— Você vai ser preso.
— Não vou.
— Na cadeia, jovens rapazes como você viram as namoradas dos veteranos por lá.
— A polícia não vai nos pegar.
— E eles dividem você com os outros, ou alugam por drogas e dinheiro. Não vai ser só um abusando do seu corpo magro.
— Não somos os primeiros a fazer isso.
— Sua garganta vai ser furada com um osso de galinha durante o sono.
— Cala a boca! — joguei a primeira coisa que encontrei em Ravi. Era o controle do videogame.
— Apenas estou constatando fatos. — ele se defendeu, massageando o ombro.
— Já disse que não vamos ser pegos.
— Como pode ter certeza?
Eu não tinha. Minha primeira reação ao ouvir o plano foi me negar a ir. Sabia que era loucura e que correríamos o risco de ser presos, mas ainda no Eureka percebi que queria fazer aquilo. Eu nunca fui um exemplo a seguir, mas sempre andei na linha. Minhas notas não eram as melhores, mas nunca fui reprovado. Eu fugi uma única vez para ir a uma festa, mas não bebi, não me droguei nem engravidei ninguém (se bem que para esse último eu precisava me envolver com uma menina, coisa que não aconteceu). Eu cuidava da minha irmãzinha durante os plantões dos meus pais e quase nunca precisava mentir para eles. No geral, eu era um bom filho e estava cansado daquilo. Eu tinha dezesseis anos, quando ia começar a me divertir? Quando tivesse quarenta e cinco, um emprego chato e uma ex-esposa?
Foi aquele pensamento que me fez caminhar até o endereço que Isla me deu para conseguir uma identidade falsa. Para não me sentir tão sujo, prometi que a queimaria no dia seguinte. Eu seria um completo idiota por gastar cem dólares em algo descartável, mas tudo por uma consciência tranquila.
— Será que posso ser culpado por associação por estar aqui com você? — Ravi perguntou quando paramos em frente ao endereço.
O prédio era alto, retangular e cinza. Havia uma porta de vidro e nenhuma janela.
— Provavelmente.
Entramos na recepção pequena. Um balcão de madeira, uma planta quase morta e um par de cadeiras decoravam o lugar. Não sabia qual fachada encobria a produção de documentos ilegais.
Ravi e eu paramos junto ao balcão e um grandalhão ruivo nos encarou de volta.
— Serviço A ou B? — perguntou.
Troquei um olhar com Ravi. Torcendo para que o serviço A fosse o disfarce legal e o B o ilegal, chutei no segundo.
— Certidão de óbito, papéis para divórcio, certidão de nascimento, passaportes ou identidade? — o gigante ruivo quis saber.
— Identidade.
— Duas?
— Apenas para mim. — falei.
— Uma foto, dados falsos e sua assinatura. — o grandalhão disse empurrando uma folha em branco. — Pagamento adiantado.
Peguei uma foto recente em minha carteira e o dinheiro.
— Como eu vou me chamar? — perguntei para Ravi.
— Que tal Harry Sotter?
Balancei a cabeça e escrevi William Rosenberg na folha.
— Quatro de julho? — o indiano perguntou ao ver a data de nascimento que escolhi.
— É a independência dos Estados Unidos, não vou esquecer caso alguém pergunte.
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No Name
Teen FictionYork tinha duas fixações: encontar o primeiro nome perfeito e Amy Sophie Rhonda Green. Quando a segunda fixação decide o ajudar com a primeira, a monotonia de seus dias acaba se transformando em um caos, que o levará a se meter em situações bizarras...