31 - Consequências

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- Estou cansando dessa chuva maldita. – Resmungou Dean, quando acordou. – Ela nunca acaba?

Fazia dias que o grupo estava andando e a chuva os acompanhava, hora mais forte, hora mais lenta e em alguns momentos raros parava um pouco, entretanto por mais que o sol tentasse, não conseguia se sobressair as nuvens negras carregadas que haviam dominado o céu. Os jovens estavam agora num apartamento grande, com três quartos e uma sala gigante. A TV disposta na parede chamava atenção pelo tamanho, assim como o sofá que um dia havia sido uma bela peça de decoração, mas que agora se resumia a um monte de pano parcialmente queimado, assim como a maioria daquele lugar. Apesar de não ser a melhor habitação, dentre as opções que existiam inclusive no prédio, o andar em que o mesmo estava localizado e a quantidade de comida assim como de cobertores era um atrativo e tanto para aquele grupo de pessoas sujas, cansadas e derrotadas, mas que ainda sim batalhavam cada dia pela sofrida sobrevivência.

Dean colocou a coberta de lado e levantou-se lentamente para não acordar Clara, que dividia a cama com ele. Pegou sua muleta improvisada e olhou pela janela enquanto a chuva forte batia contra o vidro e alguns pontos de fumaça subires pela cidade. Ouviu também o tiroteio incessante, que ocorreu durante toda a noite, e que agora, com o sol iluminando precariamente o campo de batalha, estava mais forte. Explosões e gritos eram constantes e já não mais incomodava o gorducho. Lentamente com bastante esforço dirigiu-se para a cozinha e encontrou Sebastian em pé, com o rifle que pertencia a Jacob pendurado nas costas dele.

- Você nunca larga essa coisa? – Questionou.
- Uma coisa que ele me ensinou, foi a nunca largar. O perigo vem de todos os cantos.
- Que seja. – Respondeu o garoto sem dar muita importância. Pegou um pão e encostou na bancada, olhando para a mobília.
- Os caras que moravam aqui, provavelmente eram bem ricos.
- Com certeza. Eles tinham uma boa vida aqui, antes de tudo isso.
- Todos nós tínhamos uma boa vida antes de tudo isso.

Pouco tempo depois, Katharine levantou-se. Vestindo apenas uma longa camisa do famoso time de hockey Edmonton Oilers, cujo a fama ficou eternizada pelo seu centroavante mais famoso. Se espreguiçou na porta do quarto, ainda de olhos fechados sem se importar com quem a observava. Sebastian ficou ali admirando a beleza da garota, com seu corpo atlético e a pele morena com um brilho e a macies inigualável, seus cabelos negros, aos olhos do rapaz, pareciam tão escuros quanto a noite e completamente mais mortal. Seu rosto, apesar de machucado e visivelmente cansado, ainda mostrava uma energia inesgotável, uma garra incomparável. O jovem Meulmeester se pegou hipnotizado pela beleza da jovem morena e só conseguiu para de olhar quando sua ouviu a indagação do colega que estava ao seu lado.

-Você não sente frio, garota?
- Gosto de dormir com pouca roupa. Além do mais, parece que faz séculos que eu não durmo num cobertor tão gostoso quanto esse. – A garota foi se aproximando, e passou a mão no braço de Sebastian, que ainda não conseguia desgrudar os olhos dela. Aos poucos, os outros integrantes do grupo foram acordando e se juntando na cozinha para poder fazer o dejejum e reclamar do mau tempo. Eles estavam ali a quatro dias, descansando antes de retomar a viagem que, no fundo, já não era mais sobre chegar na próxima cidade, e sim se manter vivo até o próximo dia. Susana foi a última a acordar e se sentia estranha, seu corpo inteiro doía e Clara disse que era apenas uma reação ao trauma que havia passado, com um prédio caindo em sua cabeça, mas ela sabia que era uma dor diferente. De repente, no meio de uma conversa, a garota sentiu um liquido quente escorrer pela perna e pensou ser café que derramou, até abaixar o olhar e ver aquele filete rosa saindo aos montes do seu corpo. Sua visão tornou-se imediatamente turva, e o corpo perdeu totalmente o peso, sendo impedido de cair no chão pelos braços fortes e reflexo rápido de Sebastian, que prontamente a carregou até a cama. Clara pediu para que todos saíssem e pegou um absorvente estava no kit montado pelas meninas e usou para estancar o sangramento que já tornara o lençol vermelho. Pegou um em uma das mochilas um remédio e fez com que a moça o engolisse a seco, pois não tinha tempo para buscar água.

- O que é isso? – Questionou ela.
- Calma. Vai ficar tudo bem. É normal isso acontecer com grávidas que sofreram traumas recentes.
- Meu filho...
- Respira. Como eu disse, vai ficar tudo bem.

Suzzy tentou se manter acordada, mas a voz da garota de cabelos curtos foi ficando cada vez mais distante até sumir na escuridão. Por sua vez, Clara levantou-se e saiu do quarto, tentando ao máximo omitir a cara de pesar em seu rosto.

- Ela está bem? – Questionou imediatamente Dean, enquanto a porta do quarto era fechada. A preocupação do garoto era quase palpável.
- Ela vai ficar bem, mas precisa descansar. E precisa de remédios que não temos aqui.
- Eu acho que tem uma farmácia à alguns quarteirões daqui. Podemos ir lá buscar o que precisa. – Sugeriu Sebastian.
- Eu vou. – Se prontificou o gorducho.
- É melhor que eu vá, Dean. – O garoto percebeu que enquanto sua perna estivesse naquele estado, não era nem um pouco útil.
- irei também. Enquanto isso, Katty fica de olho em Susana e você toma conta de tudo. Voltaremos o mais rápido possível. – Disse Clara, mas o rapaz de cabelos bagunçados nem deu ouvidos, e encostou-se na porta do quarto, olhando para o chão fixamente.

A quase enfermeira abriu a porta do apartamento e saiu, seguida pelo rapaz musculoso que empunhava o rifle e estava atento a todas e quaisquer inimigos que pudessem aparecer. Desceram os vinte andares de escada e pararam no lobby do hotel. Observaram a rua e seguiram pela esquerda, acompanhados pelos tiros e explosões não muito longe dali ambos com o coração na mão e os nervos à flor da pele. 

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