CAPÍTULO 21

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Helena

Assim que avistamos uma área aberta para pouso, deixamos o Flutuador em um lugar não muito longe da entrada do reino, fazendo com que ele se camuflasse em meio a todas as fábricas que cercavam Black Smithland.

Logo depois, andamos a passos apressados até a entrada, seguindo cada passo da missão de forma limpa e calculada, não poderíamos falhar de maneira alguma ou sairíamos todos mortos daqui.

Portões de ferro e guardas nos esperavam logo de início, mas por causa dos disfarces muito bem feitos, nenhum de nós foi reconhecido pelos oficiais. Respirei fundo de alívio quando finalmente entramos no reino, mas infelizmente, não por muito tempo, pois o que encheu meus pulmões foi um ar pesado e fumacento, o que me fez tossir no mesmo instante.

O reino tinha uma espécie de névoa cercando toda a cidade, menos uma cúpula de vidro que protegia a única área verde visível. Apesar de ser uma das cidades mais tecnológicas e que, atualmente, abriga as famílias mais nobres depois da realeza, ainda consigo ver por entre as vielas um certo olhar de fome nas crianças e adultos mais pobres – que são a maioria –, algumas (muitas) almas desesperadas por comida mesmo em meio à tanta riqueza. Parece que isso é algo que se repete em todo o continente e não apenas em Alexandria.

Seguimos com o plano, tentando ignorar todos os problemas que vemos pelo caminho e ir de encontro às coordenadas que marcavam o primeiro Elemental que encontraríamos.

- As coordenadas marcam para um ponto um pouco mais ao sul do reino, estamos à apenas alguns minutos de lá. – Diz Mika, que havia ficado calado o tempo todo enquanto caminhávamos e era um dos únicos que sabia ler coordenadas tão bem quanto lia seus milhões de livros em Arcane. – Chegaremos lá mais rápido se Marcus puder nos tele transportar.

Mika dirige o olhar para o transportador que, apesar de fazer uma cara de poucos amigos para o mentalista, aceita de bom grado nos levar até as coordenadas exatas.

- Tudo bem. Segurem-se. – Diz o moreno, enquanto se concentra para usar seu poder.

Tocamos cada um em uma parte de seus braços e esperamos o enjoo do tele transporte vir.

Alguns segundos antes, mantenho os olhos abertos e encaro as tatuagens de Marcus. Uma pontinha delas ainda escapa da manga longa da camisa, brilhando em um tom roxo escuro e vibrante. O moreno olha para mim e solta um sorriso aberto, sussurrando as seguintes palavras: “Vai ficar tudo bem”.

No segundo seguinte, já estou em outro lugar totalmente diferente. Olho ao redor para ver exatamente onde estamos e noto que encaro uma parede de vidro a minha frente, para só então perceber que estávamos dentro da cúpula de vidro. No mesmo instante, me desespero. Não sei se poderíamos estar aqui, mas seja lá quem estiver na cúpula temos que encontrar logo e rápido, antes que algum oficial note a nossa presença e nos mande para o rei.

- Tudo bem, eu, Elric e Aqua vamos pelo lado esquerdo. Mika, Marcus e Alissa vão pela direita. Qualquer coisa que ouvirem de estranho ou se estiverem em perigo, é só apertarem no botão que está acima do comunicador. – Digo, levantando o comunicador para que todos pudessem ver. – Façam o possível para serem rápidos.

- Sim, senhora Capitã! – Diz Elric, batendo um tipo de continência um pouco exagerada.

Mika revira os olhos e o resto do grupo ri, não sei qual das duas reações tenho primeiro, se a de revirar os olhos ou a de rir por causa do exagero do Colosso.

- Muito bem. Se separem.

No mesmo instante da fala de Marcus, todos nos separamos por corredores diferentes.

Eu e meu grupo de elementais decidimos descer por uma escada subterrânea secreta que Elric acabou encontrando por sorte, e andamos por alguns minutos até encontrar uma bifurcação de três outros corredores. Aqua bufa de impaciência enquanto anda de um lado para o outro e gesticula de indignação com as mãos.

- Pelos deuses, quantos túneis tem nesse maldito lugar?! – Vocifera a garota, parecendo mais brava do que Lucca quando bagunço seu cabelo depois de ele ter acabado de penteá-lo. – A falta de ar já está me deixando sufocada.

Por mais que Aqua só tivesse reclamado disso a caminhada inteira, pode notar sem muito esforço que até eu estava ficando sem fôlego a cada segundo que passava nos túneis, tendo que parar algumas vezes em busca de mais ar.

- Nossa, como você é fraca. Aposto que não aguentaria um dia nos vales acima das nuvens. – Provoca Elric, rindo do rosto vermelho de Aqua.

- Para o seu entendimento, Sr Brutamontes, sou muito mais forte do que você em uma luta. Inteligência vence força bruta, então está claro quem ganha aqui.

A menina brinca com suas esferas de água nas mãos, fazendo o loiro ferver no lugar, pronto para partir para a guerra. Mas menos de um segundo depois a expressão do Colosso fica séria de súbito, fazendo com que até Aqua se cale junto a ele.

- Vocês ouviram isso? – Diz Elric, prontamente aumentando para seu tamanho normal e entrando em posição de combate. – Tem mais alguém conosco.

Antes que eu possa sequer pensar, sinto o ar faltar quase completamente em meus pulmões, o que acontece também com Alissa e Elric, que caem no chão juntamente comigo.

Minha cabeça gira pela falta de oxigênio quando avisto uma silhueta turva na entrada de uma das bifurcações, mexendo os braços como se estivesse em uma dança.

- Quem vem lá? – Pergunta.
Procuro voz em minha garganta para responder.

- S-sou Helena! E esses são...Alissa e...Elric.

- O que vieram fazer aqui? – Sua voz soava grossa, como se nos desse ordens. Conheço bem esse tom graças aos anos servindo o Reino.

- Somos amigos. N-não faremos mal... – As palavras começavam a travar em minha garganta a medida que a falta de ar aumentava.

- Acha mesmo que acreditarei nisso? – Uma risada da silhueta ecoa pelos túneis, me fazendo tremer.

Seja quem for, não vai acreditar em minha palavra tão fácil, mas precisava nos livrar disso ou em poucos segundos estaríamos todos mortos.

- Eu...eu sou u-uma Rebelde! Sirvo a R-Rebelião! Por favor, acredite em mim.

No segundo seguinte, como se uma mão invisível soltasse minha garganta, o poder cessa por completo e começo a respirar incessantemente, buscando um ar que nunca pensei que fosse me fazer tanta falta.

Quando minha visão volta completamente, posso ver melhor quem está a minha frente. A primeira coisa que vejo é que a silhueta era, na verdade, um garoto. Estava vestindo uma blusa de mangas compridas grande demais para ele com duas listras vermelhas transpassando a mesma, juntamente com uma calça preta de tecido leve. A blusa combinava com seu cabelo extremamente branco, o que me lembrou o de Mika na primeira olhadela. O garoto de no máximo 20 anos carrega um livro em uma das mãos e tem uma expressão séria, porém não parece transparecer medo algum, o que é bem justo.

Ele havia conseguido incapacitar dois líderes de tribo e eu, provavelmente sem muito esforço. Era inacreditável o tamanho de seu poder.

- Que bom que vieram rápido. – Um sorriso se abre no rosto do garoto, revelando seus dentes brilhantes. – Estava esperando por vocês.

A Herdeira do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora