Capítulo XX - A proposta

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Saba pegou o balde cheio mais uma vez e encheu a última tina de água do estábulo. Depois, depositou o objeto no chão e sentou-se em um banco de madeira próximo. O dia estava muito quente e a menina enxugou o suor com as costas da mão. Nem parecia que na noite anterior havia chovido sobre a cidade de Orgrimmar. Era sempre assim: chovia e fazia frio a noite e no dia seguinte o clima já estava escaldante de novo. Mas o calor excessivo não era o motivo do semblante cansado de Saba.

A noite anterior fora horrível. Apesar de ter sido recebida em casa com festa pelos pais e ter tido o dia de folga para matar a saudade, não conseguira dormir a noite. Quando se deitara, ficara triste pensando na saudade que sentia de Karen e chorara em silêncio por um bom tempo. Depois, quando o barulho da chuva batendo no teto a embalara no sono, fora aterrorizada por um terrível pesadelo. Acordou gritando e assustou os pais. Estava tão desconcertada que não falou o que sonhara e, apesar de garantir aos pais que estava tudo bem, não pregou o olho no resto da noite. E agora, estava cansada e bocejando, desejando faltar a aula na Academia Militar. Duvidava que fosse conseguir fazer qualquer coisa.

E queria escrever para Karen. Tinha certeza que, para ela, conseguiria falar.

- Saba! - ouviu sua mãe gritando da estalagem – Venha aqui! Rápido!

A pequena orquisa gemeu, já prevendo o trabalho pesado que viria e se levantou. Caminhou o mais devagar que pode, tentando retardar o que quer que tivesse que fazer.

Quando chegou ao salão da estalagem, notou que seus pais estavam sentados com uma terceira pessoa que ela nunca vira. Era uma orquisa usando um longo vestido de couro, com os cabelos em dois coques cheios e o resto da cabeça calva. Em sua mão ostentava uma clava branca e ao lado da cadeira havia um escudo. Saba a reconheceu como uma xamã. Seria alguma parente de seus pais?

- Ai está ela! - exclamou a mãe de Saba, ansiosa.

A menina franziu a testa e se aproximou lentamente. Nunca vira seus pais a olharem tão apaixonadamente. E quando seus olhos cruzaram com a da xamã, sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

- Que menina robusta e forte! - elogiou a xamã – Quantos verões?

- Nove. - disse seu pai com o peito estufado de orgulho – Mas parece ter mais, não é?

- Sim, é verdade. - concordou a xamã e Saba, sem entender porque, tinha certeza que ela estava falando a verdade. E se dirigindo a ela, perguntou – Seu nome é Saba, não é?

Saba apenas confirmou com a cabeça.

A xamã riu.

- Não tenha medo, criança. Aproxime-se.

Saba aproximou-se lentamente, sem entender porque seus pais pareciam tão felizes. Quando estava de pé em frente a xamã, esta segurou seu rosto delicadamente e olhou dentro de seus olhos. A menina sentiu como se ela estivesse analisando sua alma.

- Sim, sim. É ela.

Seus pais bateram as mãos e os pés de felicidade e Saba apenas os olhou, sem entender.

- Diga-me, Saba. – falou a xamã atraindo a atenção da menina – Você tem tido sonhos estranhos?

As imagens da noite anterior voltaram a sua mente e Saba deu um passo para trás e cobriu o rosto. Não, não queria lembrar. Ouviu as cadeiras onde seus pais estavam sendo afastadas, mas então eles pararam. Provavelmente a xamã pedira calma aos dois, pois logo em seguida ela colocou as mãos nos ombros da menina.

- Não precisa ter medo, pequenina. Só me responda: o de ontem foi o único?

Saba fez que não com a cabeça.

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