48 - Chegada

2 0 0
                                    

Fazia tanto tempo que Katharine não via o céu azul, que até estranhou quando acordou e viu o dia claro. Existia ainda muitas nuvens negras, mas a cor celeste estava ali, mostrando finalmente toda a sua serenidade e tranquilidade. Ela ficou ali, apenas observando e só foi tirada do transe quando seu namorado chegou.
- Estava com saudades, não é?
- Com certeza. – Ela se aconchegou nos braços fortes do rapaz e olhou para o seu rosto. – Olha só você, sem barba, com o cabelo cortado....
- Pois é. – Ele disse, rindo envergonhado. – Bob me emprestou uma faca. Nunca gostei de usar barba.

A garota elogiou o visual do rapaz, já ela estava acostumada com o seu rosto coberto de pelos e nem estranhou os fios vermelhos, causados pela lâmina. Acariciou o rosto dele e o beijou amavelmente. Os dois ficaram ali, naquele romance enquanto soldados andavam de um lado para o outro. De repente a movimentação começou a ficar mais intensa e chamou atenção de todos. Até Susana estava agitada.
- O que está acontecendo Suzzy? – Perguntou.
- Black voltou, finalmente.

A psicóloga partiu junto com os soldados para poder recepcionar o veterano Major, vitorioso, que era recebido com salva de palmas e gritos de apoio. Ele e todos os guerreiros sobreviventes, todos cansados e machucados. Em um grupo, cercado por soldados, havia um enorme grupo de alienígenas, todos de cabeças baixas e arrastando os pês, prisioneiros de guerra que forma capturados. As pessoas atiravam pedras e lama nos invasores, enquanto xingava-os e proferia palavras de ódio. Susana foi contagiada pela a raiva geral e também atirou uma pedra, que acertou em cheio a cabeça de um deles, que gemeu de dor, mas não levantou a cabeça.

O dia foi de grande festa, pois a chegada do batalhão comandado pelo major Black significava vitória perante ao inimigo e que finalmente o mundo estaria livre dessa batalha sem precedentes na história. Os civis que estava ali, no acampamento, não tinham noção de como estava o mundo fora, e quando muito, imaginavam como estava os Estados Unidos. Talvez a jovem viúva fosse a única deles que sabia exatamente como a situação global era complicada e que a volta de Augustus realmente era uma vitória a ser comemorada, mas não era o fim da guerra.

- Como tem passado? – Perguntou o veterano, depois de prestar contas e fazer as formalidades a qual era obrigado.
- Melhor do que você. Está horrível. – O soldado havia perdido parte da orelha e tinha uma cicatriz gigantesca cortando o rosto na altura da bochecha. Além disso havia farias escoriações, cortes, e o braço esquerdo estava apoiado numa tipoia, enquanto com mancava da perna direita.
- Marcas da vitória.
- Vencemos?
- Em parte, sim. O México está quase livre, e as tropas sul-americanas estão trabalhando no que falta. Parte do exército americano também. O sul do continente está praticamente livre, enquanto o norte também.
- E quanto no outro lado?
- Segundo informações, os Russos estão se saindo muito bem. Recebi até o contato de um tenente que estava perdido. Segundo ele, o Marrocos e toda a região envolta dele está segura também. Acho que finalmente essa guerra vai poder acabar.

Os dias que se seguiram foram bastante diferentes dos dias anteriores, com o sol brilhando cada vez mais forte no céu e as nuvens negras se tornando mais claras e menos ameaçadoras. Era como se o próprio planeta estivesse dizendo para eles que a situação estava se acalmando aos poucos. Com o tempo, mais e mais civis foram chegando e logo aquele pequeno conglomerado de barracas se tornou pequeno e as pessoas armaram suas coisas ao redor da fortificação, mantendo sempre uma distância segura. Os boatos sobre o que se faziam com os alienígenas eram várias, e o mais comum e obvio dizia que eles estavam sendo estudados.

- Eu proponho mata-los todos. Manter eles vivos pode ser um perigo, caso resolvam se rebelar contra nós. Existe muitos civis aqui. – Disse Black, diante a corte montada.

- Concordo com o major. – Disse um outro Soldado, com várias medalhas em sua farda.
- Eu proponho um tribunal de guerra.
- Tribunal? – Retrucou Augustus. – Eles não merecem essa misericórdia.
- Eu entendo sua posição, Black, mas o mundo precisa ser reconstruído e não temos mão de obra humana suficiente.
- Eles destruíam, eles que reconstruam.

A discussão continuou acirrada durante algumas horas e a conclusão mais sensata para eles seria esperar contato com as tropas europeias e asiáticas.

Katharine, Clara, Emily e Susana estavam lavando as roupas, junto com outras muitas pessoas, usando uma água reciclada do banho, que teoricamente seria a mais limpa.
- Eu detesto usar essa água para lavar minhas roupas. – Reclamou Katty. – E se algum engraçadinho estava mais animado no banho e resolveu .... vocês sabem. – As garotas gargalharam da ideia da jovem.
- Eu também penso a mesma coisa. – Disse Emily. A gargalhada voltou. Algumas das pessoas que também estavam ali olharam para aquele grupo divertido.
- Eles devem filtrar essa água de alguma maneira. – Propôs Suzzy.
- Mesmo assim. Não deve ser tão eficiente. Lavar roupa na mão é uma porra.
- Literalmente! – Disse Clara, fazendo todos ali, inclusive alguns que não participavam da conversa rirem durante alguns bons minutos.

Uma área foi escolhida para que as roupas pudessem secar e aproveitaram o sol que finalmente aparecia forte. Mulheres e homens trabalhavam nas tarefas, de uma forma tão homogênea e natural que eles nem tinham ali realmente um líder. Os soldados não davam ordens e o civis não requisitavam uma. Quando os suprimentos se tornaram mais escassos, alguns homens, acompanhados de soldados, saíram para caçar enquanto os que ficaram se ocupavam com agricultura, plantando graus e frutas. Alguns queriam voltar para suas casas, mas a maioria sabia que não havia casa para onde retornar, e que ali, aquela fortificação era a nova residência, e como tal precisava crescer e prosperar. Susana ocupava-se a maior parte do tempo a sua 'clinica' improvisada, dando apoio aos civis e soldados, aliada a Clara e Emily que trabalhavam cuidando dos feridos. Algumas excursões eram feitas frequentemente, em busca principalmente de antidepressivos, para os soldados expostos ao HP-101, antibióticos e analgésicos.


- É engraçado como as coisas fluíram tão rapidamente aqui. – Disse Black para Amanda e Afonso, que observavam as pessoas trabalhando, enquanto aguardava respostas aliadas.
- É algo natural do ser humano. Evoluímos de sociedades como essa, então fazer isso é como um código adormecido nos nossos genes, que é ativado quando desastres acontecem.
- Você acha que a humanidade voltará a ser o que era, senhor? – Questionou Afonso.
- Talvez sim, Alves. Como Amanda disse, nossos genes estão programados para evoluir sempre. De qualquer forma nada será como antes, os polos industriais, culturais, nada mais será igual. O mundo se remodelará. 

Acima do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora