Capítulo Sem Nome Um

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Peter significa "pedra", tem origem no grego Petros...

Robert significa "aquele que brilha na glória", tem origem germânica...

Dylan significa "grande maré" e é de origem gaulesa...

 Brandon, Ethan, Franklin, Tom, Joseph, Rick, Albert... Milhares de nomes, milhares de significados, nenhum se encaixava em mim.

 Na maior parte do tempo eu me sentia privilegiado por meus pais terem decidido deixar a responsabilidade de escolher o nome de seu primogênito sobre ele mesmo. Não é todo mundo que tem essa chance. Mas em alguns momentos me dava uma vontade absurda de chutar algo e perguntar se daria muito trabalho pôr em mim o primeiro nome que lhes cruzasse o caminho.

 Eu estava em um desses momentos naquela manhã. Deitado em minha cama, com um dicionário surrado de nomes nas mãos. Já o havia lido do começo ao fim cem vezes e não sabia por que estava lendo a cento e uma. Não havia ali nenhum nome que me servisse, não da maneira que eu queria. Para mim, o nome que carregamos tem um forte peso em nossas vidas e, já que a minha não era lá essas coisas, eu não poderia correr o risco de acabar com um que aumentasse meu nível de mediocridade.

 Ouvi uma batida em minha janela e baixei o livro para dar uma olhada. Encontrei uma bunda balançante usando jeans velhos. Um dos pontos negativos de possuir o quarto no andar térreo é que seu amigo de origens e características indianas poderia chamar sua atenção usando as nádegas. A bunda pertencia a meu melhor amigo, Ravi.

 Ravi significa Sol e sua origem vem do sânscrito.

 Pulei para o chão, peguei a mochila sobre a escrivaninha e abri a janela. Ravi estava em cima de uma caixa de madeira que meu pai havia jogado fora no dia anterior. Eu o empurrei para poder passar.

— Dá pra encontrar um outro jeito de avisar que chegou? — perguntei passando as pernas para o lado de fora.

— Estou dividindo com você a Oitava Maravilha do Mundo Moderno, meu caro York. Sabe quantas garotas morreriam para ter essa oportunidade?

— Sei. O mesmo número que quer transar com você. O que seria... Zero.

— Você sabe que as gatinhas adoram os indianos.

— Primeiro: não fale "gatinhas", é ultrapassado. Segundo: Você sabe que esse lance de indianos e sexo vem de filmes pornôs de baixa qualidade, não sabe?

— Isso é o que você acha.

— É um fato.

— Cê tá com inveja porque seus traços são tão fáceis de achar em uma esquina quanto uma franquia do McDonald's. Você é extremamente comum, enquanto eu tenho o mistério da Ásia.

 Aquilo eu não podia rebater. Eu era mesmo comum. Cabelos escuros e bagunçados, olhos castanhos, nada de nariz esculpido por Deus ou uma genética boa que me proporcionasse um abdomen definido por simplesmente levantar da cama.

 Saímos do meu quintal e começamos a descer a rua. Nosso colégio ficava um quarteirão de onde morávamos, e essa era a desculpa que usávamos para não chegar de carro na escola, mas a verdade era: não tínhamos um carro.

 Ravi veio para os Estados Unidos aos dez anos com a avó. Eles viviam em um pequeno povoado perdido na Índia, onde tecnologia e meios de transporte sobre rodas eram algo tão raros como OVNI's são para nós. A avó de Ravi não poderia comprar um carro para ele e, mesmo que pudesse, não compraria porque, nas próprias palavras dela: "não quero meu único herdeiro e cidadão descente que honra os dogmas do hinduísmo nessa cidade condenada por shiva em um transporte que não seja um camelo ou um elefante". É claro, dirigir um carro é bem mais arriscado que despencar de um elefante.

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