27 - Batalha

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O sol brilhava alto no céu quando o capitão Akbah investiu como um touro selvagem contra o tenente humano, que mal teve tempo de esquivar quando foi pego pelas pesadas mãos do inimigo que agora o erguia no ar como um boneco de pano. O jovem pensou que havia sido uma má ideia escolher o lado onde o sol limitava a sua visão, mas agora era tarde demais e ele precisava se adaptar aquela adversidade. Talvez o inimigo havia se sentido ofendido com as palavras do humano e decidiu que queria faze-lo sofrer o máximo antes de acabar com a sua vida e por isso o atirou o mais longe que conseguiu, parando em uma parede de ferro, fazendo com que todo o ar de seus pulmões se esgotava.

Seu ar para respirar, o soldado apenas viu o seu rival erguer os braços num sinal universal de superioridade, enquanto a plateia vibrava com aquela demonstração de força. Caminhando com calma, o Catian aproximou-se do jovem humano e acertou um chute bastante forte na cabeça do rapaz que tentava levantar. O impacto foi tão forte que ele viu um dente sair voando enquanto o sangue manchava o chão. Julwry estava apreensiva observando a batalha em silencio enquanto Vteay se deleitava com a visão.

- Parece que seu amante não é tão forte quanto parece. – Ironizou ela. Mas a provocação foi ignorada. – Pensando bem. Você não merece ver esse massacre. Guardas! Levem-na para a prisão.

- O que? – Respondeu a dartaniana.

Com sua visão periférica Burrowes viu sua amiga e companheira aos berros por soldados, mas ignorou o fato, pois havia problemas maiores para resolver. Aproveitando a soberba do adversário, o tenente investiu, contudo, contra ele, que estava de costas e virou-se a tempo de ver o terráqueo pular para acertar-lhe um soco no rosto, que o desequilibrou momentaneamente. O tenente tinha uma carta na manga e era agora a hora de colocar em pratica. Arkbah levou a mão na boca e viu algumas gostas de sangue causada pela porrada que levara. Com desprezo ignorou o ferimento e voltou sua atenção para o pequeno verme que o acertara, mas era tarde demais. Sem saber de onde ele tirar, o rapaz apontava-lhe uma pistola nove milímetros que não hesitou em disparar, acertando o peito do dartaniano, que caiu no chão pelo impacto. Novamente os soldados se surpreenderam com a reviravolta da batalha. Subindo no corpanzil inimigo caído, o tenente apontou a arma para o rosto do derrotado que não entendia nada.

- Mas como? Isso é contra as regras! Você disse que não usaria armas!

- Eu disse, seu grande idiota com cara de inseto, que eu não usaria SUA arma para vencer. E como pode ver, estou usando a minha.

- Espere...

- Como diria o exterminador: Hasta la vista. – E com a famosa frase, o rapaz descarregou o pente da arma, com cada disparo fazendo o corpo se retorcer todo. No fim, o rosto do antigo capitão era apenas uma maça cinzenta irreconhecível.

Todos estavam em choque, paralisados sem reação alguma. O vencedor então, usando as próprias mãos, arrancou do peito do derrotado o símbolo do distrito a qual ele estava juramentando e ergueu para que todos pudessem ver. Virou-se para Vteay e cuspiu no chão. A garota, ao ver aquela cena ficou em pânico e se preparava para dar as costas quando os soldados que há protegiam impediram-na de se mover. Esbravejando e xingando, ela tentou se libertar, mas não foi bem-sucedida. Com um movimento de mãos, Johan ordenou que ela fosse trazida ante a sua presença.

- O que você vai fazer, verme? – Disse ela, ainda tentando ser superior, mas o medo em sua voz impedia que isso acontecesse.

- Mantenham-na aqui. Imóvel.

- Você não é um líder Dartaniano! – Esbravejou novamente Vteay e como resposta recebeu uma bofetada com as costas da mão do tenente, fazendo-a calar imediatamente.

- Agora sou. Você! Leve-me a prisão.

Sentada num canto da sala, Julwry ouviu disparos e seu coração bateu mais rápido. Ela não tinha a menor ideia do que estava acontecendo lá fora, mas sabia que as coisas não estariam bem para o seu amigo humano. Estava esperando a hora que iriam trazer o seu corpo sem vida. Quando viu um soldado se aproximando sentiu pela primeira vez em muitos anos medo e aflição. Entretanto de traz dele surgiu um ser pequeno e visivelmente machucado, com um filete de sangue saindo da boca e o rosto inchado e completamente roxo. Com um sorriso no rosto e o peito estufado, o rapaz andava com calma enquanto o soldado se adiantava para abrir a porta em silencio. Assim que estava livre de sua prisão, a garota correu para abraça-lo que gemeu de dor, já que talvez duas ou três costelas estivessem quebradas.

- Mas como...?

- Mágica. – Disse ele balançando os dedos na frente do rosto dela. Johan riu daquela cena ridícula e ambos seguiram para o centro do campo de batalha, onde a maioria dos soldados estavam lá, esperando uma execução em público. Quando chegou, Julwry não conseguiu esconder a surpresa ao ver o resultado da sangrenta e terrível batalha que acontecera a poucos instantes e só parou de olhar quando percebeu os xingamentos vindo de Vteay para ela.

- O que você quer fazer com ela?

- Eu não sei. Você é um Air agora. Decida.

- Quem controla Urey?

- Ainda é ela, já que você a desafiou pelo controle de Uoy.

Então a cabeça do soldado começou a fervilhar ideias.

- Você disse que Urey e Uoy seria imbatível, correto?

- Sim. Antes que pense. Não vou deixar meus soldados lutarem contra o seu próprio povo.

- Mas isso mudaria o destino da batalha. Salvaria a Terra!

- Minha resposta ainda é a mesma. Olha, Johan. Eu sei que você quer salvar o seu povo, mas eu também. Não posso deixar meus soldados lutarem entre si. Isso não beneficiaria nem a mim, nem a você.

Mas o tenente não sabia direito o que fazer. Sabia que as coisas estariam feias para os humanos, pois sabia do potencial que os alienígenas tinham. Estava agora com uma decisão difícil a ser feita, mas ele tinha convicção de que fazia a coisa certa e aceitara as consequências que viessem.

Essa é sua resposta final? – Disse ele, com o rosto sério e olhar penetrado.

- Sim. – Respondeu a garota, no mesmo tom e postura.

- Muito bem. Já que assim seja.

- Air. – Disse um soldado, no momento em que o agora líder de Ouy iria dar a sua ordem.

- Quem é você?

- Meu nome é Gjur, Air. Sou o imediato caso o Catian caísse em batalha.

- O que deseja?

- Desejo uma audiência, em particular. – O rapaz estava ajoelhado na frente do tenente. – Imploro por minha vida, Air.

Acatando o pedido desesperado, os dois seguiram para a sala de guerra, enquanto o resto ficou onde estava, esperando o resultado da audiência inusitada.

- Antes de vocês chegarem, eu estava liderando um grupo de guerreiros que eram contra a lideraça de Vteay e de Catian. – Explicou o rapaz quando eles estavam sozinhos. – Eu fiz um juramento de proteger meu distrito e servir a Julwry ap Paehk, líder legitima de Ouy, mas Arkbah era um guerreiro mais velho e experiente e nos comandava com mão de ferro, o que inibia qualquer ação do tipo. Eu sei o que você deseja, Air, e entendo os seus motivos, assim como entendendo o que Air Julwry está tentando fazer. Nenhum dos dois está errado.

- Então sabe que não tenho outra escolha.

- É por isso que eu lhe roguei por essa conversa. Como deve saber, o Ouy e Urey, juntas sob um só comando, poderia ser imbatível, já que ambas são grandes potencias na arte da batalha. Enquanto elas estiverem na batalha, vocês humanos não terão muitas chances.

- Gjur, já sei onde você quer chegar. Talvez, e eu repito, talvez, você tenha razão. Oque você sugere pode realmente ajudar a Terra.

- Faço isso para ajudar o meu povo, Air.

- Traga Julwry aqui.

E assim o soldado saiu para cumprir a ordem enquanto Johan ficava em silencio esperando a companheira chegar. Foi então que a batalha cobrou seu preço e a dor mostrou-se um inimigo difícil de combater. Seu corpo inteiro doía, principalmente o seu rosto. A boca ainda sangrava e a visão começava a se tornar turva e embaçada até que tudo tornou-se escuro e seu corpo caiu como uma pedra no chão. 

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