Levei tempo demais para encontrar por onde Isla e eu havíamos entrado no bosque. Estava escuro na outra noite e eu realmente não estava ligando muito para detalhes. Quando estava com noventa por cento de chance de estar certo, entramos na mata. Caminhamos mais do que achei que deveríamos andar, mas por sorte encontramos a cabana antes de entrarmos em desespero.— Isso é meio sinistro. — Ravi falou, em um sussurro, examinando o lugar.
Eu avaliei a situação. Dois caras, um deles indiano, com máscaras coloridas atrás da cabeça, prestes a investigar o assassinato de um gato.
— Parece mais ridículo. — conclui.
Entramos na cabana. Com a luz do fim de tarde passando pelas frestas entre as madeiras e a única janela, o lugar parecia mais amistoso que na noite anterior. Da outra vez que estive ali não pude ver nada além do gato iluminado pelo isqueiro, então dei a primeira olhada no ambiente. Estava mobiliado com uma escrivaninha velha, um banco jogado de lado, um colchonete encardido, um tapete barato e o gato.
— Eu meio que estava esperando você dizer que tudo foi uma sacanagem pra me fazer andar uns dez quilômetros, mas vejo que não. — Ravi disse com os olhos cravados em Mussolini.
— Eu não andaria dez quilômetros pra zoar você. Colocar essa coisa na cabeça também não valeria a pena — respondi, tirando a máscara e jogando para ele. — Vamos juntar pistas, assistente.
— Assistente? Se você é o Sherlock, eu tenho que ser o Watson.
— Isla é o Watson.
— Ah, legal saber que você quer perder a virgindade com o Watson.
— Cala a boca, bebedor de mijo de vaca.
— Já disse para não zoar o hinduísmo para me ofender, seu babaca. — ele chutou a cadeira da escrivaninha em mim, mas não liguei. Ravi nunca ficou realmente ofendido por eu mexer com sua religião.
— Você trouxe a câmera? — perguntei.
Ele guardou as máscaras, pegou a câmera e um bloco de notas.
— Você tira as fotos e eu faço as anotações. — ele falou.
- Ok.
Andamos cada um para um lado, mas o lugar era tão pequeno que não nos afastamos muito um do outro. Caminhei primeiro até a escrivaninha. Encontrei um mapa velho e empoeirado, um jornal de meses atrás, um globo terrestre, um calendário e uma embalagem do Mc Donald's que, por parecer nova, deduzi ter sido levada até ali por Isla ou Zac. Tirei uma foto de tudo.
— Não vou examinar o colchonete. — Ravi falou, com uma cara de nojo.
— Por que não? — perguntei.
— Rhonda e Zac devem ter trepado aí a tarde toda. Examine você.
— Zac tem namorada.
— E qual o problema? Isso se chama infidelidade.
Naquele momento tive vontade de bater em Ravi, não sei se por insinuar que Isla teria um caso com Zac ou por passar a verdade na minha cara. Não queria pensar que ela teria ido até ali com Zac para transar, mas por que mais seria? Me senti traído, mesmo não tendo nada com ela.
— Ei, York. — Ravi chamou. — Dá uma olhada nisso.
Dei a volta e o encontrei nos fundos da cabana. O corpo de Mussolini estava cobrindo minha visão, então dei um passo para o lado e vi uma pichação na parede.
— S - 5 - 19 - 1 - 7 - 19 - E — eu li.
— Isso nem é tinta spray, parece canetinha. — Ravi falou olhando de mais perto.
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No Name
Ficção AdolescenteYork tinha duas fixações: encontar o primeiro nome perfeito e Amy Sophie Rhonda Green. Quando a segunda fixação decide o ajudar com a primeira, a monotonia de seus dias acaba se transformando em um caos, que o levará a se meter em situações bizarras...