CAPÍTULO 5

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Helena

À medida que minha consciência vai voltando sinto como se um cavalo tivesse pisado bem em cima do meu crânio, e como todos os ossos do meu corpo doíam também, decidi que para meu bem era melhor eu não me mexer nenhum centímetro, então apenas abri os olhos devagar.

Havia um sujeito à minha frente virado de costas com uma bandana vermelha na cabeça e braços robustos, ele tinha também uma tatuagem de uma bússola na palma da mão e estava mexendo em uma caixa de remédios. Sem dúvida, conclui que já tinha o visto em algum lugar e não pude conter um grito de surpresa ao notar que era Marcus o tal sujeito.

- Ora, ora, você acordou. – Disse ele, com aquele mesmo sorriso de sempre, mas com o olhar mais maduro, como se tivesse envelhecido mais alguns anos. – Fique quieta, vou cuidar das suas feridas.

Foi então que eu me lembrei o que aconteceu antes que me trouxessem para cá e quase levantei da cama, mas uma dor me atingiu com toda a força na lateral da cabeça e acabei gritando, sendo obrigada a deitar de novo pelo moreno.

- Disse que não deveria se mexer. Sempre teimosa, hein, Helena April?

Era a primeira vez que alguém citava meu sobrenome dessa forma, nem sei como ele foi descobrir qual era, mas à essa altura não me surpreendo mais com nada.

- O que estou fazendo aqui? E por que você está aqui também? – Pergunto, mais confusa do que verdadeiramente assustada.

- Digamos que foi um sequestro relâmpago. – Disse ele, dando de ombros. – Você iria morrer de qualquer jeito se não te tirássemos de lá.

- Tirássemos? Quem me tirou de lá?

- Os rebeldes, oras. – Disse ele, como se não fosse nada demais.

- Marcus, você mentiu para mim? – Rugi, a raiva já tomando conta do meu interior, se não estivesse tão debilitada daria um soco bem no meio do rosto dele. – Me enganou descaradamente e eu acreditei? O que mais é mentira? Seu nome é mesmo Marcus? Nossa amizade é mesmo verdadeira?

Àquele ponto eu já estava ficando ainda mais irritada com a calma do rapaz, que molhou um pano em água morna e colocou devagar sobre minha testa, talvez para passar a dor.

- Direi quando for a hora, mas sim, meu nome é sim Marcus. E muitas coisas além da nossa amizade também são de verdade. – Ele responde, sorrindo de ponta a ponta, e de repente coro involuntariamente, desviando o olhar.

- Então... – Penso um pouco no que seria mais adequado perguntar e no que eu realmente gostaria de ouvir. – Vão me manter prisioneira aqui por muito tempo? E minha família, onde está?

- Quanto a você ser prisioneira, você não é. Só resolvi te trazer aqui para curar suas feridas. Era o único lugar seguro e você pode escolher ir ou ficar. – Seu tom de voz era preocupado, acho que ele tinha medo de que eu escolhesse a primeira opção. – A sua família já foi avisada e pensam que você está viajando, foi uma longa conversa até eu convencê-los da mentira da rainha, mas pelo menos eles sabem que você não é uma traidora.

- Estou no ninho dos inimigos do reino, então acho que sou sim uma traidora, mesmo que indiretamente. – Falo, e me permito sorrir um pouco, riria se não estivesse tão quebrada pois era uma situação deveras engraçada.

Olho ao redor pela primeira vez e noto que estamos em um quarto escuro, só entra um pequeno feixe de luz pela janela, o que eu achei ótimo para a minha dor de cabeça, não conseguiria olhar para o sol agora nem se quisesse.

As paredes eram pintadas de um azul bebê e havia também um pequeno criado mudo do lado esquerdo da cama, onde Marcus repousava a caixa de remédios e refazia alguns curativos.

A Herdeira do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora