Capítulo XXII - Amigos ajudam os outros

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(Cristopher's POV)
08:22AM - 14/11/2019 (Horário de L.A)

Tortura, era como meus dias eram definidos. Eu não conseguia parar de pensar em Billie e toda vez que eu lembrava dela, do sorriso, do beijo, do corpo, logo em seguida vinha o desespero e o silêncio depois do que eu havia dito a ela naquela ligação. Eu mal estava comendo, passava 90% do meu tempo dentro da minha cela sozinho, muitas vezes chorando ou fazendo exercícios até que meus músculos queimassem de exaustão, era a única forma de tirar o foco da dor sufocante que eu sentia em meu peito.

– Bom dia, Cristopher. – Um oficial que eu não conhecia disse ao abrir a porta da minha cela, não me dei sequer o trabalho de encará-lo, apenas continuei minhas flexões em silêncio. – Disseram que você está muito confortável aqui sozinho, e mandaram eu te trazer companhia.

Quando parei meus exercícios e me levantei o oficial tinha ao seu lado outro detento, Senhor Wilson, um senhorzinho de um metro de cinquenta e oito, branco, magrinho, de cabelo e barba brancos. Pelo que eu havia escutado, ele tinha cerca de 68 anos, sofria de esquizofrenia hebefrênica e havia sido preso injustamente no lugar de seu irmão, autor de um assassinato. Ele já estava cerca de cinco anos preso e todas as tentativas de soltura eram falhas.
Ele segurava suas roupas e cobertores os abraçando contra o peito, seu olhar era um pouco distante, mas ele me encarou com seus olhos azuis e sorriu, acenando com uma das enrugadas mãos.

– Wilson vai ser seu companheiro de cela a partir de agora. – O oficial colocou o senhor para dentro e fechou a porta.
– Onde está o Stuart? – Perguntei achando estranho sua ausência, já que tudo o que dizia respeito a mim ele estava presente.
– Ele diz que o Senhor Wilson irrita ele, pediu para que eu fizesse isso.
– Entendi. Obrigado, oficial... – Esperei que ele completasse minha fala com seu nome.
– Petter... Mas todo mundo me chama de Pette.
– Obrigado, Pette.
– Disponha, Cristopher.
– É... Oi... – Eu disse meio sem jeito.
– Oi. – Ele respondeu cabisbaixo e foi em direção a minha cama.
– Não, não, não... Essa é minha cama, você fica com aquela ali. – Eu disse tocando-lhe o ombro e apontando para a cama do lado.
– Ficar com aquela ali. – Ele repetiu o que eu havia dito e se direcionou a outra cama, começando a arrumar suas coisas. Fiquei de pé o encarando por alguns momentos. – Você não vai bater aqui não é? – Ele perguntou me encarando e apontando para a própria cabeça. Eu já havia visto outros presos passando por ele e dando tapas em sua cabeça, o cúmulo da covardia.
– Não, Senhor Wilson, não se preocupe, não vou te machucar. – Era explícito que o Stuart era o lacaio de Jeremy aqui dentro e se aquele velhinho era o único que não tinha nenhum contato com ele, talvez eu pudesse desfazer o que Jeremy havia me obrigado.
– Você vai ser amigo? Eu só tenho o Pette de amigo. – O jeito que ele falava era a coisa mais adorável do mundo, não sabia como tinham coragem de machucá-lo.
– Claro que vou ser seu amigo. E amigos ajudam os outros certo?
– Sim! – Ele disse animado.
– Então, eu posso te ajudar com os caras que batem na sua cabeça se você usar sua ligação de hoje para mandar um recado para mim.
– Recado de que?
– Tem um policial malvado que vigia as minhas ligações, e eu preciso comunicar minha mãe sobre uma ameaça que eu estou recebendo.
– Quem está ameaçando meu amigo?! Eu vou pegar! – Wilson largou suas coisas na cama e se colocou em postura de lutador.
– O jeito de pegar ele é com essa ligação. O senhor é bom de memória?
– Sou. Batem na cabeça, mas eu não esqueço de nada!
– Ótimo. Você vai ligar para o número 644-3422, minha mãe vai te atender, você vai pedir a ela que entre em contato com Maggie... Certo? – Ele tinha o olhar distante, então toquei os ombros dele para que prestasse atenção. – Presta atenção, Senhor Wilson. A minha vida depende disso. Você vai pedir para ela entrar em contato com Maggie e dizer que o Jeremy me obrigou a dizer aquelas coisas para Billie, ele está me ameaçando. Ele está com a Kat. Entendeu?
– Entendi. – Ele assentiu repetidas vezes com a cabeça.
– Então repete pra mim o que você precisa fazer.
– Ligar pra sua mãe e pedir para ela falar com a Maggie que o Jeremy te obrigou a dizer aquelas coisas pro Billie, que ele está te ameaçando e que ele está com a Kat. – Ele dizia enquanto contava as coisas que iria dizer nos dedos.
– E o número?
– 644-3422. – Eu abri um largo sorriso e num grande impulso o abracei.
– Muito bem, Senhor Wilson! O senhor vai salvar minha vida. Vai lá! E não conta pra ninguém, só diz que quer fazer uma ligação.
– Tá. – Ele foi até a porta e começou a chamar algum oficial. Quando a porta foi aberta um frio subiu pela minha espinha, Stuart tinha vindo atender, me sentei na cama encarando o chão.
– O que foi, velho? – Ele perguntou num tom grosseiro para Wilson.
– Quero fazer uma ligação. – Ele disse num tom de voz engraçado.
– Essas horas da manhã?! Pelo amor! Vou chamar sua babá. – Ele apertou o botão do rádio em seu ombro e eu pude respirar tranquilamente. – Pette, o velho quer falar no telefone, vem aqui na cela do playboy. Fica quieto aí que ele já vem, velho. – Quando Stuart virou de costas Senhor Wilson se virou para mim e mandou um joinha, eu sorri repetindo o gesto.

Where do we go? - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora