Helena
Acordei no meio da noite do mesmo dia mas dessa vez não com pesadelos, e sim com sirenes soando por todo lugar. Ambulâncias chegavam a cada segundo e era um sinal claro de que alguém havia se machucado feio. Vesti rapidamente um roupão por cima do pijama que usava e sai correndo do quarto, pensando que poderia ter acontecido algo aos meus irmãos, ao meu pai ou até a Marcus.
Meu coração pulava à cada passo que eu dava, temendo pelo pior, e eu mal conseguia respirar. Agora que podia sentir minhas chamas, conseguia perceber sempre que elas passeavam por todo o meu corpo como uma capa de proteção, externando o medo que eu sentia com um tom azulado e frio.
Enquanto corria pelos corredores, acabei encontrando meu pai, que estava com a respiração entrecortada e os olhos cansados por ter sido acordado tão de repente. Senti um pressentimento terrível no seu olhar.
- Aconteceu algo à meus irmãos? O rei conseguiu nos achar? – Perguntei, mais agitada do que nunca, enquanto meu pai me pegava pelos braços.
- Ouça, filha, fique calma, ok? – Disse ele, e vi que um pouco das minhas chamas refletiam-se nos olhos dele. – Aconteceu algo, mas não com seus irmãos.
Lágrimas ameaçaram correr por meu rosto novamente, mas eu prometi que não choraria mais desde a morte de minha mãe, então apenas segurei o máximo que consegui. Meu pai me levou até o hospital do Palacete, que estava lotado de pessoas feridas e médicos correndo de um lado para o outro com malas de medicamentos ou gazes. No fundo do hospital, vários médicos cuidavam de alguém em especial, era Marcus. Quanto cheguei perto da maca, mal pude conter meu grito de surpresa e indignação.
Uma cicatriz acinzentada corria por toda a extensão do braço direito do meu amigo e, por algum motivo, ele não acordava, o que me causou ainda mais pânico. Alguém me puxou para longe enquanto eu encarava os olhos fechados de Marcus, do meu melhor amigo, daquele por quem eu sentia algo que não sabia explicar e que poderia estar morrendo agora.
Ao tentar me soltar, percebi que Luca era quem me segurava com força e não me deixava sair. Por mais que eu me debatesse ou chutasse, ele parecia ter dez vezes a minha força agora.
- Helena, se acalme, por favor. – Disse ele, encostando a cabeça na minha enquanto tentava me acalmar.
- O que aconteceu, Luca? – Perguntei, a voz falhando por causa do esforço em segurar as lágrimas. – Você foi com ele? Por que Marcus está assim?
- Foi o Rei, Helena, sequestraram-no no primeiro dia em que chegamos na cidade. Parecia até que já sabiam que estávamos indo.
Suas palavras ecoaram pela minha cabeça e não pude pensar em outra coisa, havia um espião do reino entre nós, não éramos os únicos que tinham truques na manga.
- Não sei o que fizeram com ele, mas quando chegamos para resgatá-lo já estava inconsciente. – Continuou meu irmão, sofrendo comigo por ver Marcus naquele estado. – Ninguém descobriu por quanto tempo ele já está desacordado.
- O que vamos fazer agora, Luca? – Pergunto, agora olhando para o ruivo, esperando por uma mínima esperança que fosse acalmar o meu coração.
- Vamos rezar para que ele esteja vivo, Helena.
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Passei dias e noites com Marcus, cuidando dele, trocando bandagens e dando-lhe os remédios. Cada dia e cada hora que passava minha esperança ia diminuindo, até quase não sobrar mais nada depois de quase uma semana que ele estava desacordado, apenas aos cuidados do Salvadores. Fiquei me perguntando o que diabos fizeram com ele para deixá-lo assim. Maldito governo da Capital! Estão tirando todos que tenho devagar, como um predador silencioso.
Meus olhos estavam inchados de tanto chorar sozinha no meu quarto ou pelos cantos escondidos do Palácio, já esperava que aquilo me atingisse forte no peito pois Marcus era meu melhor amigo, mas só a possibilidade de ele não acordar mais já fazia minha respiração ficar difícil.
No tempo livre que tinha, treinei o máximo que pude para tirar essa tragédia da minha cabeça, precisava de um descanso disso tudo pelo menos por alguns minutos. Fiz 5 seções de corridas ao redor do Palacete todo dia, alguns exercícios com peso e coisas que eu não fazia a quase dois anos, e cheguei a conclusão de que eu realmente precisava de um treinamento como esse. Estava ficando enferrujada.
- Ok, Helena, você não está nada bem. – Diz Max, após eu quase atingi-lo com uma de minhas bolas flamejantes, que já haviam aumentado consideravelmente na última semana. – Precisa parar um pouco para respirar.
- Não posso parar ou vou acabar pensando em Marcus, e logo depois em como ele está, e eu não quero mais chorar essa semana, Max, sinto muito. – Falo, com o tom determinado que cultivei nos anos de exército.
- Tudo bem. – Ele solta um suspiro, dando um tapinha em minhas costas e sorrindo levemente afim de me tranquilizar. – Vamos continuar.
Já havíamos criado uma certa amizade ao longo da semana, e acabei descobrindo que ele tem dois filhos aqui no Palacete. Os dois herdaram o seu poder de Marine, mas, curiosamente, sua mulher não herdou poder nenhum dos pais. Achei que todos nascessem assim dentro das tribos, mas Max me jurou que nunca conseguiram explicar o que acontecera com ela.
- Sua mira já melhorou bastante na última semana, Senhorita Helena. – Diz o de cabelos azulados, recolhendo os alvos e se dirigindo para arrumar as armas. – Talvez até consiga ir na próxima leva para resgatar os espiões, e esperamos que esta seja a última, mal vejo a hora de ter todos os meus irmãos aqui.
O mais velho pegou uma lança nas mãos e arremessou para mim, o que me provocou um olhar confuso no mesmo segundo.
- Vamos treinar um pouco o combate com armas hoje. – O rosto de Max beirava o entusiasmo. – Seus poderes são muito maiores do que apenas bolinhas de fogo. Tente usá-los na arma.
Olho para a lança de metal e me perguntou se ela vai aguentar minha chama, se não vai apenas derreter aos meus pés, mas confio no mais velho. Canalizo meu poder para a lança e logo a arma em minhas mãos parece uma fogueira, reluzindo ao sol com um brilho dourado das chamas.
- Bom. Muito bom. – Diz ele, batendo breves palmas com minha nova conquista. – Agora tente me acertar.
- O que?! – Meu rosto fica branco, até mais do que já é, e repito suas palavras. – Quer que eu tente te acertar?
- Sim.
- Tem certeza?
Max apenas assente positivamente com a cabeça, confiante o bastante para não usar arma alguma e apenas canalizar seu poder nas mãos. O encaro, dando-lhe a última sentença, não estava afim de machucá-lo se perdesse o controle, mas com certeza estava animada para enfrentá-lo.
A lança foi longe em meu primeiro disparo e passou de raspão ao lado de Max, ele parecia ter desviado como se a arma fosse apenas uma mosca qualquer.
- Tente de novo. – Falou o azulado, me encorajando.
Peguei a lança e tentei de novo, várias e várias vezes, deixando as chamas ficarem cada vez mais fortes até atingirem quase sua força máxima. Apesar de meus esforços, Max desviava com facilidade das lanças e provocava minha raiva ao mesmo tempo, o que me fazia ficar cada vez mais elétrica e com raiva.
Na última lança que joguei, decidi que aquela seria a última e carreguei todo o poder que tinha até agora somente nela, olhando para Max uma última vez antes de arremessá-la em sua direção. Quando a lança chegou a Max, tive um susto quando a arma explodiu de uma hora para a outra, fazendo com que fumaça surgisse e pequenas pedrinhas da arena caíssem por todos os lados.
Esperei a fumaça passar e corri assustada até meu tutor, com medo de que houvesse provocado mais algum acidente por conta da falta de controle, mas minha surpresa foi maior quando tudo se acalmou. Max segurava a lança com as duas mãos apenas, e uma esfera de proteção feita inteiramente de água o havia protegido da explosão da lança. Seu sorriso era de um verdadeiro vencedor, e apenas pude concordar, era o melhor tutor que tive em anos de treinamento.
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A Herdeira do Fogo
FantasyHelena, uma jovem de 24 anos, é comandante do maior exército dos 4 continentes, com sua maior sede de comando na Capital, Alexandria. Tendo escapado da morte certa pela fome que assolava seu país a 4 anos anos atrás, a garota prometeu que serviria o...