Capítulo XXV - Ecos do passado (Parte IV)

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Phomiga e Potinhodemel mal podiam acreditar no que estavam vendo. Parada, na porta da casa deles, uma sorridente Lina, acompanhada de seu urso, exibia seu documento de alistamento do exército de Ventobravo como se fosse um troféu.

- Eu consegui! – disse a menina animada.

Foram necessários alguns segundos para que então os irmãos abrissem um sorriso e a abraçassem com força.

- Ah, nossa bebê conseguiu, Mel! – exclamou Fey, entre lágrimas.

- Eu sabia que ela ia conseguir! – Mel parecia que ai explodir de felicidade enquanto a apertava – Sabia sim! Ninguém rejeitaria essa cabecinha de bigorna fácil! – e afastando do abraço deu uma boa olhada nela – Argh! Você está podre de suja! Vai logo tomar um banho!

- Mas eu tô com fome! – protestou Lina.

- Primeiro banho, depois comida.

Lina ainda pensou em questionar, em fazer um escândalo daqueles que só ela podia dar e convenceria os irmãos, mas estava animada demais para isso. E também estava exausta. Deixou-se ser carregada para dentro da pequena casa, junto com Vicious e tomou um bom banho numa banheira improvisada com um barril, enquanto um de seus irmãos a esfregavam e o outro preparava sua comida na cozinha. Naquela época, dez anos antes de Doroteya entrar na vida dos irmãos, a casa, além de alugada, era bem simples. Não tinha o segundo andar e o quintal era apenas um jardim morto que Mel e Fey sempre diziam que iam arrumar. Só anos depois de Lina se mudar para lá foi que os irmãos a compraram e começaram as reformas.

- Pronto Quenguinha, a comida tá pronta! – anunciou Mel depois que a vestiu em um pijama rosa e a colocou sentada na mesa da cozinha.

- Sua sorte é que estou morrendo de fome, ou eu ia quebrar sua cara por me chamar assim! – ameaçou antes de começar a comer com vontade.

Os irmãos riram, sem levar a sério a ameaça dela. Logo, Lina já tinha comido um prato cheio de comida e começava o segundo, se empanturrando sem nenhum constrangimento. Quando ela parou um pouco para respirar, Fey franziu a testa e disse:

- Precisa melhorar seus modos à mesa, senhorita.

- Eu não preciso de modos. – disse ela depois de soltar um sonoro arroto – Sou uma soldado!

- E se um dia você for convidada a jantar com o rei? – questionou Mel – Vai comer assim?

- Eu nunca vou jantar com o rei. – riu-se ela – Me poupem.

Os três riram e Lina decidiu que era hora de partir para a sobremesa. Pegou um generoso pedaço do bolo de chocolate e comeu, enchendo a boca e dando um sorriso com as bochechas cheias.

- Agora nos diga, Quenguinha, como você convenceu o papai a deixar você se alistar? – quis saber Fey.

- Ele não deixou. – falou Lina com a boca cheia de bolo – Eu fugi de casa. – completou com simplicidade.

Por um momento os irmãos ficaram calados, esperando que Lina começasse a rir e dissesse que era uma piada. Porém, a jovem continuou massacrando o pedaço de bolo com os dentes e os irmãos perceberam que era verdade. E então gritaram.

- Aff, não precisa desse escândalo. – disse Lina coçando o ouvido com uma careta – Vão me deixar surda.

- Você fugiu de casa!? – Mel colocou as duas mãos no peito – Como você fez isso?

Herdeiros da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora