A chuva caia forte quando Sebastian finalmente recobrou a consciência. Ele tentou se mover, mas ainda estava zonzo e com a visão turva e, portanto, preferiu ficar imóvel durante algum tempo até se recuperar totalmente. De repente, ele ouviu um som bastante familiar e percebeu se tratar de um gemido baixo ao seu lado. Dean estava ali, tentando bravamente se desvencilhar dos escombros que se amontavam sobre seu corpo. O cenário atual era de pura destruição, com sague e sujeira manchando o chão de asfalto enquanto a chuva tentava limpar, o ataque surpresa por muito pouco não custou a vida de todos que estavam ali.
Quando se sentiu apto novamente, o rapaz levantou e a ajudou o garoto a sair dali, para perceber então que sua perna estava quebrada. A dor que o jovem sentia era alucinante, mas ele reuniu toda a força para se manter firme. Em seguida, Clara levantou-se, mas cambaleou e caiu novamente. Um filete grosso de sangue manchava a lateral esquerda do seu rosto. Seu corpo estava coberto de escoriações e pintando em um tom de cinza da poeira causada pela demolição do prédio. Katherine e Susana foram as últimas a acordarem.
Katty tinha quebrado dois dedos e estava com um ferimento no braço, mas nada que fosse realmente um problema para Clara, que depois de ajuda-la, improvisou uma tala para Dean que ficou sentando segurando ao máximo para não chorar. Suzzy por sua vez estava deitada de costas para o asfalto frio e molhado, com um pedaço bastante pesado de parede em cima dela. A jovem sentia todo o pesado em sua barriga e pernas, e somente com a ajuda de Clara e Sebastian que conseguiram finalmente livra-la de seu tormento.
O grupo recuperou uma das mochilas que tinham e perceberam que a maioria de seus pertences estavam espalhados pelo chão, alguns totalmente destruídos, parcialmente. Quando estavam livres, Dean foi o primeiro a dar falta de Jacob já que o velho ainda não tinha dado nenhum sinal de vida. Primeiro o grupo imaginou que ele já havia acordado e estava dando uma volta pela área, afim de ver como estava a situação atual. Era obvio para eles que os invasores já haviam se retirado, mas com certeza a explosão deve ter chamado atenção de outras pessoas que provavelmente ainda estavam pelas redondezas.
Foi enquanto tentava recuperar os objetos pelo chão, que ainda tinham alguma utilidade, que Clara percebeu algo embaixo do amontoado de tijolos e cimento. Bem próximo de onde Susana estava havia uma pessoa, ou partes de uma. O corpo do velho madeireiro estava esmagado pelos escombros, com o seu tronco transformado em nada mais do que uma massa rosa de gosmenta e foi somente graças a ele, que a psicóloga saiu viva dos escombros, pois o corpo dele impediu a parede de se chocar totalmente contra a garota, e o preço para isso foi a morte.
Sebastian quando viu a situação entrou em desespero, pela primeira vez desde que tudo havia acontecido o grupo se viu sem o auxílio do experiente Jacob, que os ajudara a passar por momentos bastante difíceis. Por mais que tentasse parecer forte e sob controle, o rapaz com tatuagem no braço estava completamente perdido. Sentou-se no chão, de frente para o que um dia foi Vasin e ficou ali, olhando a cena grotesca enquanto chorava. Clara e Katty estavam mais afastadas, enquanto Susana sentou-se ao lado de Dean.
A situação se manteve imutável durante vários minutos, até que Meulmeester finalmente entregou os pontos. Toda a sua esperança havia escorrido, assim como a água da chuva pelo asfalto.
- Do que adianta agora? – Esbravejou ele, com os olhos vermelhos e inchados. – Ele morreu. Estamos completamente fudidos, machucados e sem nada. – Todos se calaram por completo, enquanto somente a chuva quebrava o silencio.
Foi então que o garoto gorducho do grupo se levantou. Sua perna quebrada lhe limitava bastante os movimentos, além da dor que era constante. Mancando, Dean lentamente andou até estar de frente para o jovem caucasiano de cabelos negros que chorava como um filho que perdera o pai. Por não mais do que dois ele foi fuzilado pelo olhar penetrante de Dean, que ainda não havia pronunciado nada.
- Você acha que o velho Meulmeester iria querer ver seu filho chorando como uma criança, senhor Sebastian? – Disse ele, frio como um cubo de gelo.
- Meu pai está morto! – Refutou.
- Adam também se foi. Mas eu tenho certeza que nenhum dos dois gostaria de nos ver desistindo, senhor Sebastian.
- E o que vamos fazer? Correr para uma cidade que provavelmente está destruída e morrer de fome? Ou talvez morrer antes de chegar lá, como aconteceu com Jacob e ... – Um sonoro tapa ecoou pela rua, e logo foi morrendo lentamente, sendo sobrepujado pelo ininterrupto som da tempestade que caia sem trégua alguma. O rosto rapaz ficou vermelho imediatamente e seu olhar tornou-se perdido por alguns segundos.
- Se você quer ficar aqui, senhor Sebastian. Pois que fique. Eu sei que o você está sentindo. Deus sabe que sim. Mas precisou de outra pessoa me dizer que havia uma solução. Jacob, Adam, seu pai, nenhum deles gostaria que desistíssemos ainda. Você pode ficar, e talvez sobreviva por um bom tempo. Ou você pode continuar lutando. E quem sabe ganhar uma chance, apenas uma chance, de dizer que eles podem tirar nossas vidas, mas não podem tirar nossa liberdade.
- Coração valente? – Sussurrou Clara, para Susana, que observava com o orgulho o seu mais novo amigo e recebeu um aceno de cabeça, confirmando de onde havia vindo a inspiração para o discurso motivacional.
- Dean tem razão, Sebastian. - Disse a psicóloga, aproximando e passando o braço pelo ombro do jovem gorducho. - Ele lutou até o fim, e morreu como herói. Se não fosse ele, eu estaria ali. Minha vida e do meu futuro filho foram salvas por ele. Não vamos desperdiçar a oportunidade.
Dean quase deu um pulo, ao ouvir as palavras da garota de cabelos negros e longos, completamente sujos. De todos ali, talvez ele fora o único que não percebera que Suzzy estava gravida, e todos riram da situação. Era um momento alegre em meio a tanta tragédia. Enxugando as lagrimas com as costas da mão, o rapaz musculoso percebeu que eles tinham razão. Agora cabia a ele tomar as rédeas da situação e liderar aquele grupo de desesperados até um lugar seguro. Era claro que o jovem não estava preparado, mas mesmo assim aceitou a responsabilidade de continuar em frente, em memória de seu pai, de seus amigos, e principalmente pelos que estavam vivos, e contavam com ele para continuar assim.
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Acima do Céu
Science FictionO mundo está em perigeu. O ar e água estão poluídos, necessita-se mais de energia do que o próprio sol produz. O planeta nunca teve tanta gente viva ao mesmo tempo. Os governantes estão reunidos mas não sabem o que fazer. Um grupo de estudantes da u...