Capítulo I - A bela e a fera

307 12 1
                                    


O vento quente cortava a estrada como se fosse uma navalha. Era difícil manter a montaria no curso certo, já que a todo instante uma nova rajada de poeira dificultava a visão e empurrava-a para a beira da estrada. O sol brilhava impiedoso sobre as planícies desérticas de Durotar, desanimando todos os viajantes que ousavam atravessar aquelas paisagens. Por isso, quando viu os portões de Orgrimmar se erguendo como um gigantesco monumento de aço e ferro no meio daquelas terras alaranjadas, Kassyeh quase chorou de alívio.

A viagem tinha sido mais extenuante que qualquer outra que fizera. Sua falcoztruz, Lola, mal conseguia manter o mesmo ritmo de viagem, também sofrendo os efeitos do calor e das muitas batalhas pelas quais passara. E aninhado em seu colo, tentando não cair da cela a cada golfada do vento, estava seu tigrinho de Hibérnia, Hotch, com certeza o ser que mais sofria com a situação. O coração da elfa sangrenta se apertou. Apesar de também estar ferida e cansada, Kassyeh temia muito mais por Hotch e Lola do que por ela mesma. Por isso, bateu os pés levemente do lado de sua montaria, quase pedindo desculpas por aquele gesto.

- Só mais um pouquinho Lola... – murmurou para a falcoztruz – Estamos chegando...

Lola soltou um piado como se compreendesse o que sua dona dizia e apressou a cavalgada até os portões de Orgrimmar.

Foi uma alegria imensa ver os mesmos rostos de sempre no portão. Era quase como se sentir em casa. Cumprimentou-os mais animada do que realmente estava e eles responderam com entusiasmo. Com certeza o faziam para animar todo viajante que chegava exausto depois de atravessar a planície.

A cidade estava cheia, como sempre. Cidadãos e soldados se misturavam naquele mar feito de areia e aço, cada um seguindo seu próprio caminho, ainda que a bandeira tremulante da Horda acima de suas cabeças lembrasse a todos que, independente do que cada um queria para si, havia algo muito maior pelo que lutar.

Mas não era naquilo que Kassyeh pensava naquele momento. Saiu da rua principal em busca da sua já conhecida hospedaria, pronta para um descanso bem merecido. Logo que chegou do lado do estabelecimento, uma pequena orquisa correu em sua direção, com um sorriso ansioso na face.

- Kassyeh! – exclamou ela – Que bom que você voltou!

A menina era pequena e rechonchuda, com os longos cabelos negros trançados ao redor da cabeça. Suas presas eram delicadas e mal apareciam entre os lábios. Kassyeh sabia que ao se tornar uma soldado, aqueles belos e espessos cabelos seriam cortados fora de um jeito que não atrapalhassem a luta. As orquisas eram bem mais práticas que sua raça nesse aspecto.

- Então Saba, - começou Kassyeh desmontando cuidadosamente com Hotch no colo enquanto passava as rédeas de Lola para a menina – Já entrou na Academia Militar?

- Sim, sim! – respondeu Saba com empolgação – Eu sou a menorzinha da turma, mas já mostrei muito bem que serei uma grande guerreira! – a menina se impregnou quando falou isso – Eu lido melhor com os lobos que todas as outras!

- Ah, isso é muito bom. Então vamos fazer assim: eu lhe dou essa moeda de ouro para você cuidar da Lola e, se você caprichar, deixo você cavalgar ela um pouco.

Os olhos da menina brilharam de emoção ao pegar a moeda dourada. Kassyeh sabia muito bem que a maioria dos que paravam ali jogavam poucos cobres ou nenhum para a menina que sempre se esforça para dar o melhor de si pelos animais que guardava. Com aquela moeda de ouro, Saba poderia comprar um equipamento melhor que suas rivais, quando chegasse a hora. E apesar de adorar dizer que seria guerreira, todos sabiam que a empatia que sentia pelos animais acabaria direcionando a pequena para a profissão de caçadora.

Herdeiros da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora