Helena
No dia seguinte à todos aqueles acontecimentos, mal conseguia localizar onde eu me encontrava no momento. Com todas as minhas forças queria acreditar que tinha sonhado com tudo aquilo e acordaria a qualquer hora no meu quarto seguro em Alexandria, mas era tudo uma realidade difícil de suportar.
Na noite anterior, quando meu pai e meus irmãos chegaram, chorei o tanto que foi possível por minha mãe e fizemos um pequeno enterro no jardim em memória dela. Gostaria de ter conseguido mais tempo ao seu lado, mas até isso a guerra me tirou.
Depois do enterro, fomos ver nosso pai na área de feridos do palacete dos rebeldes. Era enorme, tinha diversos médicos andando de um lado para o outro e Marcus me garantiu que ele seria curado o mais rápido possível, sem nenhuma sequela. Era isso em que eu queria acreditar, mas achava meio impossível pelo estado dele.
Me perdi naquele lugar tantas vezes que nem conseguia mais contar e mal pude acreditar que pertencia aos rebeldes. Pelo visto eram bem mais organizados e tinham muito mais poder do que pensei que teriam realmente.
Na minha oitava manhã no palacete, alguém bate na porta do quarto e me levanto da cama com um sobressalto, arrumando a roupa amassada que eu trajava desde que cheguei aqui, para parecer um pouco mais apresentável. Marcus me esperava lá fora com uma xícara de café e um olhar preocupado.
- Nossa... – Disse ele, e por algum momento pensei que diria algo conveniente. – Você está péssima, Hele.
- E você acha que eu não sei? – Perguntei, com uma leve raiva subindo à cabeça. – Me dá logo esse café.
Pego a xícara da mão do moreno e vou me sentar na cama, e o mesmo fica na porta, estagnado. Acho que esperava que eu o convidasse para entrar.
- O que está esperando, Marcus? – Falei, e ele entrou, deixando a porta aberta.
Sentou-se ao meu lado devagar, me observando enquanto tomava uma xícara de café e respirava fundo.
- Não sei o que perguntar. – Diz ele, pesaroso, depois de pensar por alguns segundos.
Ele sabia que não deveria fazer perguntar idiotas como "você está bem?", porque visivelmente eu não estava, o que ele notavelmente observou quando abri a porta a alguns minutos atrás.
- Eu estou... – Resmungo, tentando traduzir o turbilhão de sentimentos que tomava conta de mim. – Bom...estou aguentando. Foi tudo muito rápido nos últimos dias, uma surpresa atrás da outra. E agora minha mãe...
Meus olhos enchem-se das lágrimas que venho tentado conter a manhã inteira, mas só agora, olhando para Marcus, não consigo conter todas elas a tempo, iria chorar até soluçar ali mesmo de qualquer forma, então apenas me deixei desabar.
O moreno me puxou para si e eu não tinha forças o suficiente para erguer o braço, então só fiquei ali, esvaziando tudo o que eu sentia no momento. Chorei e solucei tão alto que acho que meus irmãos poderiam ouvir mesmo estando a andares de distância, mas não estava me importando. Minha mãe merece essas lágrimas. Apesar de ser meio dura na maior parte do tempo, ela era igual a mim, e eu a amava tanto, mas só fui perceber o quanto muito tarde.
Além de serem lágrima merecidas, eu também merecia um descanso. Venho acumulando todo esse mar salgado dentro de mim, e nossa, como ele fica tão revoltoso em alguns dias, afundando meus pensamentos e quase me afogando junto. Só agora realmente pude tirar meu capuz de Capitã forte, centrada, coração de pedra, para mostrar que sou muito mais que uma capitã, tive uma vida antes da Guerra e não vou deixar que ela acabe com tudo o mais que tenho pela frente.
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A Herdeira do Fogo
FantasyHelena, uma jovem de 24 anos, é comandante do maior exército dos 4 continentes, com sua maior sede de comando na Capital, Alexandria. Tendo escapado da morte certa pela fome que assolava seu país a 4 anos anos atrás, a garota prometeu que serviria o...