Sobre duas rodas 4

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- Não é ele. É ela. -Disse e nem precisou de mais nada pois eu já sabia que boa coisa não era.

-Para, é melhor. -Complementou e eu, encostei-me ao primeiro lugar mais propício que consegui avistar, a moto que estava vindo atrás, parou logo em seguida. Assim que ela retirou o capacete, consegui ver que não era um homem como eu havia achado antes e sim uma mulher de cabelos lisos pretos e curtos vindo em nossa direção.

-Então é essa a viagem que precisava fazer? -Disse a mulher aparentemente nervosa, porém com a voz calma e suave.

-Eu posso explicar -retrucou Valentina se aproximando dela e eu como estava atrás apenas observava às duas até que a mulher olhou para mim, seu olhar intimidador me deixou assustada, não só pela maneira no qual me olhou, mas por toda intimidação feita com a moto minuto atrás.

-Explicar o que? Acha mesmo que sou idiota? - Disse já com o tom de voz alto, bem diferente da sua primeira fala.

-Ela é a neta da mulher que meu irmão trabalha, eu só estava levando-a para conhecer a cidade

-Disse Valentina em um tom mais moderado, apesar de baixo se comparado ao da mulher, ainda sim dava para escutar o que ela havia dito.

-É mesmo? -Intimidou a mulher se aproximando.

-Então me diz por que ficaram paradas quase seis horas no mesmo lugar?

-Perguntou a mulher mostrando seu celular, apesar de não conseguir ver exatamente o que ela havia mostrado a Valentina, conclui que parecia ser uma espécie de rastreador e pasmem, era!

-Não acredito que está me monitorando. - Falou Valentina surpresa

-Me diz que é mentira e que você não estava transando com ela. -Respondeu aos gritos.

-Me diz que sou louca e que você não estava com ela seis horas paradas por aqui. -Insistiu a mulher.

-Quer saber? Foda-se. -Respondeu Valentina se virando e colocando novamente o capacete.

-Vamos embora! - Exclamou vindo em direção onde eu e a moto estava e se eu iria discutir? Claro que não. Tudo que que queria era ir embora o mais rápido dali já que uma mulher traída é capaz de fazer loucuras. Alguém dúvida? Eu não.

Coloquei meu capacete e montei na garupa, dessa vez ela que iria dirigir, Valentina acelerou como se estivesse fugindo e após passar alguns minutos e notar que não havia ninguém atrás da gente, me aliviei já que a então namorada parecia está extremamente furiosa com ela, e provavelmente comigo.

-Me desculpe. - Falou Valentina quebrando o silêncio entre nós, mas antes mesmo que eu pudesse responder, fomos surpreendidas novamente pela moto que dessa vez parecia acelerar ainda mais rápido, meu coração nesse exato momento quase saiu pela boca, só que o pior estava por vir. A moto começou a se aproximar da nossa, de maneira que suas carcaças se encostavam uma, na outra.

-O que está fazendo? Você está louca? -Gritava Valentina porém não foi respondida.

Já que a mulher apenas a ignorou e continuou acelerando e nós jogando para a beira da estrada. Apesar de Valentina ora diminuir a velocidade, ela fazia o mesmo e continua empurrando a moto com a dela até que Valentina acelerou e ela fora atrás, só conseguir sentir o tombo e algum tempo depois levantando levemente meu troco e vendo minha calça rasgada e coberta de sangue, lembro-me de ver Valentina vindo até mim e chamando por meu nome, entretanto logo apaguei.

Assim que acordei, estava no hospital com meu pai e minha mãe me olhando com os olhos lacrimejando, após conversarmos sobre assuntos aleatórios e minha mãe lembrar meus momentos de criança, eles me contaram o que havia acontecido.

-Você não se lembra? -Perguntou mamãe de maneira atenciosa. Apenas balancei a cabeça de maneira negativa.

-A garota que estava com você, disse que vocês estavam voltando do passeio e um carro desgovernado bateu na moto em que vocês estavam e fugiu. -Disse mamãe quase chorando.

-Esse desgraçado. Fez isso e fugiu, que sorte que não aconteceu nada com ela minha filha, só assim para vocês conseguirem ajuda.

-Disse papai nervoso.

-Que bom que está viva minha filha. -Enfatizou mamãe enquanto me abraçava e chorava.

Mais tarde, juntamente com os médicos me explicaram que eu estava bem e me recuperaria em breve já que nada mais grave ocorreu em meu corpo, me disseram que eu precisaria de mais alguns exames antes de sair do hospital e também me contaram que eu também havia fraturado o osso da perna e por isso precisaria de repouso e fisioterapia, apesar de está no hospital e ter que tomar medicações e tudo isso que eu odiava fazer, fiquei feliz por está viva e sem complicações maiores.

- A moça que me trouxe. Onde está? - Perguntei aos meus pais assim que o médico saiu.

-Ela foi embora minha filha, mas deixou isso pra você. -Disse mamãe me entregando uma carta em um envelope simples. E eu apenas o guardei, já que minha cabeça estava confusa o suficiente para culpa-la pelo acidente que não era exatamente acidente. Depois disso, voltei para a casa e nunca mais tive notícias de Valentina, durante todos os meses em que tive que me manter enclausurada dentro de casa por causa da minha perna, fiquei horas e horas sonhando e me deliciando com os momentos que tivemos e horas e horas a odiando por ter uma namorada louca que fora capaz de jogar sua moto contra nós sem pensar nas consequências já que eu poderia ter morrido, era ódio e desejo os sentimentos nutridos por Valentina, não só pela situação, mas também por ela ter sumido sem se quer olhar para mim e por ter deixado apenas uma carta que eu recusava a ler e assim fiz, prometi que só leria quando me recuperasse e voltasse a minha vida como era antes.

E vocês achando que minha paixão por motos surgiu de uma aventura louca e gostosa? Não que não tenha sido isso, mas o final da aventura é digno de alguém em sã consciência nunca mais querer saber de motos, pena que essa pessoa não sou eu. Depois de tudo isso, não queria ser tomada pelo medo em pilotar uma. E foi assim que iniciei minha mais nova paixão, quem sabe um dia eu poderia reencontrar Valentina que apesar de ser uma completa mentirosa, era deliciosa.

E aí, o que acharam? Deixe seu comentário, amo ler todos um por um e Beijinhos da Manu.

ManuJade ~ versão antiga! Onde histórias criam vida. Descubra agora