CAPÍTULO 8

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Helena

Estava sentada no alto de uma das árvores daquele jardim que eu não acreditava ser real, e agora que sei de metade da história dos meus ancestrais poderosos e de pedras milenares que viram crianças, estava começando a aceitar toda a magia que aquele lugar emanava para dentro de mim.

Olhava para minhas mãos à cada segundo como se eu fosse explodir em chamas a qualquer momento, e tinha que admitir, estava com medo. A alguns dias nem imaginava o que era esse lugar e agora estou cercada por seres literalmente de outro mundo, daqueles tipos em que só se vê nos livros.

Tomo um susto ao perceber que Marcus me observava lá de baixo como uma águia, não sei se estava tentando se convencer de que eu era exatamente o que ele esperava de uma herdeira da chama ou se estava rindo internamente da minha expressão apavorada.

Em menos de um milésimo de segundo, o Moreno aparece do meu lado e quase caio da árvore com o susto. Meus instintos pulsavam, mas eu sabia que não estava em perigo com ele.

- Então você é um transportador também. – Digo, e ele assente positivamente com a cabeça.

- Desculpa não poder ter te contado antes. – Ele parecia triste, a culpa o consumia até os ossos. – Eu gostaria de ter dito algo, muitas vezes.

- Por um lado eu entendo, não sei se estaria preparada para tanta informação à alguns anos atrás. – Murmurei, minha fala nunca esteve tão calma.

Ele me observou por uns segundos, e me senti um pouco envergonhada, desviando o olhar para a grama do jardim.

- Você está melhor do que ontem. – Ele sorri levemente e sorrio junto, dando-lhe um soquinho no ombro.

Era verdade. Depois de dias sem tomar um banho sequer, pedi ajuda a uma Marine para achar água e finalmente pude me sentir limpa de novo. Apesar de ser feita de fogo, banhos ainda me davam uma certa paz.

- Meus irmãos... – Sussurrei, quis perguntar isso desde que soube da minha condição. – Qual o poder deles? Luca e Jorge já sabiam de tudo?

- Acho melhor eles mesmos te contarem tudo, mas sim, eles sabiam de grande parte e protegeram você por todos esses anos, assim como seu pai.

Sorrio comigo mesma, tanta coisa aconteceu ao meu redor nos últimos anos e eu nem ao menos notei.

- Helena, escute. – Marcus olhou para mim com aquele brilho roxo no olhar e beijou a palma da minha mão direita. – Sei que está com medo e que tudo agora parece novo ou até confuso, mas você é muito mais que essa chama. Vi você crescer e se tornar quem é, e posso te garantir, você é magnífica com ou sem ela.

- Verdade? – Pergunto, arqueando uma sobrancelha.

- Nunca fui tão verdadeiro. – Diz o moreno, rindo divertidamente com minha dúvida.

Sem perceber, aquilo era tudo o que eu precisava ouvir para apaziguar o medo que crescia em mim, então abracei Marcus fortemente, havia sentido saudade dessa sensação de casa.

- Helena, eu... – Sussurrou Marcus, e fiquei hipnotizada por alguns segundos, até uma voz interrompê-lo e me acordar junto.

- Minha irmã! – Era Jorge, com um sorriso que iluminava seu rosto inteiro. – O papai finalmente acordou!

Assim que as palavras saíram, Marcus se prontificou a descer da árvore junto comigo, tomando cuidado para que eu não caísse na pressa e chegasse toda quebrada até meu pai. Quando pisei na área onde ele se encontrava, vi-o praticamente em pé, sendo ajudado por 2 médicos Salvadores e meu irmão, Luca.

- Oras, mas eu consigo andar sozinho agora. – Diz meu pai, como sempre com um sorriso no rosto e um tom brincalhão.

- Pai, que bom ver você. – Falo, e o homem parece mais feliz ainda ao me ver, abraçando-me logo em seguida.

- Eu que o diga. Fiquei preocupado. – Ele me beija na testa e sorri, mas nota meu olhar pesado. – Já te contaram tudo, não é?

- Sim, já sei de tudo. – Sussurro, e ele, assim como Marcus, sabe que sinto medo, mas tem seu jeito de mostrar que está comigo. – Imagino que também já saiba da mamãe.

- Eu a amava muito, filha. – Pelo seu olhar, sinto que seu coração sente cada palavra. – Contudo, conseguimos nos despedir antes de o mundo desabar sobre nós. Sabe...boa parte das pessoas não tem a mesma sorte que nós.

Ele ainda estava triste, foram anos vivendo uma das histórias de amor mais lindas que já ouvi falar, meu pai a protegia como se fosse a única joia que tinha no mundo, e penso que é muito do que ele faz comigo desde sempre. Somos as joias dele, desde o início, desde quando teve que abandonar seus irmãos para cuidar de mim e acabou conseguindo uma família pelo caminho. Todos nós ainda estávamos tristes, mas a família April não seria a família April se não se reerguesse, quantas vezes fosse necessário.

Após isso, passei a tarde inteira conversando com meus irmãos e meu pai, matando a saudade de tantos dias sem ao menos ouvi-los. Estava tomando mais cuidado dessa vez para não estragar essa alegria tão frágil, agora que tenho consciência que qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento.

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- Quer dizer que ele matou tantos apenas para me exterminar caso eu estivesse no meio deles? – Pergunto, e Marcus faz que sim com a cabeça. Sinto um misto de ódio com tristeza.

- Ouça, Hele, não tinha nada que pudéssemos fazer, mas alguns dos nossos conseguiram proteger alguns aldeões em um abrigo subterrâneo. Agora só precisamos de um plano para resgatá-los.

A sala se fez em silêncio e tentei acalmar um pouco os nervos, a afirmação de que ao menos alguém tinha sobrevivido me dava certa esperança.

Eu e Marcus já estávamos à horas discutindo sobre nossas opções e a situação que se alastrou rápido pela Capital. Todos os outros reinos estavam revoltados com as atrocidades que a Coroa de Alexandria estava praticando. Os povos das tribos que trabalhavam de espiões na cidade estavam sendo descobertos e torturados até falarem tudo o que sabiam, e se não fizéssemos nada contra isso, todos morreriam pela causa. São leais demais a seus ideais, nunca falariam.

- E se juntarmos alguns de nós para a invasão? Tenho certeza de que só o rei e seu exército não é pálio para nós.

- Helena, você nunca usou seus poderes antes, precisa do máximo de treinamento e controle antes de qualquer batalha. Por enquanto, deixe comigo e com os outros, tudo bem? – Diz o moreno, imergindo seu rosto nas próprias mãos, eu estava tão cansada quanto.

- Tudo bem, Marcus. Não se preocupe comigo. – Sussurrei, a dor de cabeça deveria estar deixando-o louco. – Vou me esforçar o máximo que conseguir para avançar nos treinamentos. Aprenderei rápido, e logo, logo estarei ajudando vocês em campo.

- Logo, logo, Helena. – Diz ele, algum tipo de satisfação e nostalgia envolve sua fala. – Mal vejo a hora de ver você em ação novamente.

A Herdeira do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora