Capítulo 17

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Isabela Garcia
-Mamãe, eu já disse que não gosto dessa calça.
-Mas filha, você nunca usou ela. Eu comprei esses dias.
-Mamãe deixa eu te dizer uma coisa? Não vai ficar triste comigo? - pergunta olhando no fundo dos meus olhos.
-Não meu amor, pode dizer.
-Não fica comprando esse monte de roupa para mim. Nem cabe mais no meu guarda roupa. Olha - ela abre uma gaveta empanturrada de roupas novas com etiqueta.

Manu só tem quatro aninhos, mais é a coisa mais inteligente e levada que eu conheço. Posso dizer com todo o orgulho que felizmente ela não puxou o pai em nada, é a minha cara, e tem todo o meu jeito.

-A mamãe promete tentar.
-Eu sei que você consegue - ela cutuca minha barriga e gargalha - o padi vai ir na escola comigo hoje?

Hoje sexta-feira é o dia da confraternização dos dias dos pais. Dani sempre diz que é o papai do coração da Manu, e eu respiro fundo, mantendo-me calma quando Manu diz que quer ter um pai de verdade.

-Eu não sei amor, quer ligar para ele?
-Mamãe? - Manu me olha com seus olhos grandes e brilhantes.
-Diga - procuro uma outra roupa para ela colocar.
-Não quero ir na escola hoje - viro-me e presto atenção nela - todas minhas amiguinhas vão estar com os papais delas e eu não quero ir com meu papai de coração.
-O que você quer fazer então? - respiro fundo e tento ficar tranquila.
-Quero ir para Disney! - grita empolgada.
-Manuela, não me irrite. A viagem já esta marcada para o final do ano - tiro um sobretudo bege e uma legging preta e lhe entrego - veste isso.
-Então quero comer pizza no café da manhã.
-Eu juro que você não vai me estressar hoje. Se troca logo.

Vou para meu quarto, tiro meu pijama e visto um vestido branco e uma anabela branca. Tenho que atender dois pacientes essa manhã ainda.

-Vamos Manu, eu estou atrasada.

Manu aparece na sala arrumada e carregando sua mochila de cachorrinho nas costas e um bichinho nas mãos. Ela é apaixonada por cachorros.

-Já deu comida para o Billy? - Billy é o nosso cachorrinho.

Ele é lindo, parece um lobo das neves. Por cauda dele, tivemos que sair do apartamento e nos mudar para uma casa.

-Já mamãe, você sabe que a primeira coisa que eu faço quando acordo é ver o meu bebê - ela sorri.
-Eu sei amor, agora vamos.
-Vai me levar para o seu trabalho? - pergunta enquanto prendo ela em sua cadeirinha.
-Vou sim, você não quer ir na escola.
-É por isso que te amo mamãe - ela deposita um beijo molhado em minha bochecha.
-É só por isso então, sua interesseira? - brinco fazendo cócegas nela que gargalha alto.
-Nã-não mamãe. Você também é lin-linda - diz em meio as gargalhadas.
-Ufa! Pensei que tinha uma filha malvada.
-Eu só sou levada mamãe - respira fundo se recuperando das gargalhadas.

E como sei o quanto ela é levada! Apronta cada uma que às vezes nem eu consigo acreditar. Coloco meu cinto e ligo o carro.

-Mamãe? - Manu me chama suavemente e eu já até fico com medo do que vai dizer.
-Ãh?
-Onde meu pai tá, hein? Você sempre muda de assunto quando eu pergunto sobre ele.
-Manuela! - digo em tom de repreensão mesmo sabendo que ela tem o direito de saber disso.
-Ele era mau, mamãe? Nos abandonou igual no desenho da Georgia que eu assisto na Disney? - seus olhinhos curiosos me fitam.
-Seu pai não sabe que eu tive você - falo a verdade de uma vez por todas. Mais cedo, ou mais tarde, ela iria saber mesmo.
-Porquê?
-Eu era noiva do seu pai quando tivemos uma discussão muito feia, e então ele foi embora do Brasil quando nos separamos. Só depois eu descobri que estava esperando você amor - conto pausadamente prestando atenção no trânsito e olhando-a de relance pelo retrovisor.
-Entendi. Desculpa por perguntar sobre isso, eu sei que a senhora fica triste quando eu falo disso mamãe - diz timidamente toda desconfortável.
-Tudo bem filha, você já é uma mocinha e merece saber. Agora me prometa uma coisa - aproveito para mudar de assunto - você vai se comportar muito bem lá na clínica.
-Mas mamãe, a clínica é sua. Eu posso fazer a festa.
-Não, você não pode não.

Sr. DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora