14 - Choque

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Chovia torrencialmente quando o jovem cabo, James Hancock viu da janela do JLTV alguns carros civis saindo da cidade a toda velocidade. Ele desejava estar num daqueles veículos também, mas queria ainda mais saber o que estava acontecendo. Segurava firmemente seu fuzil M4 para que sua mão parasse de tremer, entretanto não era o suficiente. Estava a quase um ano e meio integrando a força militar dos EUA, assim que entrara, destacou-se entre os recrutas por sua facilidade de aprendizagem, logo conseguia pontuações máximas nos testes. O rapaz de ralos cabelos negros e barba feita – o que era característico da maioria dos militares – era veloz ao atirar e recarregar armas, dos mais diversos calibres, além de pensar taticamente com extrema facilidade. Era o prodígio de seu batalhão e muitos apostavam em seu futuro brilhante. Sua mãe, Beatriz estava orgulhosa do filho que não via a longos meses e planejava fazer uma surpresa para ele quando chegasse em casa. Ele teria permissão para ir em poucas semanas e já estava planejando o que faria quando soube do ataque. A agência espacial norte americana já havia reportado objetos vindo em direção a Terra e imaginou se tratar de mais dartarianos e por tanto acreditaram se tratar apenas de mais alguns visitantes, entretanto, quando a nave não diminuiu sua velocidade, como fez a primeira, alguns anos antes, e entrou como um cometa na atmosfera, destruindo o centro de Nova Iorque, ninguém entendeu nada. Todos ficaram atônitos por alguns segundos, tempo esse que os invasores aproveitaram para abrir fogo contra os civis que estavam próximos.

O veículo equipado com um lançador de granadas automático modelo MK 47 era operado por outro soldado que apesar da chuva que recaia sobre ele, suava frio de medo e confusão. Quando a tropa de veículos leves chegou a área de batalha, outros batalhões já travavam uma luta acirrada contra o inimigo e a visão de reforços os alegrou imensamente. Apesar da maioridade numérica, os terrestres estavam perdendo a batalha e a cada vez, mais corpos humanos caiam atingidos pelos invasores que avançavam matando e destruindo tudo o que encontravam no caminho. O centro da cidade havia se tornado um monte de escombros, corpos empilhados e fogo por toda a parte. Crianças e velhos, adultos e jovens, homens e mulheres caídos aos montes sem a menor chance de conseguir se defender dos invasores. Aquela visão causou choque o jovem cabo e de repente todo o seu medo tornou-se raiva e ódio. O desejo de vingança e justiça por todos aqueles inocentes caídos, por todos os companheiros de batalhas mortos fez seu coração encher-se de um calor quase palpável. Ele sabia o que tinha de fazer e lutaria até seu corpo não aguentar mais. Assim que o JLTV parou por completo ele abriu a porta e começou a atirar, enquanto aproximava da cobertura mais próxima, onde outros dois soldados também se abrigavam. A chuva dificultava a visão, mas o rapaz de pele escura e sede de sangue não se importou, atirava sem cessar e a cada disparo sua ira aumentava, entretanto, quando estava a poucos passos da coberta, foi atingido por um disparo, que acertou-lhe direto no coração, fazendo-o cair no chão frio e molhado.

Suzana derrapou algumas vezes enquanto dirigia seu carro a toda velocidade, os pneus deslizavam pela estrada por causa da chuva que parecia aumentar cada vez mais, e ela receava perder o pouco controle que tinha do veículo. Observou com alívio veículos e tanques militares indo em direção contrária a sua, o exército estava se mobilizando para contra-atacar.

O rádio do carro informava que várias cidades dos Estados Unidos estavam sendo atacadas simultaneamente, assim como todo o mundo. O número de mortos aumentava a cada minuto e o desespero das pessoas aumentava junto. Enquanto estava no volante, a jovem psicóloga só pesava em seu jovem marido e onde ele estaria agora. Tentou afastar os pensamentos negativos de sua cabeça, contudo não conseguia e cada vez mais a vontade de chorar de desespero aumentava, mas ela sabia que não poderia fazer isso, não na frente de Katty, que passada a adrenalina inicial, percebeu o que realmente estava acontecendo e estava extremamente assustada com isso.

- Não se preocupe, vamos ficar bem. – Dizia ela para tentar acalmar a garota. – Estamos indo para um lugar seguro.

Apesar das palavras de conforto, Susana sabia que eram palavras vazias, e que o caminho ao qual faziam era incerto. Entretanto agarravam-se a qualquer pequena chance de esperança pois era a única coisa que lhes restava nesse momento. A estrada não estava vazia, vários carros seguiam para a mesma direção, alguns até na pista de mão contraria e todos correndo o máximo que seus veículos permitiam. Ninguém mais estava preocupado com as leis de trânsito, todos estavam unidos em um único objetivo: sair vivo dali e ir para o mais longe possível. Enquanto dirigia, as duas viram a vários veículos de distância, um carro perder o controle saindo da estrada e capotando, dando várias voltas no ar antes de bater no chão novamente. Assustados, muitos motoristas desviaram-se do acidente, provocando outro e outro. Em poucos segundos, sete carros já estavam capotados na pista escorregadia e molhada.

Antes que conseguisse andar mais um pouco vários carros que seguiam a toda velocidade à sua frente foram interceptados por veículos estranhos, que sem sombra de dúvidas, não eram humanos. Sem pensar duas vezes, elas saíram da estrada e seguiram rapidamente por outra rua, entrando em um complexo de pequenas casas, passando por quintais, e derrubando os cercados de madeira, enquanto outros carros eram atingidos pelos tiros que vinham dos carros dos alienígenas. Suzana passou a dirigir em ziguezague o máximo que conseguia assim que o primeiro tiro errou o carro e acertou um poste ao lado fazendo-o cair sobre uma árvore, nervosa, tentava desviar-se dos tiros e manter ela e a cunhada viva, mas apesar dos esforços, fora surpreendida quando um disparo acertou a parte traseira do carro levantando-o do chão, fazendo-a perder totalmente o controle. As duas garotas gritaram enquanto o veículo deslizava de cabeça para baixo levantando faíscas.

Quando o choque inicial passou, Katty ainda meio zonza pelo impacto olhou paras os lados, a fim de tentar entender o que aconteceu e viu Susana de olhos fechados, ao seu lado. O medo percorreu por toda a extensão de seu corpo e por alguns segundos ela hesitou. Seus olhos imediatamente encheram-se de lágrimas e lentamente levou a mão e tocou no ombro da motorista, que vagarosamente abriu seus olhos e refez o movimento que ela mesmo havia feito segundos antes. O alívio foi imediato, mas logo cortado por um cheiro estranho e familiar que saia do veículo. Susana não precisou de muito para perceber que o veículo estava em chamas, ordenou com urgência, que a garota saísse do carro e a mesma obedeceu sem questionar, pois, também já sabia do que se tratava. Ambas lutaram alguns segundos para conseguir livrar-se do cinto de segurança e quando finalmente conseguiram, abriram a porta e puseram-se a correr, entretanto o veículo explodiu em suas costas, arremessando-as para frente fazendo-as ir de encontro com o asfalto frio e molhado enquanto o sangue criava uma fina camada de vermelho que logo era dissolvida e espalhada pela chuva que caía sem nenhuma piedade.

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