Tia Grace descobriu que estava prestes a começar um episódio inédito de Law and Order, então se recusou a me levar para casa. Tive que usar minhas pernas, já muito desgastadas, para voltar. Passei pela porta da frente, já que duvidava conseguir entrar pela janela, antes das dez da noite.— Você perdeu o jantar. — mamãe falou zangada do sofá. Meu pai sequer desviou os olhos cansados da TV.
— Tive que terminar um... trabalho de geografia.
— Não deveria pular as horas das refeições, York.
— Eu sei, mãe. Vou fazer um sanduíche.
Mesmo sabendo que a qualquer momento Rhonda apareceria, eu não consegui ignorar a fome que ameaçava devorar meus órgãos internos. Preparei o sanduíche e comecei a devorá-lo enquanto caminhava para meu quarto. Infelizmente, para chegar até lá teria que passar pela sala e ter mais um pequeno diálogo com meus pais.
— Já vai dormir, querido?
— Sim, mãe.
— Tome um banho primeiro.
— Certo.
— Quer que eu vá trocar seus lençóis? Quando foi a última vez que os trocou?
Engoli uma mordida tão grande que minha garganta doeu.
— Eles estão limpos.
— Então, boa noite.
Finalmente consegui fugir para o quarto. Estava quase terminando o sanduíche, então atravessei o cômodo em direção ao banheiro. A luz acendeu, clareando tudo e me fazendo engasgar. Virei enquanto tossia e vi Rhonda com a mão no interruptor.
— Eu disse dez horas. — ela falou com um tom pouco amigável.
— São dez horas. — consegui colocar para fora.
— São dez e quinze.
— Uau, quinze minutos! — sentei na ponta da cama ainda sem ar.
— Quando eu elaboro meus planos, York, calculo cada minuto. Quinze minutos podem fazer a diferença entre realizarmos tudo com sucesso ou sermos parados pela polícia. — a cada palavra ela dava um passo em minha direção. No fim, se inclinou para que seus olhos estivessem na altura dos meus. — Então, colabore. — sussurrou.
— Sim, senhora! — disse, batendo continência.
— Tem tudo da lista?
— Talvez.
— E as jujubas?
Puxei um saquinho colorido do bolso e joguei pra ela. Havia encontrado um dólar na casa de tia Grace e o usei para comprar aquele item importantíssimo.
— Para que vamos usar jujubas?
— Você vai ver.
Revirei os olhos e fui até o armário, tirei de lá o único jeans escuro que possuía.
— E a jaqueta? — ela perguntou, me observando.
— Não consegui.
— Era importante!
— Mas nem está fazendo frio! — protestei. Vestir algo de couro era pedir para suar desnecessariamente.
— Você quem sabe. — ela deu de ombros, ainda irritada. — Mas, pelo amor de Deus, diga que conseguiu a identidade.
Puxei o documento e mostrei a ela.
— William Rosenberg? Por favor, não escolha esse nome para ser o seu legalmente.
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No Name
Novela JuvenilYork tinha duas fixações: encontar o primeiro nome perfeito e Amy Sophie Rhonda Green. Quando a segunda fixação decide o ajudar com a primeira, a monotonia de seus dias acaba se transformando em um caos, que o levará a se meter em situações bizarras...