Capítulo Sem Nome Quatro

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— Eu não acredito que sequestramos um bebê! — gritei, dirigindo a toda velocidade pela estrada vazia.

 Isla estava no banco de trás segurando a cadeirinha para que não caísse com o movimento. Pelo retrovisor, vi que ela estava olhando pela janela, pensativa.

— Isla! — chamei sua atenção.

— Foi uma saída de mestre! — comemorou, abrindo um sorriso. Seus olhos brilhavam de excitação. — Você foi demais abrindo passagem.

— Você me empurrou.

— Foi só um empurrãozinho. Pode ficar com toda a glória.

 Eu revirei os olhos.

— Temos que levá-lo até a polícia. Vamos ter que explicar o que fazíamos no cemitério, mas... — entrei na cidade, tentando lembrar onde estava a delegacia mais próxima.

— Não fique histérico, York, vai acordar o Alex.

Alex, “protetor do homem”, originado a partir do nome grego Aléxandros.

 Eu freei o carro no meio de um cruzamento vazio.

— Alex? Você deu um nome pra ele?!

— Ei, cuidado! — Isla reclamou voltando para seu lugar. O freio a havia jogado contra o banco. — Eu estava brincando, veja. — ela remexeu dentro da cadeirinha, então esticou o braço para que eu pudesse ver um celular.

 Eu movi o carro até o meio fio de uma loja fechada e me virei para encará-la.

— O que é isso?

— Meu celular. Não tem bebê nenhum, era só uma gravação.

 Eu a encarei por um minuto, esperando que ela puxasse um bebê de verdade de algum lugar, mas como isso não aconteceu, decidi eu mesmo procurar. Virei a cadeirinha para dar uma olhada. Estava vazia.

— Que merda...?

— Precisávamos de um teste para saber se você se encaixava no personagem, certo? Tom Sawyer é corajoso, mas acima de tudo é criativo. Queria ver qual seria sua conclusão ao ouvir um bebê chorando no meio da noite no cemitério. Você não fugiu, o que prova sua coragem, mas também caiu no óbvio. Pensou que fosse um bebê abandonado ao invés de passar por um milhão de alternativas que Tom certamente passaria. Então, Tom está fora da lista. — concluiu tão séria quanto um cientista eliminando uma hipótese.

 Eu liguei as informações por um minuto.

— Você me fez ir no meio da noite a um cemitério para ouvir uma gravação? — lembrei dela tirando algo do porta mala e da voltinha que deu sem mim. É claro, ela havia ido esconder a cadeirinha e o celular.

— Acho que me confundi na hora de colocar o alarme, acabou demorando muito.

 Eu continuei olhando-a incrédulo por um minuto antes de voltar a ligar o carro e nos levar para casa, sem encontrar qualquer outra coisa para dizer.




 Isla guardou a cadeirinha de bebê na garagem e se certificou que ninguém havia sequestrado sua irmãzinha enquanto dormia. O sr. e a sra. Green só chegariam bem mais tarde, e como a menina não teria aula, Isla faltaria o colégio para ficar com ela.

 Entrei pela minha janela em algum momento da madrugada. Tomei banho para me livrar de toda sujeira do cemitério, limpei o corte em minha mão e só então me enfiei na cama e apaguei. Quando acordei, algumas horas mais tarde, sentia que não havia dormido o suficiente, mas se arriscasse mais um cochilo, perderia a hora. Fui até a cozinha, encontrei torradas com suco e uma nota dos meus pais, avisando que já haviam saído para o hospital. Voltei para meu quarto, puxei uma cadeira para perto da TV e liguei o videogame para me manter desperto.

No NameOnde histórias criam vida. Descubra agora