Capítulo IV - O Convite

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≈...≈

Antes que eu pudesse perceber estava transitando meu olhar incessantemente pelos olhos e boca de Billie.

- Por que eu? - Essa era uma questão recorrente em minha mente. Por que eu havia sido escolhido? Entre centenas de selecionados, no mínimo.
- Foi uma decisão complicada, mas em conjunto entre eu, meus pais, Finneas e Michael. Nas características físicas nos atentamos muito a altura, por motivos técnicos priorizamos alguém com a estatura parecida com a minha. - "Sério que ser um pigmeu me deu vantagem em algo?" - Olhamos o seu histórico de trabalhos anteriores e sendo sincera ficamos entre você e outros dois caras, mas eu dei uma brigada e eles cederam a escolher você.
- Brigada? Como assim?
- É que meus pais e Finneas queriam outro ator, mas alguma coisa em mim queria que você fosse o escolhido.
- Então... Realmente você quem me escolheu.
- Claro! O mínimo que eu tenho que fazer é decidir quem vai trabalhar comigo. Então não me desaponte, Sr. Evans.
- Nunca. - Eu disse num tom sério, mas com um leve sorriso de canto no rosto.

Uma mulher se aproximou de mim e Billie a passos lentos. Morena, com uma roupa socialmente simples composta de calça jeans azul marinho, blusa social branca e um tênis vans preto padrão. Era Amanda Zumberback, segunda diretora do clipe.

- Desculpa atrapalhar vocês. Preciso roubar você um pouco, Cristopher.
- Claro. - Eu e Billie falamos juntos e sorrimos.
- Michael quer falar com você, Billie.
- Eu vou lá. - Disse ela, tocando no meu ombro e saindo caminhando depois.
- Quero te mostrar o quarto onde vai ter algumas de suas cenas.

≈≈≈

Todos os cenários eram sensacionais para mim apesar de Billie julgar a necessidade de alguns ajustes. Revisamos verbalmente todo o roteiro, apesar de não ter muitas falas em si, haviam muitas questões gestuais a serem memorizadas e é sempre obrigatório entender todo o roteiro de qualquer trabalho cinematográfico cronologicamente antes das gravações.
Estávamos sentados ao redor de uma mesa retangular. A minha direita estava Michael e Amanda, a minha esquerda outros chefes de produção, a minha frente Billie e os pais.

- Pra um primeiro dia está perfeito não acham? - Disse Michael.
- Eu concordo. - Respondeu Amanda.
- Esse clipe vai ser adorado por todos. Eu tenho certeza. - Eu afirmei sem tirar os olhos daquele roteiro lindo. Toda a mentalidade e significado por trás da história do clipe era lindo e de fato fazia jus a música.
- Tem algo a acrescentar, Capitão? - Perguntou Billie.
- É... Na verdade sim... - Naquele momentos todos se viraram para mim e um nervoso subiu de elevador pela minha espinha. - É... Eu acho que seria interessante os personagens usarem algo que significasse para os dois... Uma pulseira ou um...
- Colar. - Completou Billie.
- É... Exato... - Nos olhamos por alguns segundos, mas logo desviei o olhar. Patrick e Maggie estavam muito próximos para presenciar um dos meus lapsos de hipnose por Billie.
- Eu gosto da ideia. Talvez um colar com...
- Asas? - Eu completei.
- Asas... - Ela colocou o polegar na boca como se estivesse mentalizando o objeto.
- Eu sinto uma sintonia muito boa aqui. - Disse Amanda. - Falarei com o figurinista e passamos para vocês alguns modelos de colares. Acho que por hoje foi. Não é Michael? Billie tem um show hoje, ela precisa descansar.
- Eu concordo. - Ele respondeu e se levantou, todos na mesa fizeram o mesmo e seguimos de volta para a van.

Dentro da van eu estava em silêncio lendo todo o roteiro e mentalizando as cenas, principalmente as que eu fazia sozinho.

- Capitão? - Billie me cutucou e eu me virei para ela. - Desculpa atrapalhar, mas... Você quer assistir o show mais tarde?
- É sério? Claro... Eu pensei que os ingressos estavam esgotados. Sobrou algum para comprar? - Ela deu uma risada.
- Está falando sério?
- Sim. - "Eu disse algo estúpido?"
- Eu estava pensando em você assistir mais de perto... Tipo de trás do palco. - Abri um sorriso e assenti com a cabeça.
- Será uma honra, Srta. Eilish.

A van parou e eu não havia sequer reparado que estava perto de casa. Me levantei, me despedindo de todos na van, deixando Billie por último.

- Nos vemos mais tarde? - Ela perguntou após me dar um breve abraço.
- Com certeza. - Me afastei dela e me virei ao restante das pessoas na van. - Obrigado, pessoal. Até amanhã.
- Até. - Eles responderam e eu saí.

Enquanto eu caminhava para casa minha mãe apareceu na porta para me receber.

- Como foi o primeiro dia, filho? - Ela perguntou num tom até que animado. Dona Catherine nunca foi de se envolver muito nos detalhes do meu trabalho, mas era evidente que com Billie a situação era diferente.
- Foi tudo ótimo, a equipe foi super atenciosa comigo, é todo mundo muito legal.
- Fico feliz. Por hoje então acabou? - Ela perguntou enquanto se sentava no sofá junto comigo.
- Tecnicamente não... Billie me chamou para assistir o show hoje.
- Mesmo? - Assenti com a cabeça dando um sorriso. - Isso está ficando esquisito hein?
- A para, mãe. Nada a ver. Só uma cortesia mesmo.
- Uhum... Sei...
- Ela me deu um apelido também, Capitão.
- Capitão?
- É. Por causa do Capitão América, meu nome é igual o do ator.
- Estou dizendo... Tem coisa aí. - Ela insistiu com aquele contagiante tom bem humorado que ela e minha tia tinham.
- Ok. Tem comida pronta?
- Ter tem, mas vai ter que esquentar.
- Sem problema.

≈≈≈

Depois do almoço eu estava morto, não havia dormido nada a noite e acabei por compensar a tarde. Acordei com o meu celular vibrando. Era por volta das 18:30h, o show começaria as 20h.

{Ei, Capitão. Tudo bem?}
{Tudo bem. E você?}
{Queria te pedir pra chegar um pouco mais cedo. Vi que a fila já está quilométrica, vou pedir para um segurança te esperar lá com sua credencial certo?}
{Ok. Sem problema, chego aí em 30 minutos.}
{Vou pedir pra ele te esperar. Até mais :)}
{Até.}

Você já deve ter imaginado a correria que foi. Eu tinha 30 minutos pra ficar apresentável. Levantei da cama num pulo digno de um atleta de ginástica e fui direto para o guarda-roupa, sem muito tempo pra pensar peguei o look de emergência: Uma camisa social, calça jeans e um sapato social básico. Todas as peças como de praxe eram pretas. Depois de jogar tudo em cima da cama, corri para o banheiro.

- Onde vai com tanta pressa, garoto? - Perguntou minha tia.
- Eu tô quase atrasado, preciso chegar no Shrine Expo em 30 minutos!
- Eu te levo. Se arruma rápido.
- Beleza. - Fechei a porta do banheiro e posso te assegurar que não fiquei nem 15 minutos lá dentro. No entanto meu banho foi muito bem tomado.

Depois de toda a correria para me arrumar finalmente eu estava a caminho do show com incríveis 7 reconfortantes minutos de adiantamento. Minha tia e minha mãe dirigiam super bem, mas quando o assunto era chegar rápido era como se elas se transformassem no Dominic Toretto.
Quando paramos na frente do Shrine a fila estava insana.

- Vai encarar o final dessa fila? Porque se for a gente vai ter que voltar até em casa. - Disse minha tia num tom irônico.
- Não... Tem um segurança por aqui... - Olhei ao redor e vi um cara que facilmente tinha o dobro da minha altura e o triplo da minha largura parado olhando os carros passando. - Ali.
- Aquele armário? Foi até fácil de ver.
- Ele mesmo. Eu vou lá, tia. Pode deixar que eu volto de uber, tá tudo certo. Obrigado. - Abri a porta do carro e saí apressado.
- Ei! - Ela me chamou e abriu a janela do carona. - Juízo.
- Nunca deixei de ter.

Me virei para o segurança e caminhei até ele. Por mais que o cara estivesse ali por minha causa a impressão que ele passava era de que eu ia apanhar de qualquer forma e ia doer mais do que um caminhão.

- Boa noite, senhor... É... Eu sou o Cristopher. Cristopher Evans.
- Documentação, por favor. - Ele era educado, mas a voz grossa não ajudava muito a suavizar o clima. Tirei minha identidade da carteira e entreguei a ele. - Certo. Por aqui.

Ele me entregou a credencial e me guiou para dentro do auditório. Aquela sensação de nervosismo havia voltado, era pouco tempo pra eu processar o fato de que eu havia passado a manhã inteira com Billie e no fim do dia ela ainda me convida para o show. A voz da minha mãe dizendo que isso estava ficando esquisito se fez presente na minha cabeça na hora e a única ponta de esperança que eu não queria ter estava surgindo "Será que ela está começando a se interessar por mim?".

≈...≈

Where do we go? - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora