Capítulo 24

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Larissa

Acho que escutei errado. Espero ele falar mais alguma coisa mas nada, ele fica em silêncio.

- Tyler...

- Eu não quero falar disso por favor.

- Me conta.

Sinto o coração dele acelerar embaixo da minha cabeça. Por favor que não seja o que ele disse! Mesmo com todos os defeitos dele não posso imaginar que ele tenha matado alguém.

- Tyler, não acredito no que você disse. Essa tatuagem me diz que você tinha muito amor por ele.

- Jason. O nome dele era Jason.

Tyler fecha os olhos, vejo seu lindo rosto se transformar em uma máscara de dor.

- O que houve?

Ele aperta os olhos antes de responder de forma contrariada.

- Ele morreu. Isso que aconteceu.

Sem abrir os olhos ele continua.

- Eu cresci no Texas. Passava as férias no Havaí onde meu tio morava com Jason.
Aprendi a surfar com eles. Eles eram minha família. Uma que gostava de mim.

Um bolo se forma na minha garganta com as palavras dele.

- Quando nós entravámos no mar, eu me sentia livre. Me sentia parte de algo. Jason conhecia o Mar. Melhor do que eu.
Um dia com o mar revoltado as ondas ficaram gigantes. Eu quis entrar na água. Jason não quis. Eu briguei com ele, o desafiei e disse que entraria sozinho mesmo.
E fiz isso. Jason me seguiu, ele não me deixaria sozinho. Ele era assim.
Conseguimos chegar as ondas. As maiores que eu já vi. Eu fiquei com medo. Jason foi na minha frente, ele desceu a onda, mas errou o tempo.
Eu vi, ele olhar pra trás. Ele sabia o que aconteceria. A onda quebrou em cima dele. Eu fiquei louco, nadei atrás dele, mas com as outras ondas quebrando ,não conseguia alcançá-lo!

- Tyler..- levo a mão ao seu rosto, num gesto de consolo.

Ele esquiva do toque antes de continuar.

- Acabei voltando a praia, acionei o resgate, e voltei para o mar. Passei horas procurando ele. No fim meu tio entrou na água para me buscar, ele disse que não queria perder nós dois.
No outro dia, achamos a pracha dele na praia. Nunca achamos Jason. Tínhamos 14 anos.

- Eu sinto muito. Tyler, sinto muito.

- Eu matei ele! Larissa você entende? Que é minha culpa??.... Eu matei ele.

Sinto a dor dele. Sinto de verdade.quando perdi minha mãe, achei que meu coração fosse se dilacerar.

- Não foi sua culpa, foi um acidente.

Ele inspira fundo.

- Foi sim, eu já aceitei isso. Ele não teria entrado se eu não tivesse insistido em ir. Jamais vou me perdoar. Fui embora de lá e nunca mais voltei para ver o meu tio. Matei o filho dele e não tenho coragem de olhá-lo nos olhos.

Fico em silêncio. Não foi culpa dele, foi um acidente. Tyler é daquelas pessoas que prefere carregar a cruz sozinho.

- Não foi sua culpa. E você está sendo um idiota.

Recebo um olhar incrédulo mas con tinuo.

- Está sim. Você era um menino. Vocês eram. Infelizmente o mar o quis. Foi a hora dele. Você devia honrá-lo e viver a melhor vida possível, por ele. Pra ele. Tenho certeza que o olhar que ele te deu antes de ser levado, foi para ter certeza que você estava bem.

- Para.

- Não vou parar por que você precisa ouvir. Seu tio disse que não queria perder os dois. Mas ele perdeu. Você devia estar lá para o seu tio mas preferiu fugir.

Tyler tenta se levantar, mas eu o empurro de volta.

- Não vou deixar você fugir daqui também. Escuta, eu sei que dói. Mas você precisa superar. Olha pra mim, quer saber o que me aconteceu?

- Eu sei o que aconteceu.

Olho em seus olhos e não vejo mentira.

- Como..?

- Meu pai.

Claro. Ricardo teve acesso a minha ficha. A vergonha toma conta de mim.

Tyler sabe.

- O que você sabe?

- Aquilo que estava na sua ficha.

Ele passa os dedos, por cima da marca em minha barriga. Sei o que ele quer saber.

- Eu estava na rua. Eu sentia muita fome. Tyler era tão difícil.

Sinto as lágrimas encherem meus olhos. Mas luto para não deixá-las cair.

- Conheci um cara na rua, ele me ofereceu um trabalho em um bar, eu devia ficar na porta chamando alguns clientes. Em troca receberia algum dinheiro. Eu poderia comprar alguma comida, então aceitei. Era um lugar horrível, os homens ficavam bêbados, caiam na minha frente, levavam prostitutas. Eles mexiam comigo. No terceiro dia, um deles me agarrou, eu consegui me soltar, mas o dono do bar que me contratou ficou bravo, disse que eu devia agradar os clientes. Ele me deu um tapa na cara, eu não aguentei e revidei com outro tapa. Isso deixou ele fora de si, ele pegou uma garrafa em cima de uma das mesas e jogou em mim. Eu desviei e ela se partiu na parede. Ele parecia louco, veio pra cima de mim, tentou tirar minha roupa. As pessoas na volta assistiam. Ninguém me ajudou.

Não consigo conter e as lágrimas descem pelo meu rosto.

- Eu me debatia demais, então ele começou a me bater, com socos e tapas. Antes que eu perdesse a consciência dei um chute no meio das pernas dele. Ele gritou com a dor, agarrou a garrafa quebrada e enfiou na minha barriga. Foi uma dor horrível. Ele saiu de cima de mim rindo. Uma mulher veio me ajudar. Me tirou de lá. Ela era da rua também, cuidou como pode de mim. No fim o conselho tutelar me achou.

- Larissa.

Tyler passa a mão pela minha barriga.

- Você podia ter morrido, pelo ferimento, por perder muito sangue. Podia ter morrido. E eu nunca teria te encontrado.

- Mas não morri. Estou aqui. E você me ajudou a reencontrar minha força.
Eu estava perdida dentro de mim, e você fez eu me achar.

- Vôcê é forte. Foi a primeira coisa que eu soube Larissa de você.

Deito a cabeça novamente no braço dele. Nunca estivemos mais próximos. Tyler abriu um pouco do seu coração para mim. Sinto o peso do fardo dele agora em mim. Mas sinto o peso do meu aliviar depois de dividir com ele minha história.

Não falamos mais nada. O silêncio nos acolhe, termino adormecendo, nos braços dele.









TYLER - Livro 1 Série - Broken Ice - CONCLUÍDA-Onde histórias criam vida. Descubra agora