40 - Desespero

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Katharine estava correndo sozinha enquanto a chuva forte lhe obstruía a visão. Algumas gotas caiam próximas de mais de seus olhos, e por tanto ela não conseguia mantê-los abertos por muito tempo. A rua estava escura e nos prédios destruídos a garota conseguia ouvir os gritos de crianças desesperadas e, por mais que quisesse ajudar, sabia que se parasse de correr estaria morta. Suas pernas queimavam de dor e seu corpo inteiro estava quente, apesar do vento frio cortante a chicoteava. De tempos em tempos ela olhava para trás a fim de tentar ver seu perseguir e para sua surpresa viu apenas uma rua vazia e molhada. Por um segundo a garota pensou estar louca, mas novamente ouviu aquele terrível som e a escuridão se aproximando dela com sua voracidade destruindo tudo pelo caminho. Com um impulso vindo de suas últimas forças ela se pós novamente em disparada, mas sabia cada músculo do seu corpo estava a ponto de desistir. Ao longe a luz do poste indicava o único lugar seguro naquele mundo destruído, o único lugar onde ela poderia descansar um pouco, e por isso colocou toda a sua força de vontade em jogo para conseguir fugir do terrível mal.

Entretanto, quanto mais a garota corria mais o lugar seguro se afastava, como se também fugisse dela.
- Katharine! – Gritou Sebastian
- Katty! – Berrou Susana.
- Nos Ajude! – Implorou Clara, por fim.

A garota sabia que essas vozes não eram reais, eles não estavam mais lá. Ela não havia conseguido salva-los e agora seria assombrada para sempre até o fim de seus dias.

- Não! – Disse ela chorando, levando as mãos à cabeça. – Não!

Mas não adiantava. As suplicas do grupo ainda estavam lá, impregnadas em sua mente como um tumor que a cada segundo crescia mais e mais, roubando-lhe as poucas forças que lhe restavam. Finalmente, seu corpo falhou e ela caiu no chão molhado, com sangue ao seu redor, sangue dela, e sangue daqueles que ela não conseguiu salvar. Ela apenas conseguiu gritar alto e ter um último vislumbre do mal, antes dele toma-la por completo.

Katty acordou completamente encharcada de suor, apesar de fazer frio. Seu grito foi alto o suficiente para ecoar pela rua. Ela estava perdida.
- O que houve? – Disse Sebastian, correndo em sua direção e ajoelhando diante dela. Sem conseguir dizer nada, a jovem apenas o abraçou, chorando. Ela queria senti-lo e saber aquele terror não era real. – Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui. – Disse ele, dando-a um abraço apertado. – Eu não vou desistir de você. - Era tudo o que a garota precisava, seu corpo então começou a relaxar e seu coração lentamente foi voltando ao seu ritmo normal.

Susana ficou na porta, observando aquela cena junto com Clara.
- Eu disse a mesma coisa para o Carl, uma vez. – Disse ela. – Ele estava numa situação ruim, havia perdido o pai a poucas semanas e namorava uma garota idiota que com certeza não era o tipo dele. Na época ele ficou mal, não comia, não ia as aulas, e quando eu ia vê-lo era difícil conversar com ele. Depois a idiota terminou com ele sem motivo algum e o pobrezinho ficou arrasado, pois sempre se entregou de cabeça nos seus relacionamentos. Um dia fui até seu quarto, quando descobri que a 'namoradinha' dele o traia com um idiota qualquer, mas não sabia que seu relacionamento tinha acabado. Quando contei o que descobri ele ficou ainda mais arrasado. Ninguém sabia, mas ele pretendia se suicidar, e pela primeira vez eu pensei que iria perde-lo. – Ela parou e enxugou as lagrimas do rosto, que saíram contra sua vontade. A jovem psicóloga sentia tantas saudades do marido, mas era bom lembrar daquele tempo. Clara colocou a mão em seu ombro. – Eu dei uma bronca seria nele e por fim disse que não iria desistir dele. Alguns meses depois começamos a namorar e por fim nos casamos.

Quando terminou de contar a história, que Clara ouviu pacientemente, o silencio finalmente reinou na casa. Sebastian colocou novamente Katty para dormir e dessa vez deitou-se ao seu lado, era claro para as duas que ambos se gostavam bastante e que se eles saíssem vivos dali Suzzy com certeza iria querer ir no casamento deles.

Sem sono, Pratt e Martin sentaram na sala, onde uma singela fogueira crepitava e ficaram ali, conversando sobre medicina, música e ciências. A conversa durou várias horas e a jovem de cabelos só percebeu que havia dormindo quando acordou com chuva batendo na janela da sala. Levantou vagarosamente e partiu em direção a cozinha, pegou um copo, encheu com o filete de água que saía pela torneira e tomou um comprimido. Precisou de alguns segundos para perceber o som da batalha que acontecia à alguns quilômetros dali. Acordou todos os companheiros, que perceberam a situação e decidiram que era por melhor sair dali e procurar um lugar mais distante.

Entretanto, quando estavam a poucos quarteirões de onde passaram a noite viram soldados alienígenas vindo em sua direção e imediatamente entraram no prédio mais próximo e Sebastian os liderou até os andares mais altos, na esperança de que, caso tivessem sido vistos pelos inimigos e eles resolvessem ir atrás deles, teriam tempo para se esconderem e protegerem. Por sorte isso não aconteceu, mas a fluxo de soldados naquela área era imenso e o som da batalha se tornava cada vez mais próximos. As garotas estavam apreensivas e Sebastian também sentia medo, mas fazia de tudo para não demonstrar e passar para suas companheiras o máximo de confiança possível.

- Vamos ter que ficar aqui até a batalha acalmar. Depois que isso acontecer, vamos sair pelos fundos e fugir para o mais longe que a gente conseguir em segurança.
- E se ficarmos? – Questionou Katharine. – Talvez os humanos vençam essa batalha.
- Não quero apostar nessa opção agora. É mais seguro fugir e depois a gente vê quem ganha essa batalha.

Enquanto isso, Augustus Black liderava sua tropa num ataque surpresa, só que desta vez o inimigo não estava totalmente despreparado e tudo indicava que a batalha seria dura, entretanto eles haviam o fator preparo a favor, além da confiança dos soldados estarem renovadas pelas vitorias recentes. Enquanto Black se posicionava com a maior parte da tropa no centro do campo de batalha, Afonso e Amanda tomavam as rédeas da equipe que se posicionava ao flanco esquerdo. No fim, aquele esquadrão gigantesco se organizava em forma de lança, de forma que conseguia atacar o inimigo tanto pelo centro quanto pelos flancos o que tornava a batalha mais feroz e sangrenta. Os disparos iluminavam o céu cinzento, enquanto granadas e explosões inundavam toda a vizinhança com tremores e muito barulho.

- SEM PIEDADE! – Esbravejou o líder. – PARA A VITÓRIA! – E seus subordinados, preenchidos pela animação do comandante, conseguiram mais ânimo para a batalha.

O tiroteio continuou acirrado e apesar de estarem conseguindo recuar cada vez mais o inimigo, as baixas humanas eram grandes. Estava tudo correndo bem quando para tristeza do líder cansado, ele percebeu que os inimigos haviam recebidos reforços, e agora o número de soldados era maior do outro lado. Mesmo cansado ele novamente ergue a voz.

- VAMOS HOMENS! A VITÓRIA ESTÁ A NOSSA ESPERA! - Ele pegou o Rádio. - ALVES, NA ESCUTA? CÂMBIO.

- SIM SENHOR. CÂMBIO. – respondeu ele após alguns segundos.
- EU QUERO QUE ATAQUEM COM TUDO PELOS FLANCOS. REPETINDO, ATAQUEM COM TUDO PELOS FLANCOS, CÂMBIO.
- ENTENDIDO SENHOR. CÂMBIO. – A ordem foi repetida para James Greenfield, Tenente que comandava as tropas no lado posto. Ele sabia que a formação de lança era a melhor opção naquela situação, e estava na hora de fazer valer os ensinamentos que os antigos romanos haviam passados há tantas gerações. 

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