussurrou ela.
- HEY! – Gritou alguém na porta do quarto. Anna ficou completamente assustada com o barulho repentino que apontou a armar e atirou, sem mirar ou se preparar para o coice da pistola, que foi tirada para traz, se chocando contra a parede. Com a explosão repentina todos ali acordaram e a garota de cabelos desgrenhados se viu num ambiente totalmente hostil e instintivamente sacou a faca, para se defender. Entretanto ela não conseguiu fazer muita coisa, pois no instante seguinte foi alvejada com três disparos certeiros, que fizeram ela dar alguns passos para trás. Sentiu o sangue correr pela barriga e seu último pensamento antes de morrer foi em seu irmão.

Dean, que estava na porta observou tudo, pálido como uma cera de vela. De repente, sentiu seu corpo fraco e sua perna falhou, levando-o para o chão. Logo em seguida viu o rosto preocupado de Clara e sentiu uma dor alucinante na barriga. Viu também Katharine e Sebastian, que se aproximaram depois. Não conseguiu pensar em nada, exceto na dor que sentia. Por fim o último rosto que viu foi o de Susana, que chorava bastante, enquanto segurava sua cabeça com as mãos quentes e gentis. Ele a encarou por alguns segundos, deu um fraco sorriso e passou os dedos no rosto de sua amada, para limpar as lagrimas que caiam, mas tudo o que conseguiu foi sujar o rosto dela com o sangue.

- Não precisa chorar. – Disse ele.
- Por favor. – Foi tudo o que ela conseguiu responder. Ele fechou os olhos e uma única música veio forte em sua mente, tão forte que ele se sentiu obrigado a cantarolar enquanto um raio cortava o céu noturno e a chuva caíra agora com mais força do que nunca.

"Isso me lembra alguém que vive lá" – dizia a letra. "Ela outrora foi meu verdadeiro amor" 

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