Capítulo Sem Nome Quinze

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 Tia Grace descobriu que estava prestes a começar um episódio inédito de Law and Order, então se recusou a me levar para casa. Tive que usar minhas pernas, já muito desgastadas, para voltar. Passei pela porta da frente, já que duvidava conseguir entrar pela janela, antes das dez da noite.

— Você perdeu o jantar. — mamãe falou zangada do sofá. Meu pai sequer desviou os olhos cansados da TV.

— Tive que terminar um... trabalho de geografia.

— Não deveria pular as horas das refeições, York.

— Eu sei, mãe. Vou fazer um sanduíche.

 Mesmo sabendo que a qualquer momento Rhonda apareceria, eu não consegui ignorar a fome que ameaçava devorar meus órgãos internos. Preparei o sanduíche e comecei a devorá-lo enquanto caminhava para meu quarto. Infelizmente, para chegar até lá teria que passar pela sala e ter mais um pequeno diálogo com meus pais.

— Já vai dormir, querido?

— Sim, mãe.

— Tome um banho primeiro.

— Certo.

— Quer que eu vá trocar seus lençóis? Quando foi a última vez que os trocou?

 Engoli uma mordida tão grande que minha garganta doeu.

— Eles estão limpos.

— Então, boa noite.

 Finalmente consegui fugir para o quarto. Estava quase terminando o sanduíche, então atravessei o cômodo em direção ao banheiro. A luz acendeu, clareando tudo e me fazendo engasgar. Virei enquanto tossia e vi Rhonda com a mão no interruptor.

— Eu disse dez horas. — ela falou com um tom pouco amigável.

São dez horas. — consegui colocar para fora.

— São dez e quinze.

— Uau, quinze minutos! — sentei na ponta da cama ainda sem ar.

— Quando eu elaboro meus planos, York, calculo cada minuto. Quinze minutos podem fazer a diferença entre realizarmos tudo com sucesso ou sermos parados pela polícia. — a cada palavra ela dava um passo em minha direção. No fim, se inclinou para que seus olhos estivessem na altura dos meus. — Então, colabore. — sussurrou.

— Sim, senhora! — disse, batendo continência.

— Tem tudo da lista?

— Talvez.

— E as jujubas?

 Puxei um saquinho colorido do bolso e joguei pra ela. Havia encontrado um dólar na casa de tia Grace e o usei para comprar aquele item importantíssimo.

— Para que vamos usar jujubas?

— Você vai ver.

 Revirei os olhos e fui até o armário, tirei de lá o único jeans escuro que possuía.

— E a jaqueta? — ela perguntou, me observando.

— Não consegui.

— Era importante!

— Mas nem está fazendo frio! — protestei. Vestir algo de couro era pedir para suar desnecessariamente.

— Você quem sabe. — ela deu de ombros, ainda irritada. — Mas, pelo amor de Deus, diga que conseguiu a identidade.

 Puxei o documento e mostrei a ela.

— William Rosenberg? Por favor, não escolha esse nome para ser o seu legalmente.

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