Capítulo Sem Nome Vinte e Um

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 A única coisa que meu cérebro congelado conseguiu produzir por um longo minuto foi um zumbido, nada mais. Depois minha capacidade de pensar voltou com força total, como a transbordação de uma represa.

 Willow era o Terceiro Olho? Willow? Não, aquilo era impossível. Eu a conhecia desde sempre, depois de Ravi era minha melhor amiga, eu saberia se ela fosse o maior fofoqueiro da escola. Mas não tinha como negar. Ali estava ela, parada na cena do crime, na pele do criminoso. De uma coisa eu sempre tive certeza: o Terceiro Olho poderia ser qualquer um. Por que não Willow?

 Lembrei de quando havia me passado pelo Terceiro Olho e ela se mostrou segura de que era um impostor antes mesmo de saber que era eu. Quem sempre quis pegar um podre de Rhonda para humilhá-la? O Terceiro Olho. E quem odiava Rhonda com toda a força de seu ser? Willow. Eu tinha me perguntado como o fofoqueiro soube que Rhonda e eu estaríamos na Esquina dos Desesperados, ele sabia porque estava dentro do carro quando Rhonda me falou sobre o plano, Willow estava dirigindo. Como eu não percebi antes? Ela começou a se interessar pelos meus planos com Isla desde o começo, como quando me convidou para a reunião do AFPM, se livrou do Ravi e me tirou algumas informações. E não foi ela a primeira pessoa para quem soltei o falso caso de Rhonda? Me preocupei em espalhar o boato para chegar até o Terceiro Olho quando eu mesmo lhe dei a informação em primeira mão.

 Era ela, sempre foi ela. O safado do Terceiro Olho, que revelou centenas de intimidades por quase três anos esteve sempre ao meu lado. Tia Grace tinha razão mais uma vez. Eu estava procurando um culpado em Singapura enquanto ele estava nos Estados Unidos. Eu o busquei ao longe, entre a multidão, e ele estava bem aqui, no meu círculo de confiança.


 É claro que Willow correu, quem não correria? Os outros alunos acabaram por juntar as peças rapidamente e um deles levantou gritando a plenos pulmões:

— Ela é o Terceiro Olho!

 Como se fossem comandados por um único cérebro, todos levantaram e gritaram ofensas juntos. Willow desapareceu antes de ser lixada. Ravi e eu éramos os únicos sentados e em silêncio. Virei para olhá-lo e vi os mesmos sentimentos conflitantes que sentia refletidos nele.

— Temos que sair daqui. — falei quando me surgiu um novo pensamento.

— Por quê? — Ravi parecia ainda estar preso em seus pensamentos, ainda tentando encontrar uma desculpa, algo que provasse que não era nossa amiga ali, que era uma confusão.

— Somos os melhores amigos dela, ou éramos, vão pensar que sabíamos de tudo.

 A ideia de que aquela massa raivosa se voltasse contra nós o fez sair do estupor. Deixamos o teatro sem chamar a atenção. Não corremos quando as portas se fecharam nas nossas costas, não tínhamos energia para aquilo.


— Eu não posso acreditar. — Ravi falou pela décima vez.

 Estávamos no quarto dele. O indiano deitado na cama de cima e eu sentado na escrivaninha que ficava onde deveria estar a cama de baixo da beliche. Por meia hora as únicas frases que soltamos foram: “Não posso acreditar”, “Como não percebemos antes?” e “Meu Deus”.

— Eles vão matá-la, vão enforcá-la no pátio do Eureka e amarrar o corpo na cesta de basquete. — Ravi disse.

— É, algo assim.

— Temos que ajudar..

— Ela nos traiu, como traiu a todos. — meu tom não estava zangado, mas totalmente livre de emoções. Eu não sabia o que pensar ou sentir.

— O Terceiro Olho nunca revelou algo nosso. Ela nos protegeu.

— Até o momento que colocou a polícia na minha cola.

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