Capítulo XXVIII - A chegada

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Theo acordou assustado, sem fôlego. Sentou-se na cama rapidamente, a respiração acelerada e olhou para a cama do lado. Estava vazia. Claro que estava, Pietro estava viajando há vários dias. Todavia, o menino tinha certeza que ouvira o amigo chamá-lo.

- Foi um sonho. - disse para si mesmo – Sonhei com Pietro.

Mas o que sonhara? Não lembrava. Só sentia a angústia que o sonho lhe deixara.

O sol entrava pela janela e Theo jogou os lençóis para o lado. Já era manhã e preferia se levantar a tentar dormir e ter outro pesadelo. Vestiu-se e desceu as escadas.

Desde a reforma, Theo dividia um quarto com Pietro. Era ele também quem ajudava com as necessidades do menino, agora que Pandora trabalhava. No começo Pietro ficava com vergonha, mas agora eram como irmãos e ele já não se importava em ter ajuda no banho, nem para se trocar. Perguntava-se como Pietro voltaria daquela viagem. Lina lhe dissera que ele não cultivasse as esperanças que veria o amigo andar, porque a doença já havia tirado a mobilidade de Pietro há muito tempo. Todavia, Theo era um otimista. Sonhava em ver Pietro entrar na casa andando e os dois poderem treinar espadas, como era o sonho do outro, e se tornarem guerreiros, juntos. Ou paladinos. Theo estava pensando muito na sugestão de Vincent.

Era nisso que pensava quando foi até o quintal, cesta na mão, para recolher os ovos. A tarefa era dele desde que uma das galinhas bicara Pandora e a jovem, com raiva, quase estrangulara a ave. Theo tinha o jeito de colocar a mão embaixo delas e tirar os ovos antes que percebessem. E assim ele fez naquela manhã. Recolheu meia dúzia de ovos, todos de bom tamanho, e os levou para a cozinha. Pegou a chaleira e voltou ao quintal, usando a bomba d'água para enchê-la e levá-la para o fogão. Acendeu o fogo e deixou a chaleira fervendo a água. Enquanto isso, pegou a massa de pão que sua mãe deixara crescendo no dia anterior e pôs no forno, para assar. Sentou-se e esperava a água ferver quando Lina entrou na cozinha e olhou para o fogão aceso.

- Sua mãe não gosta quando você acende o fogão sozinho. - disse seriamente, encarando-o.

- Mas eu sei acender!

- Não estou dizendo que você não sabe, apenas que não devia. - ela sorriu – Mas não vou contar a ela, o humor de Doroteya já está ruim o suficiente. - e vendo a expressão séria do garoto, perguntou – Algum problema, Theo?

- Estou com saudades do Pietro. - disse o menino.

Lina sorriu, compreensiva.

- Eu também. Sinto saudades até de Pandora me enchendo o saco. Aqueles dois fazem falta.

Lina entendia que, para Theo, a ausência de Pandora e Pietro era maior. Os três eram bem unidos, principalmente os dois meninos. Sabia que os dois sentiam-se como irmãos. Pandora e Pietro tinham irmãos mais velhos, mas Lina tinha a impressão que Theo era mais irmão deles que os outros. Theo não apenas ajudava a cuidar de Pietro; ele se importava com os sentimentos dele, tentando fazer com que a deficiência atrapalhasse o mínimo possível a sua vida. E, sempre nas folgas, Pandora levava os dois para nadar na praia, ou passear pela cidade, qualquer coisa que os divertissem. Lina sabia que, quando o bebê chegasse, mesmo a receosa Pandora se desdobraria de amor e cuidado com o novo Wood. Já podia imaginar Pietro com o novo priminho ou priminha no colo enquanto Theo empurrava os dois em alguma ladeira. Doroteya ficaria louca.

- Os dias vão passar rápidos, você vai ver. - consolou Lina se encaminhando até a despensa – Quando você menos esperar, aqueles dois estarão de volta.

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