A Herdeira do Fogo

CAPÍTULO 26

- Ora, mas está claro de que isso é uma armadilha. E estamos indo diretamente para a boca dela. - Aqua balbucia pela centésima vez nos últimos dez minutos. Ela mexe nos cabelos azuis com impaciência e seu semblante é de pura raiva e desconfiança. - Acreditam mesmo que esse puxa saco está nos levando para um lugar seguro? Ainda mais em Valirys?

- Aqua, por favor, se acalme um pouco. - Direciono meu olhar para ela e a vejo fazer uma careta de inconformismo. - Eu também acho que esse papo todo de se juntar a nós é pura besteira. Tenho certeza de que há algo por trás disso, porém tenho que pensar um pouco e isso não será possível com tanto falatório.

Os olhos da garota brilham mais uma vez de ódio.

- Ah, por favor, será que vocês não poderiam ao menos uma vez me escutar? Isso aqui é perigoso e...

- Se você está tão certa de que é uma armadilha... - A voz de Mika é calma e firme, chega a me causar um pequeno sobressalto quando ele aparece do nada no meio de nós duas. - ...porque não teve coragem de dar um passo de volta ao Flutuador e simplesmente nos deixar ir para ela sozinhos?

Aqua se cala diante da afirmação do garoto e fecha a cara, cruzando os braços. Já Mika, sorri vitorioso. Crianças.

Continuo martelando os pensamentos de um possível ataque surpresa em minha cabeça até chegarmos em um gigantesco portão dourado. Inteiramente feito de algum material parecido com ferro, o grande portão é adornado de pequenos sois por toda a sua extensão, representando o símbolo da bandeira do reino. É de uma beleza de se encher os olhos, admito, e talvez fosse isso que deixasse todos que vem para cá cegos, a ganância.

O garoto que até então nos guiava faz um sinal alguém longe de nossa visão e os portões se abrem, revelando um imenso jardim cheio de plantas, grama e vários lagos. Era uma visão totalmente diferente do deserto que vimos lá fora e me causava uma certa sensação de paz, eu amava estar perto de tudo que remetesse a natureza.

Seguimos o caminho todo calados e, de vez em quando, Marcus olhava para mim ainda um pouco preocupado, mas eu sempre tentava acalmá-lo com meu melhor sorriso. Apesar de o ferimento da minha luta com o Rei Darius ter sido um pouco profundo, o encantamento de cura de Alissa tinha me ajudado bastante e eu já estava praticamente curada, o que me permitia conseguir andar sem sentir pontadas terríveis a cada passo.

Passamos por vários corredores dourados, lustres fantásticos e estruturas magníficas até enfim chegarmos a uma outra porta. O garoto que nos guiava para em frente a mesma e se vira para nós, com uma expressão de entusiasmo.

- Enfim, chegamos na presença do meu rei. Eis, então, o filho do Deus Solari, senhor das terras de Valirys e carrasco da Besta das Areias! Imagino que estão extasiados de estarem finalmente na presença do meu senhor, o magnífico e incomparável...

- Será que é possível só entrar logo e parar com esse falatório? É que eu já estou ficando um pouco cansado, sabe? - Elric boceja sem disfarçar seu desdém e a maioria de nós ri baixinho.

- A-ah, claro, claro. - Os olhos do nosso "guia" se enchem de uma raiva bastante visível, porém ele tenta manter a compostura da melhor maneira que pode. - Entrem, por favor.

Eu e Marcus entramos primeiro, tomando cuidado para não pisar acidentalmente em alguma bomba terrestre, vai saber. Quando olho a minha frente, vejo um salão inteiramente decorado com objetos de ouro, todos extremamente brilhantes e tentadores. Nas paredes, grandes cortinas vermelhas com sóis desenhados descansam atrás de pilastras e do próprio trono, que abrigava uma das criaturas mais rústicas que já vi em toda a minha vida.

O rei não era lá o exemplo mais claro de elegância, mas apesar de sua barba gigantesca e do aspecto de suor por todo o corpo, vestia uma roupa inteiramente composta pelos melhores materiais e pelas melhores cedas. Quando nos vê, o monarca passa um tempo analisando a mim e a Marcus e depois aos outros elementais, levantando-se do trono logo em seguida.