2 - O Fim De Tudo

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Era quase dez da manhã quando a mensagem chegou ao telefone de Carl. Ele sabia o que estaria escrito, mas não queria ler. Não se sentia forte o suficiente para ler aquelas palavras. Seu coração já estava apertando quando finalmente, respirando fundo, resolveu que iria abrir e enfrentar o que viesse. As letras pareciam grandes demais, desaninhadas e meio embaçadas. Talvez pelas lagrimas que enchiam os olhos do rapaz. " Desculpe Carl, mas não acho que deveríamos continuar. Você tem seus objetivos, eu tenho os meus. Quem sabe um dia a gente se encontre de novo."

Assim que a mensagem terminou de ser lida, o rapaz não conseguiu conter as lagrimas, que desciam como rios pelo seu rosto acobreado. Seu dia estava acabado, assim como o resto da sua semana. Sua irmã bateu na porta do quarto algumas vezes, tentando faze-lo conversar para se distrair, mas tudo o que conseguiu foi resmungos e choro como resposta. Ele estrava junto com Yasmim a três anos, desde que saiu do ensino médio. Assim como seu pai, ele queria entrar para as forças armadas e se tornar um marinheiro. A garota por outro lado, ainda estava na escola mesmo sendo um ano mais velha que ele, não tinha planos e só queria saber de curtir e festejar.

Os dias foram passando cada vez mais sombrio para Carl. Ele estava comendo cada vez menos, chegando a passar dois ou até três dias sem fazer uma refeição completa.
- Filho, não vai jantar de novo? - Perguntou Maria, com um prato de comida na mão, tentando fazer seu primogênito comer pelo menos um pouco. Ela se preocupava com a situação dele. - Você precisa comer.
- Não tenho fome mãe. - Ele sempre respondia a mesma coisa. Sabendo que não conseguiria nada, deixou a comida na geladeira, ainda com esperanças de que ele mais tarde sentisse vontade. A campainha tocou e Katharine foi abrir. Ela era a mais jovem da família, mas não se deixava levar pela pouca idade. Sendo cinco anos mais jovem que seu irmão, ela gostava da independência e fazia tudo para tê-la. Conseguiu um emprego num salão de beleza próximo, onde trabalha quatro horas por dia. Recebia um muito baixo, mas mesmo assim se orgulhava muito disso.

- Olá Katty.
- Oi Suzzy. Entre, por favor! - Susana era a melhor amiga de Carl. Eles se conheceram a anos, na escola, e desde então nunca se separam. Sempre nos momentos mais difíceis, a jovem de cabelos dourados estava próxima do seu amigo para conforta-lo e faze-lo seguir em frente. Ela sabia tudo sobre ele e verse e versa, assim como entendia como funcionava a cabeça do rapaz. Nutria por ele um sentimento forte e graças a esse sentimento, seu primeiro e único relacionamento acabara. Agora ela estava lá, para mais uma vez, tentar ajudar seu fiel companheiro.
- Olá Susana!
- Oi dona Maria. - Ela abraçou a anfitriã. - O Carl está ai?
- Ele está lá em cima, sem comer de novo.
- Ainda bem que cheguei então. Vou enfiar comida pela garganta dele se for preciso.

As duas gargalharam da situação, mas a jovem não brincava quando a isso. Ela pegou a comida e levou até o quarto, entrando seu bater. O jovem de cabelos negros estava deitado na cama, com a cabeça enfiada no travesseiro abafando os sons de suas lagrimas. O lugar estava bagunçado, com livros e revistas jogadas pelo chão, junto com restos de comida velha e roupas. As cortinas azuis escuras tampavam os raios de sol de entrarem no quarto. Somente quando as abriu, Carl percebeu que ela havia chegado e protestou veementemente a presença dela ali. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, assim como seu rosto, sua voz esganiçada e os cabelos despenteados. O rapaz estava deplorável, e Suzzy sabia disso, e por esse motivo viera ali novamente. Nas últimas semanas, ela aumentara a frequência das visitas, mas via seus esforços cada vez mostrando menos resultados.

- Sabe Carl. Estou cansada. - Começou ela, sentando-se na cadeira giratória do computador. E ficando de frente para ele, que deitara novamente na cama.
- Então vá para casa
- Estou casada de você. - E nesse momento, ele a olhou e seus olhos encheram novamente de lagrimas. Com certeza não suportaria vê-la ir também. De todas as pessoas do mundo, Susana era uma das três que ele não queria perder nunca.
- Suzz...
- Quando eu te conheci. - Interrompeu ela. - Você era alto, forte, gentil e inteligente. Bem diferente dos outros caras, que se achavam por ter corpos atléticos e adoravam mostrar. Quando eu te conheci, você me defendia dos valentões e brigávamos juntos contra eles. Se apanhavam, apanhávamos juntos, se vencíamos, vencíamos juntos.

- Você tinha um sonho. - Ela agora olhava pela janela do quarto. de costas para ele, que a escutava atentamente. - E me lembro que uma vez você disse que nada te impediria de conclui-lo. Agora olhe pra você, nesse estado que chega a dar pena. - O rapaz olho para si e novamente chorou. - Eu te vi chorar uma vez. Quando quebraram meu braço na quadra, e mesmo assim, isso só aconteceu por que eu gritava tanto que todos acharam que eu estava morrendo. Agora, como está? Chorando por conta de uma vadia que traia com o Jonatan. - O rapaz olhou assustado para a garota que agora o encarava, de braços cruzados e olhar carrancudo.
- O que? - A notícia o pegou desprevenido. Ele não sabia da traição da sua amada garota. A dor no seu peito aumentou tanto que mal conseguia respirar.
- Eu descobri antes de vir para cá. Já estava investigando a tempos.
- Você não deveria ter me falado isso!
- NÃO?! Você é um idiota Carl! Chorando por uma vadia? - Ela novamente olha para janela. - Fico imaginando o que seu pai faria.
- Ele morreu! - Ele esbravejou. Seu pai morrera a algumas semanas antes do fim do relacionamento. Era como se tudo na sua vida estivesse ido por água a baixo. Ele sentia-se sem nenhum motivo para continuar vivo. Susana não sabia, mas ele tinha uma corda escondida embaixo da cama, e pretendia usa-la para se enforcar, mas a garota chegou e acabou atrapalhando seus planos.
- Não garoto idiota! Ele não morreu! Sabe por quê? Por que ele vive no seu coração, e enquanto ele estiver aí, enquanto você se lembrar dele. Ele ainda vai estar vivo.

- Quer saber Carl? Vou lhe contar um segredo. A vida é cruel! Ela vai bater tão forte em você que você vai sentir como se seu chão estivesse desabado e que tudo foi para os ares. Mas não se trata de bater forte, se trata do quanto você é capaz de apanhar e continuar tentando! Você sabe o seu valor, então vá atrás. Ela não era a garota pra você, seu grande babaca! Uma vadia que fumava maconha e repetia de ano? Sério? Ela nem sabe o que hipotenusa. Nunca esteve ao seu lado, nunca segurou sua mão quando teve medo de andar de avião. Ela nunca gostou de você, garoto.

- Agora, ela deve estava enchendo a cara e rindo de você.
- É o que eu posso fazer?! ME DIZ?
- Você pode lutar! - Segurou ele pelos braços e olhou fundo em seus olhos. - Mostre para ela que você não é um idiota. Prove para sua mãe, que você é um bom filho. Seja o exemplo para Katty. Prove para mim, que o Carl que eu conheci não está morto.

As palavras entraram fundo na mente do rapaz. Ele precisava ouvir tudo o que a jovem dizia, por mais dura que fosse as palavras. Ela levantou-se e foi a até a porta.
- Eu fiz tudo o que eu pude por você, e não vou desistir agora.
- Obrigado Suzzy.

- Se que me agradecer, levante-se e prove pra mim que não é um covarde que vai se suicidar com uma corda dentro do quarto.
- Como você...- O rapaz estava espantado novamente. Ele não havia contado para ninguém sobre aquilo, nem mesmo feito mencionado nada relacionado, era impossível ela saber.
- Eu conheço você, seu grande idiota. E mais uma coisa. - Disse ela antes de sair. - Tome um banho. Não dá pra sair com você assim, está nojento. - Com um sorriso faceiro no rosto, ela o deixou afogado em seus pensamentos e foi sentar-se no sofá, enquanto Maria se despedia para ir trabalhar. Sentiu que a garota havia feito progresso, somente pelo jeito como ela estava e por isso, foi trabalhar mais feliz.

Quando desceu as escadas, Carl encontrou a menina de cabelos dourados jogada no sofá, como um garoto. Ela olhou para ele e o avaliou dos pés a cabeça. Seu olhar ainda estava abatido e seu rosto triste, mas era um progresso. Levantou-se apressadamente e ambos saíram, sem nenhum rumo definido. 

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