Capítulo Sem Nome Três

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— Aqui? — perguntei e, admito, minha voz saiu um pouquinho estridente.

— Sim. Agora preciso que você fique no carro até que eu volte. — Isla tirou o cinto de segurança e abriu a porta, com a mesma tranquilidade de quem estaria indo dar uma volta no bairro.

— Aonde você vai? — quis saber, tirando o cinto também.

— Preciso fazer uma coisa. Fique aqui. — ela pegou um canivete no porta-luvas e pulou para fora do carro. Eu me apressei em sair.

— Ei, Isla, onde você vai? Não vou ficar aqui sozinho.

— É só por um minuto, York. — ela deu a volta até a traseira do carro, abriu o porta mala e olhou para mim. — Vamos, entre no carro, eu já volto.

— O que você tem aí?

— Algo que preciso me livrar.

 O que diabos ela tinha para descartar em um cemitério? Quis perguntar, mas senti uma pontada de medo. Queria ir para casa.

 Nos olhamos por mais um minuto até que decidi entrar no carro. Escutei Isla fechar o porta mala, mas quando a procurei pelos retrovisores não a encontrei no escuro. Tamborilei com os dedos no painel do carro. Tudo estava completamente escuro, sem lua. Como ela teve coragem de sair por aí sozinha?

 Os minutos no painel voaram. Dez minutos, depois quinze e nada. Eu olhava para todas as direções a cada cinco minutos, esperando que alguém ou alguma coisa aparecesse para me matar. Todos os filmes de terror que vi na vida passaram pela minha cabeça. Quando se aproximava dos vinte minutos desde que Isla saiu, três batidinhas em minha janela me fizeram gritar a plenos pulmões. Depois de um segundo sem batimentos cardíacos, vi que era ela. Abri a porta e saí para o ar frio.

— Você... me... assustou. — reclamei, recuperando o fôlego. — E demorou.

— Desculpe, pelos dois. — falou, me olhando meio preocupada. — Você está bem? Vai desmaiar?

— O quê? Não, não. Eu estou bem. — esperava que a escuridão cobrisse meu rosto vermelho. Por que eu tive que gritar daquele jeito?

—  Eu encontrei uma entrada por ali.

— Vamos entrar?

— Você tem medo dos mortos, York? — Isla perguntou, com a sombra de um sorriso nos lábios.

 Sim, eu tinha. Minha opinião era clara: não se deve mexer com os que já se foram, ainda mais em seu local de descanso.

— Não, mas isso deve ser ilegal.

— Você não tem nenhum familiar aqui?

— Meus avós.

— Ninguém pode te proibir de visitar seus avós, pode? Além do mais ninguém vai nos pegar.

 Sem esperar por minha resposta, ela começou a andar junto ao muro do cemitério e eu, como um cachorro que não consegue não perseguir o próprio rabo, mesmo sabendo que é idiotice e que nunca o alcançaria, a segui de perto. Acompanhamos todo o comprimento até que o muro virou para a esquerda. Isla continuou sorrateiramente enquanto eu tropeçava em garrafas vazias, em pedras soltas e em meus próprios pés.

— Aqui está. — ela parou em frente a um pedaço de madeira grande, parecido com uma porta, jogada no chão. Sobre ela um buraco dava entrada ao cemitério.

 Só de olhar para os túmulos um calafrio percorreu todo meu corpo, como se o frio houvesse aumentado. Isla passou agachada pelo buraco e se virou para mim.

— Vamos, entre e me ajude a levantar a madeira.

 Obedeci, passando para dentro, depois agarrei de um lado a madeira e a ergui, com Isla puxando na outra ponta.

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