Isabela Garcia
A semana correu rapidamente e a minha nova rotina tornou tudo mais agradável. Acordei cedo todos os dias mas não caminhei, só o fato de chegar cedo à clínica já me deixava de bom humor. Não esbarrei mais com o Eduardo, mas também não fiz questão alguma de encontrá-lo. Hoje era sexta-feira e eu estava louca para sair, passei a semana inteira dormindo cedo e hoje eu merecia um prêmio. Já estava tudo combinado com a Val e iríamos a um novo pub. Eu estava terminando de me arrumar quando ouvi a campainha, deveria ser a Val que resolveu vir se arrumar aqui comigo. Abro a porta animada e vejo Eduardo segurando um notebook.
-Vizinha eu preciso de um enorme favor – diz passando os olhos pelo meu corpo.
Eu estou com um vestido preto que na parte de cima é de renda e da cintura para baixo é rodado. É quase dois palmos acima do joelho, e estou com um salto vermelho um tanto escandaloso. Pigarreio com a garganta quando vejo seu olhar pousar em meu decote e ele logo retorna a atenção para o meu rosto.
-Em que posso ser útil? – pergunto observando seu corpo.
Percebo que a pergunta saiu com um duplo sentido e vejo o sorriso pervertido no rosto de Eduardo, concentro-me em observar seus cabelos despenteados, assim, não caindo em tentação.
-Wi-fi... – diz em um tom suplicante.
Arqueio as sobrancelhas esperando que ele continue.
-Me empresta seu wi-fi? – pede com uma carinha de cachorro que caiu da mudança - o técnico ainda não veio instalar o meu e eu preciso urgentemente de um sinal de internet.
-Vou fazer esse sacrifício – caminho até a mesinha do telefone rindo do seu desespero e anoto a senha do meu wi-fi em uma folha do meu bloquinho de recados.
Caminho até a porta onde Eduardo me esperava sem deixar de me fitar nem por um segundo. Eu entrego a folhinha em sua mão e sorrio sem graça.
-Aqui está – digo desconfortável.
Não sei por que, mas estar tão próximo do Eduardo me deixa agitada, com o coração acelerado, e eu o odeio por provocar sensações estranhas em meu corpo.
-Nossa vizinha, obrigado mesmo! Fico te devendo uma, hein?! No que precisar é só chamar – diz dando-me o seu sorriso Colgate Luminous White.
-Magina – digo sem graça esperando ele ir em direção ao seu apartamento.
Não resisto em reparar em sua bunda empinada e suas costas musculosas, deveria ser pecado existir um homem como esse! Retorno para dentro do meu apartamento e termino de me arrumar, saio depois de trinta minutos e encontro a Val na porta da boate. Nossa noite foi exaustiva como todas as outras, e nos divertimos horrores. Não fiquei com ninguém, nunca gostei de me envolver com esses caras que encontramos na balada que não querem saber de nada além de uma boa foda. Sempre estabeleci em minha mente que caras que conhecemos na balada raramente serão feito para casar, na maioria das vezes eles só querem sexo, e eu, com a minha mania de se apegar facilmente nas pessoas, morro de medo de me decepcionar. Então prefiro não me envolver. Contento-me apenas com boas doses de tequila com limão e sal, afinal ressaca dói inigualavelmente menos do que coração partido.
Amanheço no sábado ensolarado com a minha típica dor de cabeça pós-farra, porém não é mais uma coisa que me incomoda. Bebo meu comprimido para tirar a dor e me arrumo esperando a faxineira chegar em meu apartamento. Uma mulher na casa dos 40 anos, baixa, magrela, e com cabelos cacheados bate em minha porta e eu atendo sorridente, de todas as faxineiras da empresa que eu contratei para limpar meu apartamento uma vez por semana, a Dona Irene é a mais simpática.
-Oi dona Irene – digo sorridente enquanto destranco a porta.
-Oi Bela – me cumprimenta sem formalidades de tanto que eu já insisti.
-Que bom que é você, eu fico mais tranquila quando deixo minha casa sobre seus cuidados – ela sorri envergonhada com o elogio.
-Então eu vou começando o meu trabalho por aqui – Irene vai direto para a lavanderia no armário de produtos de limpeza, ela está acostumada á trabalhar aqui.
-A senhora precisa de alguma coisa? Quer que eu traga almoço? – pergunto no batente da porta a observando pegar alguns produtos de limpeza e os colocando no chão.
-Não precisa se preocupar comigo Bela.
-Então se quiser almoçar aqui mesmo você sabe onde encontrar tudo, não precisa ficar com vergonha hein?! – digo sorrindo e indo até ela. Dou um beijo estalado em sua bochecha, ela me lembra muito a minha mãe – Eu vou dar uma saída, se fico aqui eu só atrapalho e não ajudo em nada.
-Pode ficar tranquila – diz Irene pegando o rodo e uma vassoura.
Despeço-me rapidamente, pego as chaves do meu carro e minha bolsa e saio. Sempre dou uma fugida de casa nos sábados, adoro a sensação de voltar e encontrar a casa brilhando. Faço o caminho até o parque do Ibirapuera e demoro a achar uma vaga, acabo irritada de tanto procurar e pago um dos estacionamentos caríssimos que fica ao seu redor. Hoje não vim preparada para correr e nem fazer qualquer tipo de exercícios, apenas trouxe uma manta e um bom livro. Adoro passar as manhãs deitada em baixo da sombra de uma árvore desfrutando os meus romances melosos. Entro no parque lotado por conta do dia bonito e do final e semana, e caminho até o lugar que sempre costumo ficar. Ele é afastado do movimento, e de onde fico consigo ver o lago e as pessoas do outro lado curtindo o dia, enquanto onde estou eu só ouço o barulho dos passarinhos e do vento sacudindo as folhas das árvores. Estico minha manta marrom sobre a grama, coloco minha bolsa em uma posição estratégica para repousar a minha cabeça e abro o meu livro. Perco-me em um delicioso romance, muito bem escrito por sinal, é uma pena que tenha apenas um volume, e que ainda por cima tenha apenas trezentas páginas. Devoro meu livro como uma boa leitora compulsiva e só paro quando sinto minha barriga roncar alto. Consulto o relógio e vejo que já se passam das duas da tarde, isso que dá ler um livro bom, você sai da realidade e embarca em um mundo novo, cheios de possibilidades, onde geralmente no final tudo dá certo. Particularmente, eu também acredito que na vida, no final, tudo acaba dando certo. Como diz um dos poemas do Caio Fernando Abreu: "Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa".
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Sr. Destino
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