18 - Talismã

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O céu ainda estava encoberto pelas nuvens negras que anunciavam a tempestade. Chovia a mais dias do que Carl conseguia contar e ele detestava isso com todas as suas forças. Ele estava no convés principal, observando seus homens trabalharem incessantemente para atender toda a demanda da guerra sem precedentes. Todos aqueles soldados foram pegos de surpresa e agora estavam em uma batalha de vida ou morte contra inimigos vindos direto de seus piores pesadelos. Carl tentava falar com sua esposa, mas o telefone dela estava fora de área ou desligado. Pelo menos era isso que o capitão-tenente gostava de pensar para tentar acalmar seu coração. As notícias que eles recebiam eram cada vez piores e isso o assustava profundamente. Fazia três noites que o rapaz não conseguia dormir direito e isso o afetava. O capitão do navio tentava-o acalmar, mas também estava tão assustado quanto ele.

- Andem logo com isso senhores! – Gritou Carl para os rapazes. – Quero essas coisas no ar em treze minutos.

Os soldados continuavam trabalhando e preparando as aeronaves para ir a terra dar suporte para os guerreiros que batalhavam e davam suas vidas para tentar proteger a sua casa. A batalha acontecia em todo o globo, e várias cidades já haviam caído, como Buenos Aires, Cairo, Paris entre outros. Todo mundo lutava com unhas e dentes para eliminar os invasores, entretanto a batalha estava longe de estar a favor dos terráqueos. Os inimigos eram fortes, resistentes e precisos. Apreciam maquinas de combate, imparáveis e sem nenhuma noção de sentimentalismo. Matavam tudo o que estavam pela frente e a cada dia que se passava, se tornavam mais e mais fortes, construindo bases e recolhendo equipamentos dos caídos, criando fortificações e centrais de comando. As naves de suporte deles haviam parado de chegar e isso alegrara um pouco os donos da casa, pois acreditavam que tudo o que tinha para chegar, já estava aqui

Carl virou-se e deixou os trabalhadores no convéns e dirigiu-se até a cabine principal, onde o Capitão Augustus Black olhava atentamente um mapa de navegação aberto na mesa. Ele parecia cansado e bem mais velho do que realmente era, com olheiras gigantes devido à falta de sono e rugas por todo o rosto. Ele olhou Carl se aproximando e deu uma última olhada para as localizações marcadas no mapa.

- Capitão Black. – Disse o jovem, prestando continência.

- A vontade Martin. – Respondeu ele. Como se estivesse num filme de guerra, o capitão pegou um charuto e levou a boca, acendendo em seguida e dando uma longa tragada, soltando a fumaça toxica do produto para o ar, distraidamente.

- Parece cansado, senhor.

- Não estou conseguindo falar com Jade e com Tony. Eles se separam da mãe. – Jade era a filha mais nova de Augustus, uma garota serelepe e cheia de vida, ao contrário de Antony, o irmão, que sempre fora focado nos estudos e muito recluso, Preferindo tecnologia e livros do que esportes e aventuras.

- O que Jade tem de agilidade, Tony tem de inteligente. Aposto que eles estão juntos.

- Os dois são uma dupla bastante controversa.

- E bastante forte também, senhor.

- Você tem razão, Martin. – Ele estava distraído, com o pensamento em outro lugar, sonhando com uma rede e em um lugar fresco. Ao lado, sua esposa e ao fundo sua filha brincando no lago enquanto o rapaz estava dentro da casa, montando outro robô ou componente eletrônico. Mas infelizmente para Black, a realidade era triste, fria e cinza. – Tenho certeza que você não veio aqui para me confortar.

- Gostaria de permissão para ir em terra junto com os soldados, senhor.

Black rodeou a mesa e foi em direção dos controles, que piscavam e brilhavam como uma arvore de natal. Havia operadores ali trabalhando intensamente, ignorando totalmente a conversa entre os dois oficiais superiores. O capitão do Valquíria sabia o que significava o pedido do rapaz e sabia também o que isso implicava a ele, como superior. Era obvio que o jovem Carl precisava ter notícias sobre sua esposa, mas Black precisava do rapaz ali, pois ele era uma inspiração para os jovens cadetes além de um líder exemplar. Um dos melhores soldados naquele navio e o capitão se orgulhava de tê-lo por perto.

- Você me faz um pedido muito sério, Tenente Martin. – Disse ele após um longo e sonoro suspiro. Deu mais um trago antes de continuar. – E sei exatamente o motivo desse pedido.

- Então acredito que o senhor entende e vai me deixar ir, senhor.

- Você é o melhor nesse navio Martin, não posso simplesmente deixa-lo ir. Aqui é mais seguro e preciso de toda a sua sabedoria nesse momento. Estamos em guerra filho.

- Mas senhor...

- Martin! – Interrompeu bruscamente, soltando um suspiro cansado em seguida – Chame o cabo Alves, eu o mandarei atrás de informações sobre a sua esposa. É tudo o que eu posso fazer. Está dispensado.

- Senhor...

- Dispensado! – E então, Black se virou e levou o charuto na boca, olhando para frente através das janelas de vidro temperado que lhe davam uma bela visão.

Carl saiu da cabine transtornado, e dirigiu-se rapidamente até seu aposento. Ao chegar, pegou uma foto de Suzzy que ele deixava colada próximo a sua cama, de forma a olha-la todas as noites antes de dormir, contemplou-a por um momento, tentando buscar no sorriso retratado na imagem, a calma e a confiança ao qual precisava. Com um suspiro e uma ultima olhada, colocou a foto no bolso e saiu a procurado de Cabo Alves.

Afonso Juan Alves era filho de espanhola mas nascera nos estados unidos. Seu pai era piloto de avião, e sua mãe agente de bordo. Ele cresceu viajando e conhecendo o mundo e quando chegou a idade, decidiu que entraria para o exército americano. Sempre foi muito fã de personagens como Rambo e Chuck Norris e apesar de gostar de viajar, sempre sonhou em ser fuzileiro. Acabou na marinha pois percebeu que ali sim era o lugar que ele deveria estar. Era jovem e meio imprudente, mas dedicado e se esforçava para ser reconhecido. Estava verificando o equipamento do MI-24 quando percebeu a presença de seu superior.

- Capitão Martin. – Disse ele, parando imediatamente seus afazeres e prestando continência. Seu sotaque latino deixava claro sua descendência.

- Cabo. – Ele retribui o gesto. – Black quer vê-lo.

- Irei assim que acabar com essa belezinha aqui, senhor. – Disse, e não pode deixar de observar os traços de tensão, mais que o habitual, no rosto de seu superior.

- Você vai precisar disso. – Alves pegou a foto que Carl o entregava. Na imagem, uma mulher muito bonita sorria carinhosamente para o fotografo. Ele observou-a durante alguns segundos, impressionado com a beleza da mulher.

- Essa aqui não é ... – Disse ele voltado a realidade, mas o Capitão-Tenente já estava voltando de onde veio, parecia levemente cabisbaixo para o Cabo. Olhou novamente a foto e então sua ficha caiu e ele sentiu seu interior esfriar quando entendeu sobre o que se tratava. Pensou em ir confortar seu oficial superior, mas achou que não seria o melhor momento para isso e além do mais, aquele helicóptero precisava de atenção imediata, e ele tinha ordens a seguir. 

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