CAPÍTULO 18

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Helena

Já se podia ver o pôr do sol quando finalmente conseguimos arrumar tudo para irmos embora. Como a grande maioria havia partido mais cedo, o gigantesco Palacete rebelde parecia mais vazio do que nunca, e podia-se até ouvir ecos caso falássemos um pouco mais alto do que o habitual.

- Marcus, me ajude com isso aqui, por favor! – Gritei, enquanto tentava não derrubar uma caixa cheia de mantimentos.

- Pode deixar! – Diz ele, sorrindo e pegando a caixa nos braços com a maior facilidade do universo. – Sabia que precisaria da minha ajuda alguma hora.

Ele diz a última frase em puro tom de provocação, fazendo-me ferver de raiva no mesmo instante.

- Ora, seu...seu...ah! Sorte a sua que sou uma moça educada. – Falei, dando-lhe um tapa leve no braço, o que apenas causou ainda mais risos no rapaz.

- Bom, acho que terminamos. – O moreno soltou um suspiro de cansaço quando colocamos a última leva de caixas no flutuador, era um trabalho muito parecido com fazer uma mudança, só que muito mais exaustivo.

- Finalmente! – Uma voz surgiu da porta de entrada do Flutuador, o tal Aaron que tentou me dar uma cantada nada desfaçada hoje mais cedo. – Achei que fossem ficar a tarde inteira nisso.

Mais uma vez, meus nervos subiram a cabeça e quase cometi um assassinato ali mesmo, mas não podia deixar que ele visse meus poderes logo de cara. Algo nele ainda me causava um arrepio de desconforto e, de qualquer forma, Marcus me avisou enquanto encaixotávamos as coisas que não confiasse em ninguém que viesse de fora. Nunca saberemos quem nos ajuda a serviço do rei ou quem vem de bom grado se passando por amigo e na verdade só tem um pensamento na mente: eliminar todos nós.

- Se você tivesse ajudado, é claro que teríamos terminado mais rápido. – Diz Hayley, a moça que me ajudou nos meus primeiros dias aqui no palacete. Felizmente, seu humor era igual ao meu para pessoas como Aaron, e isso só me fez simpatizar mais ainda com ela.

A sala se encheu em risos com a fala da ruiva e Aaron apenas riu junto a todos, provavelmente pensando em como mataria todos nós um por um de uma maneira bem dolorosa assim que se livrasse da dívida com Marcus.

Entramos todos no Flutuador, sendo eu a última a pôr meus pés lá dentro após ser convencida de que aquela coisa não cairia do céu e mataria todos nós. Subi naquela máquina de metal ainda com as pernas meio bambas de medo, correndo para as cadeiras com cinto e afivelando o meu de maneira que ficasse bem apertado. Marcus sentou-se do meu lado afim de me tranquilizar, pegando minha mão entre as suas e sorrindo. Sorri de volta e escondi o rosto vermelho.

- Ai, meu Deus, vamos voar! – Disse Hayley, com o rosto praticamente colado no vidro que dava visão para a parte de fora do Flutuador. – Nem acredito, finalmente!

Ao contrário dela, eu não estava nada confortável em voar, então apertei a mão de Marcus o tanto que pude assim que deram sinal de que íamos sair do chão. Primeiramente, senti uma pressão no ouvido e no peito, como se algum tipo de animal muito maior que eu estivesse deitado sobre mim. Depois, tudo ficou calmo mais uma vez e a pressão passou quase que imediatamente.

O silêncio se fez e só se podia ouvir os motores quase silenciosos do Flutuador trabalhando, além dos gritos animados de Hayley enquanto admirava a paisagem pela janela. Quando reuni coragem para abrir os olhos – nem havia notado quando os fechei de tanto medo – vi que ainda estávamos vivos e inteiros, o que me fez suspirar de alívio.

- Eu te protegeria se algo acontecesse, Hele, não se preocupe. – Diz Marcus, apertando minha mão uma última vez e recolhendo a dele.

- Eu sei. – Falei, segurando o riso. – Você não viveria sem mim nem se quisesse.

A Herdeira do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora