CAPÍTULO 19

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Helena

Depois de passar horas e horas admirando a floresta de Arcane na noite passada, acordo pela manhã com a sensação de que meus poderes ficam cada vez mais evidentes e fortes a cada segundo que passo aqui. Sinto um tipo de leveza, como se eu estivesse presa antes e algo se libertasse aos poucos, fazendo cada vez mais parte de mim. Nunca me senti tão preenchida de magia como me sinto agora, nem quando me deram a pulseira que me permitiu usá-la pela primeira vez.

- Seus olhos são pura chama, Helena. – Disse meu pai mais cedo, enquanto andávamos pelo belo lago que cercava toda a extensão da floresta mágica. – Consigo ver o fogo queimar dentro de você.

E eu sentia. Em cada centímetro de mim, em cada respiração que eu dava, sentia que estava viva, sentia que podia tudo, e talvez eu até pudesse mesmo.

Logo após voltar do lago, preparo um café da manhã com meus irmãos composto por frutas e alguns sucos. Os ancestrais disseram que esses frutos serviriam para nos dar energia o suficiente para as missões que estavam se aproximando, e eles tinham total razão, já me sentia muito mais revigorada depois de dias de correria e noites mal dormidas.

Não esqueci nem por um segundo durante toda a mudança e a viagem até aqui que poderiam haver mais tribos como a nossa, com poderes diferentes dos nossos e tão perto de nós. Partiríamos hoje mesmo após meu Ritual de Reconhecimento. Que, pelo que pude entender da explicação de meu pai, servia para me marcar como integrante permanente da causa e da tribo. A partir dele, todos me reconheceriam como uma apoiadora da causa, ainda mais do que pareciam reconhecer antes.

Alguns minutos antes de começar o ritual, paro por alguns instantes do lado de fora da tenda em que tudo iria acontecer, checando se estava prontamente arrumada e olhando uma última vez as tatuagens que surgiram em minha pele ao adentrar em Arcane.

Toquei as que estavam visíveis em meu rosto até o meu pescoço levemente, eu as achava encantadoras; sempre emanavam um certo calor agradável e brilhavam vez ou outra, mas não a ponto de chamar muita atenção. Apesar disso, eu ainda teria que andar com panos e mais panos afim de cobri-las por inteiro, não podia arriscar que a vissem ou então estaria jogando todo o trabalho que tivemos até agora no lixo. Isso se repetia a todos os outros que saíam da floresta mágica, em missão ou não.

- Filha, está pronta? – Pergunta meu pai ao meu lado, pondo sua mão direita em meu ombro.

Olho para suas tatuagens e as cicatrizes que marcam sua pele onde o pano da camisa não as cobre, imaginando quantos perigos ele já havia enfrentado apenas para nos proteger, fazendo parte de algo tão grande sem que pudesse compartilhar isso com mais ninguém.

- Estou, pai. – Falo, finalmente. – Um pouco nervosa, mas sim, estou pronta.

Ele sorri para mim tentando me passar confiança e entra comigo na tenda, que se encontra totalmente escura. De repente, o espaço parece se alterar ao nosso redor e em minha frente surgem seis pilares, um de cada tribo, sendo o meu o único que brilhava em vermelho de tal forma a ponto de iluminar quase todo o lugar onde estávamos.

Os três mais poderosos da casa dos Chamuscadores se poem entre mim e o pilar do fogo no segundo seguinte, olhando-me com olhos que poderiam ver minha alma mesmo que eu lutasse contra isso. Um deles começa a falar, balançando algo semelhante a um sino nas mãos, mas que fazia um som extremamente antigo e belo que não parecia estar saindo dele.

- Senhorita Helena April Gother, filha de Hans April e Amelia Gother. Terceira filha da família, primeira e única elemental a herdar o poder da pedra sagrada, aproxime-se, por favor.

Ando a passos nervosos quando deixo a mão de meu pai, tentando olhar para frente e mantendo-me firme na caminhada. Quando chego à frente do homem, ele me estende uma das mãos onde se encontra um pó alaranjado, derramando-o sobre a minha assim que a estendo a ele.

A Herdeira do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora