CAPÍTULO 4

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Helena

Assim que chego no salão, minha respiração vai ficando cada vez mais pesada a cada segundo que passa, mal podendo acreditar no que estava à minha frente. Haviam inúmeras poças de sangue no chão e várias famílias choravam à procura de seus parentes, torcendo para não estarem feridos ou mortos.

Uma fumaça branca causada pela explosão ainda pairava no ar, mas os danos eram mais que evidentes. Alguns criados haviam sido mortos no ataque mas aparentemente o Rei e a Rainha estavam vivos, então logo presumi ter sido um ataque dos rebeldes ao palácio. No auge da minha derrota, pensei em como fui fracassar em minha única tarefa, proteger o povo.

- Capitã Helena, vou checar os danos e lhe comunicar assim que tiver números sobre o incidente. – Diz um dos soldados, carregando um médico consigo logo ao lado, e um tempo depois, percebo que haviam mais deles por toda parte cuidando dos feridos.

- Sim, me avise sobre tudo assim que souber. – Falo, zonza e à beira de um ataque de pânico. Precisava respirar fundo se quisesse ficar lúcida e evitar que tivesse um colapso, nunca tinha falhado com ninguém antes.

Sai ás pressas para fora do salão, meus pulmões ardiam e queimavam, mas não consegui puxar o ar de volta por um bom tempo, hiperventilando até que o ardor foi passando gradativamente e meu coração foi voltando ao ritmo normal. Ataque de pânico é só uma das minhas várias cicatrizes da guerra.

Volto para o Salão Principal à tempo do Rei e da Rainha me avistarem de longe, lançando-me um olhar que fez até os meus ossos tremerem de medo do que estava por vir, mas talvez eu pudesse ficar com minha cabeça junto ao corpo pelo menos até o dia amanhecer. Nunca desejei tanto Marcus aqui comigo pois o medo que me consumia era avassalador, por mais que eu sempre tentasse conter todo e qualquer sentimento que tentasse tomar conta de mim.

- Comandante Helena, pode, por favor, nos explicar o que acabou de acontecer? – Grita a rainha Alexandra, com seus olhos mais raivosos do que nunca.

- Infelizmente ainda não tenho todos os dados do possível ataque, Majestade. – Falo, a voz quase fraquejando, mas mantendo como podia meu olhar decidido.

- Como foi acontecer um ataque na noite da Primavera e a guarda não tinha a mínima noção disso? Poderíamos ter morrido aqui se não estivéssemos devidamente protegidos pelos nossos soldados. – O rei parecia nervoso, talvez até com medo, mas consegui ver a raiva nele também.

- Não temos ideia, foi surpresa até para nós, Rei Darius, mas eu posso...

- O que você pode fazer agora é esperar por sua morte, traidora do reino. Prendam-na!

Á ordem da rainha, homens da minha própria tropa me agarraram com força pelos braços, e apesar da minha resistência nenhum deles parecia me reconhecer mais como Capitã. Fiquei me perguntando o que mais eu havia perdido além da minha cabeça.

De repente, Marcus surge de um dos portões sacando sua espada da bainha, como se ele sozinho pudesse enfrentar quase 20 soldados, porém devo admitir que sua determinação ao andar era impressionante.

- Parem, deixem-na em paz! Ela não tem culpa de nada! – Ordena o moreno, mas os guardas não movem um músculo sequer, nossas ordens já não valem mais para eles.

- Então me explique que imagens são essas. – O rei pega um controle e liga um aparelho com uma tela gigante que mostra imagens das câmeras, me fazendo ficar assustada pela imagem que é reproduzida.

A filmagem foi feita em um dos corredores do castelo, e pega o exato momento em que tento esconder o broche vermelho que ganhei mais cedo, com receio de que achassem que sou da guarda, e olhe só, eu estava certa.

- Eu juro, não traí o reino, dou minha vida para protegê-lo. Esse broche era apenas um presente. – Tento justificar, mas nada vai desmistificar o que as imagens nos mostraram.

- Um presente dos rebeldes, senhorita Helena? Diga, quantos mais vocês pretendiam matar hoje no palácio? – Grita o rei, e a afirmação faz meu estômago dar voltas.

A pergunta do monarca ecoa em minha cabeça por alguns segundos e sinto minha voz falhar novamente, não há desculpa para isso por mais que eu saiba que deveria ter, nunca sequer conheci um rebelde na minha vida apesar de já ter percorrido todos os 4 continentes.

No segundo seguinte à meus pensamentos, entre um grito e outro do rei, uma bomba de fumaça é jogada no Salão e envolve todo o ambiente em pouco tempo. Penso comigo: Ótimo, uma distração. Desfiro uma cabeça em um dos guardas que me segurava e derrubo mais dois sem muita dificuldade por causa da fumaça cegante, mas infelizmente eu também não estava vendo muito à minha frente, sentia-me cercada como um animal indefeso na floresta cheia de predadores.

De repente, tomo um susto quando braços fortes me envolvem e quase me fazem puxar minha pistolas, porém me acalmo um segundo depois pois reconheço aquele cheiro e sei que é de Marcus. Por um momento, sinto que ninguém pode me machucar.

Porém, logo depois Marcus é jogado para longe de mim e uma figura extremamente alta aparece à minha frente, mas não fazia ideia de quem poderia ser, só concluí que deveria ter muita força. A figura se aproximou de mim e senti o chão sumir debaixo de meus pés. Fui jogada em direção a um pilar e não levou muito tempo para a dor me invadir após bater a cabeça no mesmo.

Abri os olhos tonta e mexi um pouco a cabeça, sentindo o sangue quente jorrar no chão, o mundo explodiu em um festival de pontinhos brancos e a última coisa que ouvi antes de apagar foi a voz de Marcus, preocupada e pesarosa, enquanto seus braços me envolviam novamente e me erguiam do chão.

- Obrigada pela dança, Hele. Agora vou nos tirar daqui.

A Herdeira do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora